Vitória de Trump deixa agricultores dos EUA com muitas perguntas

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Agricultores dos Estados Unidos estão cautelosos, aguardando o presidente eleito Donald Trump assumir o cargo em janeiro para ver quais políticas sobre comércio, tarifas, financiamento e energia serão implementadas durante seu mandato. Enquanto aguardam, especialistas e analistas expressam preocupação com assuntos como possíveis guerras comerciais e seguro agrícola.

 

A China é o maior comprador de produtos agrícolas dos EUA, o que torna as propostas de Trump de instituir novas tarifas sobre produtos chineses a maior incógnita. "Produtores de grãos têm más lembranças da última guerra comercial", disse o analista sênior Phil Flynn, do Price Futures Group.

 

Se uma guerra comercial semelhante ocorrer, com a China redirecionando suas compras de commodities agrícolas para outros grandes fornecedores como o Brasil, o mercado teme danos econômicos significativos. A primeira disputa comercial entre os EUA e a China, em 2018, resultou em perdas de mais de US$ 27 bilhões para as exportações agrícolas dos EUA, segundo um relatório divulgado em outubro pela Associação Nacional dos Produtores de Milho e pela Associação Americana da Soja.

 

No entanto, Flynn acredita que uma segunda guerra comercial pode não ser prolongada. "A China está em uma situação financeira muito mais frágil do que na primeira vez, então acho que estarão mais dispostos a negociar", disse.

 

Ainda não se sabe quando Trump poderá iniciar a implementação de novas tarifas. "Acredito que as tarifas serão utilizadas nos primeiros 100 dias de seu segundo mandato - provavelmente mais cedo do que tarde", disse o economista-chefe de commodities do StoneX Group, Arlan Suderman.

 

Internamente, o que preocupa muitos agricultores e traders é como a nova administração, juntamente com um Congresso republicano previsto, lidará com a lei agrícola americana, conhecida como Farm Bill. A Farm Bill é uma legislação abrangente com mais de 100 anos, geralmente revisada e aprovada pelo Congresso a cada cinco ou seis anos. Ela inclui uma série de programas que beneficiam agricultores, como termos para seguro agrícola.

 

No entanto, nenhuma nova Farm Bill foi aprovada desde 2018, com o Congresso em um impasse. A legislação expirou em 30 de setembro deste ano, após uma extensão de um ano assinada pelo presidente Joe Biden no ano passado, sem que um novo projeto de lei fosse implementado. Como resultado, agricultores estão com termos desatualizados para seguro agrícola, enquanto os preços de grãos se mantêm no menor nível em vários anos.

 

Apesar das preocupações relacionadas a possíveis novas tarifas, também há expectativa de que uma nova administração Trump possa ser mais benéfica para a crescente indústria de biocombustíveis. No ano passado, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA divulgou novas regras para reduzir em 7 bilhões de toneladas as emissões de dióxido de carbono de novos carros até 2032.

 

Para atingir essa meta, o governo Biden impulsionou regras favoráveis a veículos elétricos, com menos atenção aos biocombustíveis como solução. O setor agrícola espera que a oposição declarada de Trump aos veículos elétricos leve a mudanças nas regulamentações que direcionem mais investimentos para o crescimento do uso de biocombustíveis, como o etanol de milho e o biodiesel, comumente feito com óleos vegetais como o óleo de soja.

 

"A história dos biocombustíveis é de esperança e otimismo a longo prazo", disse o estrategista-chefe da Allendale, Rich Nelson.

 

No entanto, há questões em aberto que complicam uma simples transição dos veículos elétricos para os biocombustíveis. Uma delas é o papel do magnata da Tesla e SpaceX, Elon Musk, em um futuro governo Trump. A expectativa é de que a presença de Musk possa limitar a disposição do governo de se afastar dos veículos elétricos.

 

Também não se sabe se as importações norte-americanas de óleo usado de cozinha da China serão afetadas por tarifas. Isso pode exigir que a produção de óleo de soja e outros óleos vegetais nos EUA aumente significativamente. Fabricantes de biocombustíveis atualmente recorrem à importação de óleo vegetal e gordura animal para sustentar a produção.

 

Em um relatório de junho, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) estimou que a capacidade de produção de diesel renovável em 2025 será mais que o dobro de 2022, para quase 23 bilhões de litros por ano.

 

"No entanto, a taxa de crescimento da produção dependerá muito das políticas federais e estaduais, da disponibilidade de matéria-prima e do crescimento sustentado das exportações de farelo de soja dos EUA", disse o USDA no relatório. Fonte: Dow Jones Newswires

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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, admitiu nesta terça-feira, 7, que algumas das sentenças aplicadas aos condenados por depredarem as sedes dos Três Poderes no 8 de janeiro de 2023 "ficaram elevadas". A declaração foi feita durante o 1º Seminário Judiciário e Sociedade, promovido pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).

Durante sua fala, Barroso também destacou a importância de responsabilizar judicialmente quem cometeu atos antidemocráticos. "Eu concordo que algumas penas, sobretudo as dos executores que não eram mentores, ficaram elevadas. Eu mesmo apliquei penas menores", afirmou o ministro.

Barroso pontuou que, desde o início, tem adotado uma postura mais moderada nas sentenças. "Desde o começo apliquei penas menores. Manifestei-me antes do julgamento do ex-presidente [Jair Bolsonaro], considerando bastante razoável a redução das penas para não acumular os crimes de golpe de Estado e abolição violenta do Estado de Direito. Isso permitiria que essas pessoas saíssem em dois anos, dois anos e pouco. Acho que estava de bom tamanho", completou.

A declaração pode ser bem recebida pela direita brasileira, que atualmente tenta aprovar o PL da Anistia, voltado aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro e na tentativa de golpe de Estado. No entanto, segundo o relator da proposta, o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade), o objetivo agora é tratar da dosimetria das penas, em vez de conceder uma anistia total e irrestrita.

Se aprovado, o projeto pode beneficiar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão em regime fechado, após julgamento na Primeira Turma do STF. Ele foi considerado culpado por tentar abolir o Estado Democrático de Direito e liderar uma organização criminosa.

Ainda durante o evento, Barroso cometeu um ato falho ao comentar sobre seu tempo como magistrado: "Fui não, ainda sou". A fala alimentou rumores que o ministro vai deixar a corte. Em setembro, o ministro deixou a presidência do STF e passou o cargo para Edson Fachin. No entanto, Barroso pode permanecer no Supremo até 2033, quando atinge a idade de aposentadoria compulsória.

O Senado Federal aprovou nesta terça-feira, 7, a transferência simbólica da capital da República para a cidade de Belém durante a realização da Conferência das Nações Unidas Sobre Mudança Climática, a COP30, entre 11 e 21 de novembro.

O projeto vai agora para a sanção presidencial. O texto, de autoria da deputada Duda Salabert (PDT-MG), prevê que os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário poderão se instalar na capital do Pará para a condução de suas atividades durante o período estabelecido.

Os atos e despachos assinados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por seus ministros entre 11 e 21 de novembro, portanto, vão ser registrados como se tivessem sido feitos em Belém.

O projeto também estabelece que "o Poder Executivo regulamentará esta Lei, estabelecendo as medidas administrativas, operacionais e logísticas necessárias à implementação da transferência temporária da sede do Governo Federal".

A deputada justifica a proposta pela importância do evento para o Brasil e para a Amazônia, que ela define como região estratégica para o enfrentamento da crise climática global.

"A transferência temporária da capital do Brasil para Belém durante o evento reforça a importância da Amazônia na agenda ambiental internacional, permitindo uma maior interlocução entre as autoridades brasileiras e as delegações estrangeiras, além de impulsionar o desenvolvimento local e fortalecer o papel do Brasil como protagonista nas negociações climáticas", escreve ela.

Salabert diz que a medida tem amparo no artigo 48 da Constituição Federal, que atribui ao Congresso a competência para dispor sobre a transferência temporária da sede do governo federal. Ela cita uma medida semelhante adotada em 1992, quando a capital foi transferida de Brasília para o Rio de Janeiro em razão da realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida como Eco-92 ou Rio-92.

"Essa medida demonstraria o compromisso do Governo e do Parlamento brasileiro com as questões ambientais e a necessidade de encontrar soluções efetivas para um problema que afeta todo o planeta, integrando-se aos esforços internacionais para promover um futuro sustentável, em total consonância, também, com o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, em especial o 13 (Ação contra a mudança global do clima) e o 16 (Paz, Justiça e Instituições Eficazes), somando-se os esforços do Estado brasileiro aos saberes dos povos e comunidades da floresta - ferramentas fundamentais no endereçamento das mudanças climáticas".

Grupo de bolsonaristas deram início na tarde desta terça-feira, 7, a um ato em defesa da anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e demais condenados por tentativa de golpe de Estado. Batizada de "caminhada pela anistia, a manifestação percorre a Esplanada dos Ministérios em direção ao Congresso.

Logo no início do protesto um dos apresentadores admitiu que o público presente não era grande. "Nós sabemos que é uma terça-feira. A gente não teve a intenção de trazer milhares de pessoas. Nós quisemos mandar uma mensagem através dos olhos do brasiliense", disse o locutor do evento do alto de um carro de som.

Um dos primeiros a discursar foi o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente. "Não tem sido fácil. Assim como ele (Bolsonaro) não baixou a cabeça, nós não vamos baixar a nossa cabeça. Vocês, além de testemunhas, são atores ativos em mais um ato pela anistia para que o Congresso ouça a nossa voz, veja as cores que nós carregamos", disse o senador.

Apesar de estar em processo de negociação um projeto que reduz penas de condenados, sem concessão de anistia geral como defendem os bolsonaristas, o senador preferiu dizer aos manifestantes que o projeto de perdão completo está para ser aprovado no Congresso.

"Nós estamos a um passo de conseguir aprovar essa anistia", declarou.

Os parlamentares que discursaram se uniram contra a proposta de dosimetria para redução das penas dos condenados.

"Nós não queremos qualquer coisa. Não queremos qualquer um. Nós queremos Bolsonaro. Nós não queremos dosimetria. Nós não queremos redução de pena. No Brasil já teve muitas anistias", disse a deputada Bia Kicis (PL-DF).

Um dos apoiadores é o pastor Silas Malafaia, que é investigado pela Polícia Federal (PF) em inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por coação no curso do processo que condenou Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe.

Em vídeo de convocação dos apoiadores para a caminhada, Malafaia ironizou as manifestações realizadas pela esquerda no mês de setembro que lotaram as ruas de diversas capitais do País com as pautas contra a anistia e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem, que foi aprovada na Câmara com apoio do bolsonarismo, mas arquivada no Senado.

O pastor debochou do fato de os atos da esquerda terem contado com a presença de grandes artistas da música popular brasileira, o que, na avaliação do campo bolsonarista, foi o que impulsionou as manifestações. Malafaia afirmou no vídeo de convocação para a passeata desta terça-feira que "os artistas são as famílias das pessoas injustiçadas".

"Agora é a reta final. A anistia vai ser votada na Câmara e os deputados precisam ver a nossa força e nossa voz", afirmou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no vídeo em que tenta atrair apoiadores para caminhar na Esplanada.

Como mostrou a Coluna do Estadão, o bolsonarismo anunciou a caminhada como um ato modesto que não pretende rivalizar com as manifestações recentes da esquerda. A realização durante um dia útil já denota que não haverá grandes massas em Brasília. Segundo Malafaia, havia pouco tempo para organizar um ato grande em um domingo, como geralmente ocorre.

Contudo, eles se valem do fato de no início deste ano terem realizado uma passeata semelhante que reuniu um número considerável de apoiadores também em dia útil.

Os aliados de Bolsonaro viram a esquerda no mínimo igualar a sua capacidade de ocupação das ruas em diferentes Estados contra a PEC da Blindagem e foram obrigados a votar a favor do projeto de isenção do imposto de renda patrocinado pelo governo Lula, que deve ser um de seus principais trunfos na corrida eleitoral do ano que vem.

Somado a isso, o bolsonarismo observa um projeto alternativo ao da anistia ampla, geral e irrestrita ganhar tração. A expectativa é que o texto que vá a votação seja o sob relatoria do deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP), que deve propor redução de penas em vez de perdão. Caso isso ocorra, Bolsonaro permaneceria preso, mas por menos tempo.

Em mais um revés recentes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu driblar o bloqueio realizado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do influenciador Paulo Figueiredo para que ele acesse a Casa Branca, e teve o seu primeiro diálogo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O canal de interlocução aberto entre os dois líderes é negativo para o bolsonarismo porque, além de abrir margem para que Lula reverta as tarifas americanas, Trump tem feito sucessivos elogios à figura do presidente brasileiro. Com isso, os aliados de Bolsonaro veem o seu principal aliado com potencial de fustigar Lula se mostrando aberto ao diálogo e à negociação.