Oposição de Trump e Musk a acordo do orçamento nos EUA ameaça presidente republicano da Câmara

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Com a paralisação do governo federal à vista, o presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Mike Johnson, está com o cargo ameaçado enquanto tenta atender às demandas repentinas do presidente eleito Donald Trump. Em paralelo, agências do governo federal estão sendo instruídas a se preparar para fechar as operações antes do prazo final da meia-noite de sexta-feira.

Trump afirmou nesta quinta-feira, 19, que Johnson "facilmente permanecerá como presidente" para o próximo Congresso se ele "agir de forma decisiva e firme" ao elaborar um novo plano para também aumentar o limite da dívida, um pedido surpreendente pouco antes das férias de Natal que colocou Johnson em apuros.

Se não for atendido, o presidente eleito alertou sobre problemas futuros para Johnson e os republicanos no Congresso.

"Qualquer um que apoie um projeto de lei que não cuide da areia movediça democrata conhecida como teto da dívida deve ser submetido a primárias e descartado o mais rápido possível", disse Trump à Fox News Digital.

A reviravolta caótica dos eventos, que ocorreu dias antes do prazo final da meia-noite de sexta-feira para financiar o governo e enquanto os políticos se preparavam para voltar para casa para as férias, desperta um lembrete de como é um governo sob a liderança de Trump. O republicano levou os EUA à mais longa paralisação do governo na história durante a temporada de Natal de 2018 e interrompeu as férias em 2020 ao rejeitar um projeto de lei bipartidário de alívio da Covid e forçar uma reformulação.

Para Johnson, que enfrenta seus próprios problemas antes da votação da Câmara no dia 3 de janeiro para permanecer no cargo, as exigências de Trump o mantiveram trabalhando até tarde da noite para negociar um novo acordo. O vice-presidente eleito JD Vance se juntou às reuniões noturnas no Capitólio, trazendo seu filho pequeno.

Elon Musk

Os aliados de Trump até mesmo sugeriram a ideia de dar ao bilionário Elon Musk o cargo de presidente da Câmara, já que a função não precisa ser ocupada por um membro do Congresso.

"Tivemos uma reunião produtiva. Vamos continuar trabalhando durante a noite, de manhã, para chegar a um acordo", disse o líder da maioria Steve Scalise, ao deixar o gabinete de Johnson na quarta-feira à noite.

Mas adicionar um aumento no teto da dívida ao pacote é um empecilho para os republicanos que votam rotineiramente contra mais empréstimos. O atual limite da dívida expira em 2025 e Trump quer tirá-lo da mesa antes de se juntar à Casa Branca.

Impasse

O financiamento federal está programado para expirar à meia-noite de sexta-feira, enquanto o Congresso prepara um novo para manter os trabalhos por alguns meses.

O acordo bipartidário negociado entre Johnson e os democratas, cujo apoio será necessário na Câmara e no Senado, também incluiu a tão esperada ajuda para desastres - US$ 100,4 bilhões para os Estados duramente atingidos pelos furacões Helen e Milton e outras calamidades naturais.

Mas o projeto de lei de 1.500 páginas indignou os conservadores por seus gastos extras. Musk, em sua nova incursão na política, liderou a investida. O homem mais rico do mundo usou sua plataforma de mídia social X para amplificar a agitação, e os políticos do Partido Republicano foram cercados por telefonemas para seus escritórios dizendo-lhes para se oporem ao plano.

Trump anunciou seu próprio descontentamento na quarta-feira à noite e disse a Johnson para recomeçar - com a nova demanda sobre o limite da dívida, algo que geralmente leva meses para negociar e que seu próprio partido geralmente se opõe.

Os democratas da Câmara saíram de uma reunião a portas fechadas na quinta-feira irritados com o colapso da legislação bipartidária, dizendo que um acordo é um acordo e que eles estavam mantendo o compromisso que fizeram com Johnson e os republicanos.

O congressista democrata Jim McGovern afirmou que uma paralisação do governo prejudicaria a economia e os funcionários federais que não receberão seus salários.

"Elon Musk e Donald Trump não precisam se preocupar com isso. Eles vão jantar caviar em Mar-a-Lago", disse McGovern. "Eles vivem em um universo alternativo, então nada disso os afeta. Mas isso afeta as pessoas que eu represento. E estou chateado por estarmos nessa situação agora."

Na noite de quarta-feira, 18, os republicanos apresentaram uma nova ideia para um projeto de lei reduzido que simplesmente manteria o governo funcionando e forneceria assistência a desastres para regiões devastadas por furacões. Mas quase assim que foi mencionado, Trump postou nas redes sociais que também não gostou do plano.

Scalise disse que entende que Trump "quer começar a presidência com uma base sólida e nós queremos que ele também faça isso". Mas o republicano reconheceu que o problema precisa ser resolvido antes do inicio do novo governo.

Em outra categoria

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes voltou a criticar a atuação das bigtechs nesta terça-feira, 11, durante aula magna na Fundação Getulio Vargas (FGV), em Brasília. Segundo o magistrado, as gigantes da tecnologia "querem lucrar" sem assumir responsabilidade.

"Essas empresas perceberam que a União Europeia aprovou leis que os outros países vão aprovar. E a regulamentação vai começar. Esse é um perigo que venho alertando. Por enquanto, nós conseguimos manter nossa soberania, nossa jurisdição", afirmou o ministro.

Moraes tem sido alvo de críticas por decisões relacionadas às redes sociais. O Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos chegou a intimar oito big techs para discutir a suposta "censura" imposta por governos estrangeiros. O presidente do comitê, Jim Jordan, citou diretamente Moraes, acusando-o de emitir ordens "secretas e arbitrárias" para obrigar empresas norte-americanas a removerem conteúdo sob ameaça de multas e banimento do Brasil. O comitê ainda aprovou um projeto de lei para barrar a entrada do ministro nos EUA.

Durante sua fala, Moraes reforçou que as plataformas digitais não são imparciais. "Nós não precisaríamos de uma lei específica, basta aplicar a que já temos. Não podemos acreditar que as big techs são neutras. Elas têm lado, posição econômica, ideológica, política e religiosa", disse.

Ele também acusou as empresas de promoverem uma "lavagem cerebral" na população e de "falsear os fatos". No mês passado, em uma aula magna na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), já havia criticado as plataformas, afirmando que "não são enviadas por Deus".

Em tom descontraído, Moraes ironizou as acusações de que seria comunista. "A mentalidade das big techs retornou ao mercantilismo da Companhia das Índias Orientais, de 1600, abandonou qualquer pudor capitalista. E, diferentemente do que dizem, não sou comunista. Não é possível que acreditem nisso", disse.

Moraes já protagonizou outros momentos de descontração sobre o assunto. No ano passado, ele fez um comentário durante um julgamento sobre como funcionam os algoritmos da plataforma. "Falei que queria comprar um carro vermelho e nunca mais parei de receber propaganda", disse o ministro.

"Obviamente, em virtude do meu comunismo, eu só consulto carro vermelho, gravata vermelha. Terno vermelho é meio cafona. Então, esse não", brincou.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) foi criticado por bolsonaristas depois de se reunir com o influenciador e entusiasta da tecnologia bitcoin Renato "38tão", crítico ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Renato já se referiu a Bolsonaro como um representante da "extrema esquerda".

Registros dos dois foram compartilhados por Renato em seus perfis nas redes sociais nesta terça-feira, 10. Nikolas não compartilhou as imagens em que os dois aparecem juntos em suas páginas.

Ele já afirmou em um podcast que, em sua opinião, o governo de Bolsonaro foi mais alinhado à esquerda do que o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Como justificativa, apontou a indicação dos ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF). Os dois seriam, segundo ele, "petistas declarados".

O encontro não foi bem-visto por aliados de Jair Bolsonaro. No X, antigo Twitter, o deputado federal Mario Frias (PL-SP) classificou a postura de Nikolas como "absurda".

"Não acho que seja uma postura digna de alguém que se diz aliado do presidente Bolsonaro, fazer foto e vídeo, aos risos, com duas pessoas que chamam o presidente de cadela, covarde e outros xingamentos baixos e vis", escreveu o parlamentar.

Renato publicou também um vídeo em que explica em que condições ocorreu a reunião. "Meu objetivo era educá-lo sobre o bitcoin e sobre o projeto do deputado Eros Biondini, que trata da reserva de bitcoin e do direito a auto custódia. Chegando lá, o Nikolas passou boa parte do tempo tentando me convencer de que Bolsonaro ainda é a melhor solução para o Brasil", escreveu o influenciador, que disse ter "aceitado" encontrar com o parlamentar mineiro.

O vereador de Belo Horizonte Vile Santos (PL) se apressou para se responsabilizar pelo encontro. "Tratamos sobre o bitcoin, que é uma das minhas bandeiras em BH e sobre o qual o Renato é um especialista. Levei a pauta ao Nikolas para que ele nos ajude em âmbito federal. Conversar com uma pessoa não significa validar tudo o que ela diz", disse.

A situação motivou posts do deputado André Janones (Avante-MG), que debochou: "O deputado chupetinha está pulando fora do barco afundando", zombou.

O senador Eduardo Girão (Novo) apresentará um pedido de impeachment contra o procurador-geral da República, Paulo Gonet, na próxima quarta-feira, 12. O parlamentar bolsonarista convidou outros senadores a assinarem o documento, que aponta, segundo Girão, omissões e violações de princípios por parte do procurador.

"O Brasil viu cenas dantescas de coação contra Mauro Cid, além de áudios vazados que revelam uma articulação prévia para incriminar adversários políticos. Isso não pode passar impune", disse o senador em pronunciamento nesta segunda-feira, 10.

Os vídeos da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência no governo Jair Bolsonaro (PL), divulgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mostram que Cid foi avisado de que poderia sair preso se caísse em novas contradições. Aliados de Bolsonaro têm sustentado a narrativa de que Cid foi coagido durante sua delação para questionar a legitimidade das informações fornecidas por ele e desqualificar as investigações.

O parlamentar também convocou a população para participar das manifestações do próximo domingo, 16. Como mostrou a Coluna do Estadão, Bolsonaro desautorizou aliados que começaram a defender a palavra de ordem "impeachment já" para os protestos, que ocorrerão em todo o País. Organizadores da manifestação argumentam que a estratégia em curso é para desgastar Lula ao máximo e deixar o governo "sangrar" até a eleição de 2026.

Girão, no entanto, pediu que os apoiadores peçam o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, do presidente Lula e do procurador-geral da República, Paulo Gonet.

A expectativa dos bolsonaristas é reunir um milhão de manifestantes em Copacabana no dia 16. O ex-presidente disse que discursará em Copacabana durante os protestos e que o ato também contará com falas da ex-primeira-dama Michelle e do pastor Silas Malafaia.