Versos afiados revelam um espírito livre

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Com poucos anos de vida, o poeta Charles Simic já armazenava fortes lembranças. Nascido em Belgrado em 1938, logo seu país, a então Iugoslávia, foi invadida pelos nazistas e se tornou palco de constantes bombardeios alemães, ingleses e russos. Ele e a família foram obrigados a deixar a própria casa em diversas ocasiões. Em 1944, o pai fugiu para a Itália por problemas políticos até conseguir se estabelecer nos Estados Unidos.

No comando, a mãe do futuro poeta também tentou fugir, mas ela e os dois filhos foram presos pelos soviéticos até conseguirem escapar para Paris, onde aprenderam inglês. A família finalmente se reuniu em Chicago, em 1954.

Hoje, aos 82 anos, Simic é apontado como um dos grandes poetas americanos, cujo alcance da imaginação é comprovado pelas imagens impressionantes e incomuns que marcam sua escrita. "Ele lida com a linguagem com a habilidade de um mestre artesão, mas seus poemas são facilmente acessíveis, muitas vezes meditativos e surpreendentes. Ele nos deu um rico corpo de poesia altamente organizada com tons de escuridão e flashes de humor irônico", afirmou James H. Billington em 2007, quando Simic foi nomeado Poeta Laureado pela Biblioteca do Congresso americano.

Qualidades que o leitor brasileiro poderá comprovar agora em Meu Anjo da Guarda Tem Medo do Escuro, seleção de poemas feita por Ricardo Rizzo, que também os traduziu e escreveu um alentado posfácio, publicada pela Todavia. O volume traz exemplos de assuntos habitualmente tratados pelo autor: da impenetrabilidade da vida cotidiana a observações de caráter metafísico; de contos populares a casamento, guerra e vida urbana.

"Ali estava uma poesia de um sublime lirismo que se apresentava em claro diálogo com a história", observa a crítica Maysa Cristina Dourado, que defendeu uma tese de doutorado na Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara, em 2007 - ela evidencia as relações existentes entre história e poesia ao avaliar a obra de Simic e também de Affonso Romano de Sant'Anna. "Uma poesia que retratava não apenas a sociedade de tempos passados, mas continha também uma visão irônica do caótico estado da sociedade atual."

Professor universitário, Simic conhece também um aspecto da poesia brasileira, especialmente de Carlos Drummond de Andrade e Jorge de Lima, como revela nesta entrevista realizada por e-mail.

Música e humor também fazem parte de seus poemas. Quão importantes são esses elementos em sua escrita?

Minha mãe era professora de canto e meu pai estudava canto, então sempre havia música em nossa casa. Quando eu tinha cinco anos, conseguia cantar algumas árias de Mozart e algumas músicas pop americanas. Quando meu pai veio para os Estados Unidos, ele cantava em igrejas evangélicas e, quando chegamos a Nova York quatro anos depois, na primeira noite, ele me levou para ouvir jazz. Quanto ao humor, do lado do meu pai, seus irmãos e irmãs tinham um ótimo senso de humor e meu avô mais do que todos eles. Então, pode-se dizer, a música e o humor foram uma parte importante da minha educação e, portanto, inevitavelmente entram na minha poesia.

"O tradutor é um leitor acirrado", diz o primeiro verso de Blues da Manhã Nevada. Você escreve seus poemas em inglês, mas também traduziu a escrita de outras pessoas. É possível capturar a essência na tradução?

Às vezes sim, às vezes não. As pessoas me perguntam se, quando eu comecei, escrevi meus poemas em sérvio e depois os traduzi para o inglês, e ficam surpresas quando digo que nunca na minha vida escrevi um poema em minha língua materna, porque, quando comecei a escrever na minha adolescência, obviamente, queria que minhas namoradas americanas entendessem meus poemas de amor para elas.

Gosto deste pequeno poema Rabiscos no Escuro. Isso me faz pensar que há uma experiência de cidade grande neste poema. Estou certo?

Sim, sou um garoto da cidade. A maioria dos meus poemas se passa na cidade de Nova York, onde trabalhei e morei por muitos anos e o restante deles em uma pequena cidade em New Hampshire, onde agora passo a maior parte do tempo.

Por que você gosta dessa restrição de trabalhar com o mínimo de palavras possível?

Existe um ditado, menos é mais, com o qual concordo. Claro, em mais de sessenta anos desde que comecei a escrever poemas, escrevi muitos poemas mais longos. Mesmo assim, a concisão continua sendo meu ideal.

David Slone Wilson, em seu ensaio Evolutionary Social Construction (Construção social evolutiva, em tradução livre), observa que constantemente nos construímos e reconstruímos para atender às necessidades das situações com as quais nos defrontamos. Ele acredita que fazemos isso com a orientação de nossas memórias do passado e nossas esperanças e medos quanto ao futuro. O que você pensa a respeito disso?

Isso faz todo o sentido para mim, já que tudo o que ele menciona surge quando me sento para escrever um poema.

A experiência do imigrante tem sido há muito uma das grandes preocupações da literatura americana e foi revigorada nos últimos anos por uma série de escritores de todo o mundo que cresceram em uma era de globalização. No seu caso e de seu trabalho, há o elemento adicional de vir de um país dilacerado pela guerra. Como é possível para um imigrante se integrar totalmente à vida americana?

Eu nasci em um país que não existe mais chamado Iugoslávia, que foi invadido pela Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Eu tinha três anos quando as bombas começaram a cair em Belgrado, na madrugada de 6 de abril de 1941, e fui jogado para fora da minha cama com uma chuva de vidro quando uma bomba atingiu o prédio do outro lado da rua e o incendiou. Depois disso, seguiram-se quatro anos de ocupação alemã e atrocidades, além da guerra civil no campo entre cinco facções diferentes que se massacraram entre si e os aviões americanos e ingleses lançando suas bombas sobre os alemães e atingindo principalmente nós, que éramos seus aliados. Como você pode imaginar, ficamos felizes em imigrar. Eu tinha quinze anos quando viemos para os EUA, então eu e meu irmão mais novo levamos a sério a necessidade de adotar o novo idioma e o país.

Você se interessa mais em quão diferente o passado é do presente, ou em quão semelhantes as diferentes épocas podem ser?

Eu não penso muito nisso. Vindo dos Bálcãs, tendo a ser um pessimista sobre a história, alguém que não idealiza o passado nem o futuro. Estou particularmente interessado em quais podem ter sido suas preocupações literárias ou filosóficas quando você criou seus poemas ou como elas mudaram enquanto você os escrevia.

Como assim?

Eu não escrevo poemas para ilustrar alguma ideia filosófica. Eles geralmente têm raízes em alguma experiência que eu tive, algo que vi ou imaginei, mas, o que quer que seja, é mudado durante o processo de escrita. Em outras palavras, posso começar o poema pensando que vai ser sobre meu avô que eu amo muito e depois de muitas revisões acaba sendo sobre seu cachorro porque estou mais interessado em fazer um bom poema que as pessoas queiram ler do que ser fiel a alguma ideia que inicialmente tive em minha mente.

Como as últimas semanas - essas nas quais todos nós somos incentivados a nos auto isolarmos - afetaram o seu tempo gasto escrevendo ou preparando-se para escrever?

Para um escritor, ficar preso por meses é a situação ideal. Eu li muitos livros e escrevi muitos poemas durante o ano passado, muitos dos quais não têm nada a ver com a pandemia, então não estou reclamando.

À medida que escritores e outros profissionais criativos começam a criar arte sobre esse período da história, como você prevê que será a arte emergente da era do novo coronavírus?

Não tenho ideia e ninguém tem, uma vez que esta catástrofe não tem precedentes. Nenhum de nós sabe quanto tempo essa pandemia vai durar, se vamos sobreviver, então Deus sabe o que vai acontecer no futuro e em que tipo de mundo nossos descendentes viverão.

Como você vê a poesia americana hoje em dia? Amanda Gorman na posse de Biden nos fez pensar que a política precisa de poesia.

A poesia americana tem estado em boa forma nos últimos trinta anos. Tudo parece estar cada vez pior neste país, mas muitos bons poetas, jovens e velhos, continuam aparecendo. É claro que hoje, com a maioria das livrarias e bibliotecas fechadas, é muito difícil acompanhar o que os poetas estão publicando, mas muito do que vejo parece bom.

Gostaria de saber sua opinião sobre poetas brasileiros, como Jorge de Lima e Carlos Drummond de Andrade.

Eles são grandes poetas que admiro e invejo. Por exemplo, gostaria de ter escrito O Grande Circo Místico, de Lima, e um pequeno poema de Drummond chamado A Mão Suja e muitos outros poemas dele. Um dos grandes arrependimentos da minha vida é nunca ter visitado o Brasil. Recebi um convite uma vez, mas infelizmente não pude ir por causa de alguns compromissos pessoais. Portanto, estou muito feliz que meu livro esteja circulando no País.

MEU ANJO DA GUARDA...

Autor: Charles Simic

Tradução: Ricardo Rizzo

Ed.: Todavia (112 págs., R$ 59,90)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Morreu nesta sexta-feira, 2, em São Paulo, atriz mirim Millena Brandão, do canal SBT, aos 11 anos. A informação foi confirmada pela família nas redes sociais e pelo hospital onde estava internada.

A garota teve morte encefálica e sofreu diversas paradas cardiorrespiratórias nos últimos dias. Millena teve diagnóstico de tumor cerebral e estava internada no Hospital Geral de Grajaú, na capital, desde o dia 29.

Por conta de dores de cabeça e no corpo, a atriz precisou ser hospitalizada.

O boletim médico do hospital desta sexta-feira afirma a menina deu entrada em "estado gravíssimo" no dia 29, transferida da Unidade de Pronto Atendimento Maria Antonieta (UPA). "Desde a sua chegada, a paciente recebeu cuidados intensivos e todo o empenho da equipe médica e assistencial, que não mediu esforços para preservar sua vida", afirma a nota assinada por Thiago Rizzo, gerente médico.

Segundo o SBT, ela chegou a ser diagnosticada com dengue, mas, após uma piora no quadro, os médicos realizaram outros exames e identificaram a presença de um tumor no cérebro de cinco centímetros, informou o SBT. Ela estava entubada, sedada e sem respostas neurológicas.

A situação de Millena se agravou durante esta semana. Ela seria transferida para o Hospital das Clínicas na quarta-feira, 30, mas sofreu paradas cardíacas durante a tentativa de transferência.

A família começou uma vaquinha na internet para ajudar no tratamento da menina. No início da noite, no entanto, postou nos stories da conta de Millena do Instagram a frase "nossa menina se foi".

O caso causou comoção nas redes sociais, principalmente pela menina ter tido diversas paradas cardíacas. Depois da morte, milhares de pessoas deixaram condolências em mensagens no perfil de Millena.

Trajetória

No SBT, onde atuava desde 2023, Millena participou da novela A Infância de Romeu e Julieta, e estrelou também a série Sintonia, da Netflix. Ela registrou o início de sua carreira na TV: "E o sonho se tornou realidade", escreveu.

Além de atriz, Millena era modelo e influenciadora digital, e havia feito diversos trabalhos publicitários com marcas infantis. No Instagram, dizia também integrar a companhia de teatro musical Cia Artística En'Cena.

A atriz mirim Millena Brandão está internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na cidade de São Paulo após sofrer sete paradas cardíacas.

Os médicos localizaram uma massa no cérebro dela, mas ainda não confirmaram se trata-se de um cisto ou de um tumor. A mãe está usando as redes sociais da criança para divulgar notícias sobre o caso e pedir orações.

Millena Brandão tem 11 anos de idade e mora em São Paulo. Além de trabalhar como atriz, ela também é influenciadora digital e modelo.

Seu trabalho como modelo começou em 2020 e já participou de algumas campanhas publicitárias.

Nas redes sociais, ela conta com mais de 155 mil seguidores. No Instagram, ela compartilha sua rotina e registros de seu trabalho como modelo.

Em 2023, ela registrou o início de sua carreira no SBT. "E o sonho se tornou realidade", escreveu. Millena fez parte do elenco de figurantes da novela A Infância de Romeu e Julieta, da emissora de Silvio Santos, e trabalhou também como figurante na série Sintonia, da Netflix.

Entenda o caso

Millena foi levada ao Hospital Geral de Grajaú no início da semana depois de reclamar de fortes dores de cabeça. Os médicos então localizaram uma massa no cérebro, mas ainda não confirmaram se trata-se de um cisto ou de um tumor.

A mãe da menina, Thays Brandão, disse ao Portal Leo Dias que a família aguarda a situação se estabilizar para tentar levá-la à casa de saúde na zona oeste paulistana. O Estadão entrou em contato com Thays e aguarda novas informações sobre o estado de saúde de Millena.

No Instagram, a mãe da atriz mirim divulgou uma vaquinha online para que a família consiga arcar com os custos de sua internação.

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

A situação de Millena se agravou durante a semana. Ela seria transferida para o Hospital das Clínicas na quarta-feira, 30, mas sofreu as paradas cardíacas durante a tentativa de transferência.

A prefeitura do Rio de Janeiro estima um público de 1,6 milhão de pessoas para o show gratuito de Lady Gaga neste sábado, 3. E quem passa em frente ao Copacabana Palace não duvida. Afinal, os "little monsters" tomam conta da calçada em frente ao hotel desde que a artista chegou ao País, na esperança de uma rápida aparição ou de um aceno. Mas de onde vem o apelido usado carinhosamente para se referir aos fãs de Gaga?

A ideia de monstros veio à tona enquanto Gaga trabalhava em seu segundo disco, The Fame Monster, de 2009, que é uma expansão do álbum de estreia, The Fame. Na época, a cantora começou a desenvolver o conceito para descrever seus próprios medos, e aos poucos passou a chamar os fãs de "little monsters" (ou monstrinhos) durante as apresentações da turnê.

A própria estética do álbum explorava a ideia de figuras grotescas e monstruosas para representar os problemas que vinham junto à ascensão à fama. Por isso, o termo caiu no gosto popular, e os fãs aderiram.

Em entrevista concedida à revista W Magazine, Gaga explicou como a ideia surgiu. "Eu nomeei meus fãs de 'little monsters' porque eles eram tão ferozes nos shows, e eles gritavam tão alto. Eles se vestiam com roupas maravilhosas e se divertiam muito celebrando a música."

Com a adesão, o termo ganhou algumas expansões, e a própria artista passou a ser chamada de "mother monster" (ou mamãe monstro) após um fã usar o termo durante um show da turnê Monster Ball em Chicago, em 2010. A cantora gostou tanto que aderiu ao apelido e passou a utilizá-lo para se descrever.

Outro detalhe que vem junto à temática monstruosa é o cumprimento usado pelos "little monsters". Você já viu algum fã de Gaga com as mãos em formato de garra?

O gesto também é usado para identificar o grupo de fãs da cantora. No clipe de Bad Romance, de 2009, parte da coreografia envolve os dançarinos erguendo as mãos com o dedos levemente curvados para dentro, como se estivessem replicando o formato de uma garra. A ideia rapidamente foi aderida. Por isso, o termo "paws up" (ou patas para cima) passou a ser utilizado quando os fãs de Gaga queriam cumprimentar um ao outro ou concordar com algo.

A apresentação gratuita de Lady Gaga em Copacabana, parte do projeto Todo Mundo no Rio, está marcada para começar às 21h45, e terá transmissão na TV Globo, no Globoplay e no Multishow.