Funcionárias da Microsoft são demitidas após protesto por fornecimento de IA para Israel

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A Microsoft demitiu duas funcionárias que interromperam a celebração do 50º aniversário da empresa para protestar contra seu trabalho no fornecimento de tecnologia de inteligência artificial ao exército israelense, segundo informações de um grupo que representa os trabalhadores.

A Microsoft acusou uma das trabalhadoras em uma carta de rescisão na segunda-feira, 7, de má conduta "projetada para ganhar notoriedade e causar o máximo de interrupção a este evento altamente antecipado". A Microsoft afirmou que a outra trabalhadora já havia anunciado sua demissão, mas, na segunda-feira, ordenou que ela saísse cinco dias antes.

Os protestos começaram na sexta-feira, 4, quando a engenheira de software da Microsoft, Ibtihal Aboussad, caminhou em direção a um palco onde um executivo anunciava novos recursos de produtos e uma visão de longo prazo para as ambições de IA da Microsoft.

"Vocês alegam se importar com o uso da IA para o bem, mas a Microsoft vende armas de IA para o exército israelense", gritou Aboussad para Mustafa Suleyman, CEO de IA da Microsoft. "Cinquenta mil pessoas morreram e a Microsoft alimenta este genocídio em nossa região."

O protesto forçou Suleyman a interromper sua palestra enquanto ela era transmitida ao vivo do câmpus da Microsoft em Redmond, Washington. Entre os participantes do 50º aniversário da fundação da Microsoft estavam o cofundador Bill Gates e o ex-CEO Steve Ballmer.

A Microsoft disse que Suleyman tentou acalmar a situação. "Obrigado pelo seu protesto, eu ouço você", disse ele. Entretanto, a funcionária teria gritado dizendo que Suleyman e "toda a Microsoft" tinham sangue nas mãos. Ela também jogou no palco um lenço keffiyeh, que se tornou um símbolo de apoio ao povo palestino, antes de ser escoltada para fora do evento.

Uma segunda manifestante, a também funcionária da Microsoft Vaniya Agrawal, interrompeu uma parte posterior do evento.

Aboussad, que trabalha na sede canadense da Microsoft em Toronto, no Canadá, foi convidada na segunda-feira (7) para uma ligação com um representante de recursos humanos, na qual foi informada de que seria demitida imediatamente, segundo o grupo de defesa No Azure for Apartheid, que protestou contra a venda da plataforma de computação em nuvem Azure da Microsoft para Israel.

Uma investigação da Associated Press revelou, no início deste ano, que modelos de IA da Microsoft e da OpenAI foram usados como parte de um programa militar israelense para selecionar alvos de bombardeio durante as recentes guerras em Gaza e no Líbano. A reportagem também continha detalhes de um ataque aéreo israelense equivocado em 2023 que atingiu um veículo que transportava integrantes de uma família libanesa, matando três crianças, todas meninas. e sua avó.

Em sua carta de rescisão, a Microsoft disse a Aboussad que ela poderia ter levantado suas preocupações confidencialmente a um gerente. Em vez disso, disse que ela fez acusações "hostis, não provocadas e altamente inapropriadas" contra Suleyman e a empresa, e que sua "conduta foi tão agressiva e disruptiva que você teve que ser escoltada para fora da sala pela segurança".

Agrawal já havia dado seu aviso prévio de duas semanas e estava se preparando para deixar a empresa em 11 de abril, mas, na segunda-feira, um gerente enviou um e-mail informando que a Microsoft "decidiu tornar sua demissão imediatamente efetiva hoje".

Foi o protesto mais público, mas não o primeiro, sobre o trabalho da Microsoft com Israel. Em fevereiro, cinco funcionários da Microsoft foram retirados de uma reunião com o CEO Satya Nadella por protestarem contra os contratos.

"Oferecemos muitas maneiras para que todas as vozes sejam ouvidas", disse um comunicado da empresa na sexta-feira. "É importante ressaltar que pedimos que isso seja feito de forma a não causar interrupção nos negócios. Se isso acontecer, pedimos aos participantes que se retirem. Estamos comprometidos em garantir que nossas práticas de negócios mantenham os mais altos padrões", informa outro trecho do comunicado.

A Microsoft se recusou a dizer na sexta-feira se tomaria outras medidas, mas Aboussad e Agrawal esperavam que isso acontecesse depois que ambas perderam o acesso às suas contas de trabalho logo após o protesto.

Dezenas de funcionários do Google foram demitidos no ano passado após protestos internos contra um contrato que a empresa também tem com o governo israelense. Formas de protesto não violento (sit-ins) de funcionários nos escritórios do Google em Nova York e Sunnyvale, Califórnia, tiveram como alvo um acordo de US$ 1,2 bilhão conhecido como Projeto Nimbus, que fornece tecnologia de IA ao governo israelense.

Os funcionários do Google posteriormente apresentaram uma queixa ao Conselho Nacional de Relações Trabalhistas (NLRB) na tentativa de recuperar seus empregos.

*Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado pela equipe editorial do Estadão. Saiba mais em nossa Política de IA.

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou nesta quinta-feira, 17, que o ex-assessor especial do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Filipe Martins, acompanhe o próprio julgamento presencialmente.

Filipe faz parte do segundo núcleo da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por golpe de Estado após as eleições de 2022. O julgamento será realizado nas próximas terça e quarta-feira, 22 e 23 de abril, na Primeira Turma da Corte, em Brasília.

A decisão de Moraes atende a pedido da defesa do ex-assessor, que, por estar cumprindo medidas cautelares, precisa de autorização judicial para sair de onde reside, em Ponta Grossa (PR).

"É pacífico o entendimento de que a presença do acusado em atos centrais do processo deve ser não apenas admitida, mas estimulada, sempre que compatível com a ordem pública e com a instrução processual, especialmente quando não há qualquer histórico de risco, evasão, obstrução ou descumprimento", diz a petição assinada por seus advogados.

A defesa solicita que ele embarque em voo para Brasília na segunda-feira, 21, e retorne na quinta-feira, 24, e informa onde ele ficará hospedado. Também faz uma ressalva quanto à cobertura midiática da sessão.

Como parte das medidas cautelares, Filipe não pode participar das redes sociais. Os advogados pedem que ele não seja responsabilizado em caso de "captação ou divulgação de imagens, vídeos ou registros de outra natureza realizados por terceiros", já que se trata de um julgamento em sessão pública e com cobertura midiática.

No início do mês, Filipe Martins foi multado pelo ministro Alexandre de Moraes em R$ 20 mil por ter aparecido em vídeo publicado nas redes sociais por seu advogado, o desembargador aposentado Sebastião Coelho. A defesa recorreu.

Outro denunciado do núcleo 2, o ex-diretor geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, também solicitou autorização para acompanhar a análise na semana que vem, mas desistiu de comparecer.

Quando o relator Moraes pediu esclarecimentos sobre onde Silvinei ficaria hospedado em Brasília, a defesa encaminhou uma desistência da solicitação. A alegação é a exposição midiática e de imagem do julgamento e a possibilidade de que o STF entenda que ele descumpriu as medidas cautelares.

"É certo que a imprensa se fará presente no local designado para ocorrência da solenidade, motivo pelo qual, objetivando-se evitar qualquer tipo de prejuízo à integridade das cautelares em vigência, chegou-se à conclusão de que seu não comparecimento é a medida mais acertada", escreveram os advogados.

Julgamento dos núcleos denunciados pela PGR por golpe de Estado:

Núcleo 1: denúncia aceita em 26 de março;

Núcleo 2: julgamento marcado para os dias 22 e 23 de abril;

Núcleo 3: julgamento marcado para os dias 20 e 21 de maio;

Núcleo 4: julgamento marcado para os dias 6 e 7 de maio.

O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) decidiu suspender a greve de fome nesta quinta-feira, 17, após conversa com parlamentares do PSOL e apoiadores. A decisão foi tomada após diálogo com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que prometeu adiar a votação da cassação do parlamentar em plenário para o segundo semestre.

"Quero dizer que estou suspendendo a greve de fome, mas nós não estamos suspendendo a luta contra o orçamento secreto", afirmou Glauber. Segundo o parlamentar, ele agora começará o período de transição e recuperação.

Glauber iniciou a greve de fome no dia 2 de abril após o Conselho de Ética votar pela cassação dele, por 13 votos a cinco. Durante esse período, ele ficou dormindo no plenário de uma comissão da Câmara e fazendo apenas a ingestão apenas de água, soro fisiológico e isotônico.

Mais cedo, antes da declaração de Glauber, Motta disse que dará um prazo de 60 dias para votar a cassação de Glauber no plenário caso a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprove o avanço do processo.

"Garanto que, após a deliberação da CCJ, qualquer que seja ela, não submeteremos o caso do deputado ao plenário da Câmara antes de 60 dias para que ele possa exercer a defesa do seu mandato parlamentar", afirmou Motta.

O processo foi aberto em 2024 em razão do episódio em que Glauber expulsou o influenciador Gabriel Costenaro, integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), da Casa aos chutes.

Na ocasião, Costenaro fez insinuações sobre a ex-prefeita de Nova Friburgo Saudade Braga, que na época estava doente. Mãe do deputado, ela morreu 22 dias após o ocorrido.

O PSOL já tem o recurso pronto, que será apresentado à CCJ na próxima terça-feira, 22, prazo limite.

Segundo a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), o documento argumentará, entre outras coisas, a suspeição do relator do caso no Conselho de Ética, Paulo Magalhães (PSD-BA), e a desproporcionalidade da pena.

Como mostrou o Estadão, Magalhães - que pediu pela cassação de Glauber - também já agrediu uma pessoa na Câmara e não foi punido.

O incidente ocorreu em 2001, quando o jornalista Maneca Muniz lançava, no corredor das comissões da Câmara, um livro chamado As Veias Abertas do Carlismo, onde detalhava escândalos de corrupção de Antônio Carlos Magalhães, tio do deputado.

O parlamentar, que na época era do PFL (que se tornou DEM e agora é o União Brasil), arrancou um varal onde estavam expostos trechos da obra e deu um pontapé em Muniz, que revidou com um soco.

Qualificado como "juiz estrela" pela inglesa The Economist nesta quarta-feira, 16, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), vem ocupando espaço em jornais e revistas de grande circulação pelo mundo. O foco no magistrado remete principalmente aos processos de grande repercussão dos quais é relator, às quedas de braço internacionais e ao protagonismo assumido pelo juiz em ações visando a defesa da democracia.

O artigo mais recente, publicado pela The Economist, afirma que o Judiciário brasileiro é um sistema de "juízes com poder excessivo", e, segundo a revista, nenhuma figura personifica isso melhor do que Moraes. O artigo avalia que a Suprema Corte do País enfrenta "crescentes questionamentos" na medida em que tenta "administrar" assuntos políticos.

No início do mês, a revista The New Yorker publicou uma entrevista com o ministro, que incluiu também um ensaio fotográfico. As fotos foram feitas em 26 de março, mesmo dia que a Primeira Turma da Corte tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete aliados réus por tentativa de golpe de Estado.

O perfil, publicado em 7 de abril na versão digital, e que também ilustrou a versão impressa da revista, mostrou a forma de atuação de Moraes ao longo da carreira.

Enquanto secretário de Segurança Pública, por exemplo, ele foi descrito como mantendo a linha "tolerância zero contra o crime", o que lhe rendia críticas de setores progressistas. A imagem do ministro mudou quando passou a fazer a relatoria de inquéritos contra a família Bolsonaro, sendo aclamado pela esquerda e criticado na extrema direita, descreve o perfil.

Em setembro do ano passado, uma reportagem da Financial Times qualificou Moraes, já no título, como o "implacável juiz brasileiro que enfrenta Elon Musk". A publicação ocorreu em meio à sequência de atritos entre o X (antigo Twitter), do bilionário, e o Judiciário brasileiro, que resultou no bloqueio da plataforma no País por quase 40 dias.

"Para seus defensores, o magistrado de 55 anos é um herói que protegeu a democracia contra uma enxurrada de notícias falsas. Para os detratores, ele é culpado de censura e mira injustamente nos conservadores", diz trecho da reportagem.

Outro entrave envolvendo Moraes para além das fronteiras nacionais foi repercutido pelo jornal The New York Times no início de fevereiro. O magistrado brasileiro foi alvo de uma ação por suposta violação à soberania americana, movida pela Trump Media, ligada ao presidente Donald Trump, e pela plataforma de vídeos Rumble.

O jornal descreveu a ação como "um esforço surpreendente" de Trump em prol de um aliado com uma trajetória similar, "que, assim como ele, é um líder de direita indiciado por haver tentado reverter sua derrota eleitoral", disse o jornal se referindo a Bolsonaro, que considera Moraes seu maior rival político.

Em outubro do ano passado, o mesmo jornal publicou uma reportagem questionando se a expansão do Supremo "para poder proteger a democracia" agora o tornava uma espécie de "ameaça". Afirmando que a Corte nomeou Moraes como uma "espécie de xerife da internet brasileira", o artigo cita a relatoria de Moraes no inquérito das fake news e narra diversas ações tomadas pelo ministro no bojo dessa investigação.