"A gente acorda chorando": parente busca por 6 desaparecidos da mesma família no RS

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A pior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, e que já causa impacto para cerca de 2 milhões de pessoas, impõe às vítimas a necessidade de conviverem com diferentes camadas de tristeza. Em alguns casos, a dor de perder a própria casa e reconstruir a vida aos 60 anos se mistura com a angústia de não encontrar parentes desaparecidos.

O agricultor Nilvaldino Brino, de 59 anos, sobrinho de Elírio e Erica Brino, ambos de 78 anos, passa por isso. Ele estava na granja dos tios, em uma comunidade rural de Roca Sales, pouco antes de um deslizamento de terra deixar toda a fazenda e seus parentes soterrados sob uma grande quantidade de lama.

O trágico episódio aconteceu no dia 30 de abril, por volta das 15h30. Já chovia forte na ocasião e ele tinha ido ajudar os parentes a desobstruir uma tubulação que estava entupida por conta das chuvas.

"Não deu cinco minutos. Eu cheguei em casa, guardei o trator e ai escutei um estouro. Parecia um avião caindo. Eu a minha mulher vimos a terra, a lama, descendo de (uma altura de) uns 40 metros, ou até mais. Aí gente saiu correndo", lembra Nivaldino, que precisou se mudar para a casa dos filhos, em Muçum, cidade que fica ao lado de Roca Sales.

Seis pessoas estavam na casa no momento do deslizamento. Uma das vítimas é Gabriela Brino, de 9 anos. Ela era afilhada de Nivaldino, que ministrava aulas de catequese para a menina e para outras crianças da comunidade local.

Além dela, foram vítimas também a irmã, Maria Eduarda Brino, de 20 anos; os pais delas, Dorli, de 52, e Janice, de 49 anos, e também os avós, Elírio e Érica Brino, ambos de 78 anos - tios de Nivaldino. A granja onde todos os seis viviam, diz o agricultor à reportagem, foi construída pelo seu avô, pai de Elírio, há mais de um século.

Hoje, os seis configuram na lista de desaparecidos que a Defesa Civil do Estado divulga para informar quantas e quem são as principais vítimas das chuvas que assolam as cidades gaúchas desde o final de abril. Ao todo, são 125 vítimas nestas condições.

De acordo com o Corpo de Bombeiros e a Prefeitura da cidade, o local do deslizamento tem pontos de até 10 metros de terra encharcada, e os impactos da chuva na região dificulta o acesso de máquinas que possam fazer a retirada da lama.

Roca Sales foi fortemente atingida pelas atuais enchentes - são 3 óbitos e 12 desaparecidos até o último levantamento. A cidade é um dos quatro municípios gaúchos, ao lado de Barra do Rio Azul, Muçum e Cruzeiro do Sul, que planeja reconstruir os bairros devastados em outros locais, em endereços que são considerados menos vulneráveis aos eventos climáticos extremos.

A propriedade de Nivaldino não chegou a ser completamente atingida pelo deslizamento. A terra passou pelo lado e ele perdeu alguns maquinários. Mesmo assim, o terreno precisou ser interditado pela Defesa Civil e pelos Bombeiros, sob o risco de um novo colapso.

Sem poder voltar para casa, onde até o deslizamento mantinha uma produção de frutas, ele segue esperando pela localização dos seus familiares. Ele admite, porém, que as chances de serem encontrados com vida, mais de 10 dias do desmoronamento, são praticamente impossíveis.

"É uma dor muito grande. Não temos cabeça, outra função, senão encontrar os familiares. Ao menos para dar um sepultamento digno e minimizar um pouco a nossa dor. Eles merecem", lamenta com a voz embagada. "A gente quase não dorme. Às vezes, eu e minha mulher acordamos e estão os dois chorando. É muito difícil", diz o agricultor.

De acordo com o balanço da Defesa Civil, divulgado neste sábado, 11, ao todo são 136 óbitos confirmados e 2 milhões de pessoas impactadas pela tragédia ambiental, que atingiu 445 cidades do território gaúcho, de 497 ao todo. Mais de 400 mil pessoas tiveram que deixar as suas casas - são 71,3 mil abrigadas e 339,9 mil desalojadas.

De acordo com o motorista de caminhão Adriano Luiz da Silva, casado com uma das filhas de Elírio e Erica, o resgate da família do sogro, até esta semana, estava sendo feito por poucas pessoas para o tamanho de terra que se acumula sobre a casa. "Para aquele desmoronamento enorme, os caras não conseguem fazer nada. Precisa de reforço", diz.

Ele afirma que a família conversou com um tenente do Corpo de Bombeiros na última quinta, 9, em Roca Sales. E foi repassado aos parentes que as buscas pela família Brino serão intensificadas assim que as condições climáticas melhorarem.

"Ele nos disse que foi necessário fazer um mapeamento da área, um estudo geológico do terreno, porque tem locais com até 10 metros de lama", afirmou. "Ele nos disse que é um trabalho sem garantias. Mas vai com força total assim que o tempo melhorar", disse à reportagem.

O prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana (MDB), lamentou a situação. Ele explicou que a demora pela buscas se deve a uma cautela em razão do grande volume de terra molhada no local. "Tem massa de terra com mais de 10 metros. É perigoso fazer o resgate", disse.

Ele afirmou que, com a melhora das condições climáticas, será possível chegar ao local com máquinas para ajudar nas buscas. "Usar só as mãos é impossível, é uma massa muito grande. Seriam meses de trabalho".

À reportagem, o tenente do Corpo de Bombeiros Evandro Leal afirmou que sua equipe foi até a propriedade da família Brino e que inspecionaram "in loco as condições". "Estamos realizando estudos para delinear uma estratégia de trabalho com segurança", afirmou.

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Na semana passada, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou o recolhimento do livro Diário da Cadeia, de Ricardo Lísias, publicado sob o pseudônimo de Eduardo Cunha. O livro saiu pela Editora Record, em 2017 e já está esgotado na editora.

Nesta terça-feira, 21, o escritor constituiu advogados que vão recorrer da decisão. Em nota, o escritório Flora, Matheus e Mangabeira, do Rio de Janeiro, informou que apresentará recurso nos próximos dias.

"Comunicamos que, a partir dessa data, assumimos a defesa do escritor Ricardo Lísias no âmbito do processo judicial onde se discute a possível censura da obra ficcional Diário da cadeia. Estamos certos da importância do caso para a consolidação da ampla liberdade de expressão e artística no Brasil", diz a nota.

Os advogados Lucas Mourão, André Matheus e Diogo Flora, que assinam o comunicado, informam que, no recurso, vão se basear "nos mais consolidados parâmetros de proteção à liberdade de expressão e liberdade artística consagrados tanto internacionalmente quanto pela jurisprudência do próprio Supremo Tribunal Federal, a fim de proteger não só o direito do nosso cliente, mas também toda sorte de trabalhos artísticos controversos, experimentais e satíricos, sobretudo quando dizem respeito a assuntos de interesse público".

Entenda o caso

Quando Lísias publicou Diário da Cadeia, o ex-deputado Eduardo Cunha estava preso preventivamente, acusado de exigir e receber US$ 5 milhões em propina em contratos de construção de navios-sonda da Petrobras.

Na época, o ex-parlamentar entrou na Justiça pedindo o recolhimento do livro, sob o argumento de que o título e a assinatura levariam o público ao erro, ao dar a impressão de que ele seria o verdadeiro autor da obra.

Em 2020, Cunha venceu em primeira instância, mas a decisão foi revista pelos desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que entenderam se tratar de uma criação artística, portanto, não podendo ser censurada.

O caso foi, então, parar no STF. Na última quinta-feira, 16, Alexandre de Moraes decidiu reformar a decisão de primeira instância e determinar o recolhimento do livro e a retirada, do site da editora, de qualquer ligação ao nome do ex-deputado, sob pena de multa diária de R$ 50 mil. A Record deverá ainda dar direito de resposta a Cunha em sua página na internet e os réus (o autor, a editora Record e diretor editorial do Grupo Record na época, Carlos Andreazza) devem pagar indenização de R$ 30 mil a Cunha.

Garth Hudson, último integrante original da The Band, lendária banda canadense, morreu aos 87 anos nesta terça-feira, 21, enquanto dormia em uma casa de repouso em Woodstock, Nova York. O anúncio foi feito pelo administrador de seu espólio ao jornal The Toronto Star.

Em 1961, ele juntou-se ao grupo que mais tarde se tornaria The Band, ao lado de Robbie Robertson, Levon Helm, Rick Danko e Richard Manuel, atuando inicialmente como banda de apoio de Bob Dylan.

Considerado pelo companheiro Robbie Robertson como "o músico mais avançado do Rock and Roll", Hudson era multi-instrumentista e ficou famoso por suas partes de teclado, saxofone e acordeon com a The Band.

O grupo alcançou grande sucesso com canções como The Weight, Up on Cripple Creek e The Night They Drove Old Dixie Down. O talento da The Band foi registrado no documentário The Last Waltz, dirigido por Martin Scorsese.

Hudson teve longa carreira e trabalhou com nomes como Muddy Waters, Eric Clapton, Leonard Cohen, Tom Petty e Roger Waters. O músico ainda contribuiu com trilhas sonoras para o cinema, incluindo Touro Indomável (1980), de Scorsese, e Os Eleitos (1983), de Philip Kaufman.

Na semana passada, a Rádio Novelo publicou o podcast CPF na Nota?, que trouxe um relato da jornalista e escritora Vanessa Barbara. Nele, ela aborda o fim de seu casamento após uma traição e também expõe como o assunto foi tratado de forma machista por seu círculo de conhecidos e amigos, em uma história que vem repercutindo nas redes sociais e no meio literário.

A autora já havia abordado o tema no livro Operação Impensável (2015), que ganhou o Prêmio Paraná de Literatura e foi, posteriormente, publicado pela Intrínseca. Na época, o Estadão entrevistou a autora sobre o livro.

No livro, Lia e Tito viviam um casamento aparentemente feliz até o momento em que ele passa a noite em um hotel com a amante e pede nota fiscal. Como Lia havia cadastrado o CPF dele no sistema, é ela quem recebe o e-mail com o documento-bomba. O que se segue é uma avalanche de mentiras.

O livro é, assumidamente, uma autoficção. A escritora transformou em literatura episódios da sua vida privada, vividos em 2011, quando era casada com o editor André Conti, hoje, um dos sócios da editora Todavia. É esta história que ela conta no podcast, que virou assunto entre as pessoas que transitam no mundo das letras.

Nas suas redes sociais, André Conti assumiu o erro. "Manipulei e coagi minha ex-esposa de forma machista e misógina", diz o editor na nota. "Há catorze anos, cometi uma série de erros dolorosos, que culminaram no fim de um casamento, episódio narrado agora num podcast. Tive quase quinze anos para refletir sobre o que aconteceu: as mentiras, a manipulação, a pequenez. Esse adultério, e a rede de mentiras que criei em torno dele, terminou por afetar a vida de dezenas de pessoas", completa.

"Depois de catorze anos, tenho uma vida diferente e me sinto uma pessoa diferente, mas sei que independentemente dos anos e do meu arrependimento, e desse e de qualquer texto, as cicatrizes que deixei seguem machucando. Peço desculpas mais uma vez a todos que envolvi, em primeiro lugar para Vanessa e sua família", conclui.

No podcast, a escritora fala de uma lista de transmissão de e-mails da qual o ex-marido fazia parte. Nestes e-mails, jornalistas, editores e escritores - todos homens, segundo Vanessa Barbara - expunham suas companheiras, de forma misógina e machista, compartilhando detalhes da intimidade delas. Conti também fala sobre estes e-mails. "Num grupo de e-mails, expus pessoas, traí amigos e colegas e inventei intrigas", diz o editor.

A editora Todavia, da qual Conti é sócio e diretor de operações, também se pronunciou sobre o caso. No seu perfil no Instagram, publicou um comunicado reconhecendo "a gravidade dos acontecimentos narrados no podcast". "Compreendemos a indignação causada pelos diversos exemplos de machismo e misoginia contidos no episódio, ocorrido há 14 anos, e nos solidarizamos com a justa revolta que gerou em muitas e muitos ouvintes. Sentimos muito, sobretudo, pelo sofrimento causado à vítima", diz a nota.

"Nos últimos anos, o debate em torno das relações de gênero se aprofundou e situações que no passado eram normalizadas felizmente estão deixando de ser, graças à coragem de mulheres que decidem quebrar o silêncio. Desde sua fundação, em 2017, a editora tem publicado vários livros que acompanham essas transformações e conferem consistência a essa discussão. Temos consciência de que dar visibilidade às práticas machistas nos ajuda a evitar que ações como as narradas no podcast se repitam", completa a nota.

Outra pessoa que resolveu se manifestar foi a atual esposa de André Conti, a também escritora Natércia Pontes, que usou o seu perfil no Substack para publicar o texto intitulado Prefiro ser ré a ser juíza.

No texto, Natércia diz defender a sua família constituída há quase 14 anos com Conti. O casal tem duas filhas de seis anos. "Sentir que alguém conclama contra sua família, que está no seu encalço como um chacal, é um sentimento que não desejo nem a ela", escreveu a atual mulher de Conti.