Trump chama apoiadores de 'fracos' por acreditarem em caso Epstein

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Donald Trump parece cada vez mais enrolado em uma teoria da conspiração que ele mesmo promoveu. Tentando desfazer a impressão de que está protegendo cupinchas do bilionário Jeffrey Epstein, pedófilo amigo das celebridades, que morreu na cadeia em 2019, ele criticou nesta quarta-feira, 16, seus próprios apoiadores por acreditarem em uma "farsa". Deixem que esses fracos façam o trabalho dos democratas", disse. "Não quero mais o apoio deles."

 

Depois de morto, Epstein passou a ser um bicho-papão escolhido por Trump como cabo eleitoral na campanha presidencial do ano passado. Para marcar pontos com os eleitores radicais de sua base, ele prometeu revelar os segredos mais cabeludos do caso, que envolve tráfico sexual e abuso de menores.

 

A tese preferida da base trumpista é a de que Epstein não cometeu suicídio, mas foi assassinado em uma cela do Centro Metropolitano de Correção, em Manhattan. O motivo seria uma lista secreta de clientes, incluindo celebridades, magnatas e, obviamente, políticos democratas.

 

Quando Trump assumiu, em janeiro, seu gabinete parecia ter entendido a missão. Em fevereiro, a secretária de Justiça, Pam Bondi, convocou alguns youtubers e influenciadores conservadores para uma cerimônia na Casa Branca, na qual entregou uma pasta para cada um deles com 200 páginas de documentos - um deles intitulado "lista de provas".

 

Indignação

 

No entanto, a maior parte do conteúdo já circulava na internet e não trouxe nade relevante. Após certo incômodo da base trumpista com a falta de novidades, Bondi foi à Fox News e disse, em entrevista, que ela já tinha em mãos a famigerada lista de clientes de Epstein. "Ela está na minha mesa, pronta para ser revisada", disse a secretária ao apresentador John Roberts, no programa America Reports.

 

O tempo passou, e nada. Os trumpistas começaram a cobrar nas redes sociais e Bondi foi obrigada novamente a voltar ao assunto. Na semana passada, ela reconheceu que Epstein não tinha uma lista de clientes e disse que nenhum outro arquivo relacionado ao caso seria tornado público.

 

Para provar que o bilionário havia se suicidado mesmo, o Departamento de Justiça divulgou imagens do circuito interno da cadeia que mostram o lado de fora da cela de Epstein na noite em que ele foi encontrado morto. A revista Wired, após consultar especialistas forenses, descobriu que o vídeo foi editado e três minutos de gravação haviam desaparecido - prato cheio para alimentar a conspiração.

 

Foi a senha para o início de uma ruptura incomum na base republicana. Alguns influenciadores do movimento trumpista, incluindo a ativista Laura Loomer e o apresentador Glenn Beck, pediram explicitamente que Bondi renunciasse. Megyn Kelly, que já foi o rosto mais conhecido da Fox News e hoje é podcaster, chamou a secretária de Justiça de "preguiçosa ou incompetente".

 

Fogo cruzado

 

O comentarista Tucker Carlson e o ex-conselheiro de Trump, o estrategista Steve Bannon, acusaram a Casa Branca de "falta de transparência" pela forma como o governo está lidando com o caso - embora todos tenham buscado bodes expiatórios e evitado citar diretamente o presidente americano.

 

O episódio tem potencial para se tornar uma crise política grave, no momento em que Trump vem enfrentando sinais problemáticos surgindo no horizonte: um leve salto da inflação em junho, que economistas suspeitam já ser o primeiro resultado das tarifas disparadas sem direção, e uma popularidade que vem se aproximando da casa dos 40%, um patamar histórico baixo para os padrões de Trump.

 

Segundo três pesquisas - YouGov, The Economist e Gallup - os números são puxados pelo contingente cada vez maior de americanos insatisfeito com as deportações em massa de imigrantes - 35% aprovam as políticas de imigração, ante 62% que desaprovam, de acordo com o Gallup.

 

Trump, que sempre foi um mestre em conduzir a narrativa pelo ciclo de notícias, tem encontrado dificuldade para fazer o Caso Epstein morrer. Alguns assessores, que pediram anonimato para falar abertamente com jornalistas sobre o assunto, relataram um clima de pânico na Casa Branca.

 

No dia 8, um dia depois de o Departamento de Justiça dizer que a lista de clientes não existia, o presidente criticou um repórter que perguntou sobre Epstein em uma reunião de gabinete, chamando a pergunta de "sacrilégio". "Você ainda está falando sobre isso? Há anos que se fala desse cara. É inacreditável", reclamou Trump.

 

Ontem, o presidente afirmou que o caso era o mais recente "golpe" inventado pelos democratas, que estariam usando seus apoiadores como massa de manobra. Na sua rede social, Trump afirmou que os arquivos de Epstein haviam sido "escritos" pelo ex-presidente Barack Obama - que deixou o cargo três anos antes de o bilionário morrer.

 

Desafetos

 

Ele acusou também a ex-secretária de Estado Hillary Clinton e outros desafetos, como James Comey, ex-diretor do FBI, e John Brennan, ex-chefe da CIA - os dois estão sendo investigados por seu governo. Ontem, Maurene Comey, procuradora em Manhattan, que trabalhou no caso de Epstein, foi demitida do cargo, segundo o New York Times. Não se sabe se sua defenestração teve relação com a misteriosa lista do bilionário ou se ela pagou o preço por ser filha do ex-diretor do FBI.

 

Em qualquer uma das hipóteses, piorou a impressão de que o governo está escondendo alguma coisa. A principal preocupação da Casa Branca é com a relação de Epstein com o próprio Trump. Existe um extenso arquivo fotográfico circulando online dos dois em encontros sociais em Nova York.

 

Em um perfil de Epstein feito pela New York Magazine, em 2002, Trump descreveu o bilionário como alguém com quem compartilhava a companhia de mulheres bonitas. "Conheço Jeff há 15 anos. Um cara fantástico. É muito divertido estar com ele", disse. Elon Musk, que rompeu com o presidente em junho, disse que Trump estava na lista de Epstein. "Essa é a verdadeira razão pela qual os arquivos não foram tornados públicos", escreveu o dono da Tesla no X. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A base do governo barrou, nesta quinta-feira, 16, a convocação de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na CPMI do INSS. Ele é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindinapi), uma das entidades na mira da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, por descontos ilegais a aposentados.

Embora ocupe cargo de dirigente, Frei Chico não está entre os investigados. O placar para barrar a convocação dele foi de 19 a 11.

A pauta da comissão tinha onze requerimentos para convocá-lo. Uma delas é de autoria do relator, o deputado Alfredo Gaspar (União-AL). Um dia antes da sessão, ele pediu a prisão preventiva do presidente do sindicato, Milton Baptista de Souza, o Milton Cavalo. O parlamentar havia prometido que tomaria tal medida uma semana antes, quando o investigado depôs na CPMI e ficou em silêncio.

"O que importa é que os dados provados pela CGU e pela investigação CPMI permitiram saber que o sindicato meteu a mão com força no dinheiro do aposentado, do pensionista. E nós não podemos permitir a manutenção da impunidade. Assim como foi pedido prisão de todos os demais, faço questão de dizer que vou pedir a prisão preventiva do senhor Milton Cavalo e de muitos outros integrantes do Sindinapi", disse na ocasião.

A entidade registrou um salto de 563,9% no faturamento de 2020 a 2024 e chegou à receita de R$ 154,7 milhões. Segundo as investigações, uma empresa de familiares de dirigentes, a Gestora Eficiente, recebeu R$4,1 milhões em "comissões" por processar filiações de aposentados.

Frei Chico está na mira da CPMI desde o primeiro dia. Um acordo feito entre os membros o protegia. Até então, o acordo entre os integrantes da CPMI do INSS é o de não convocar para prestar depoimento as camadas inferiores do comando dos sindicatos e associações investigadas, a menos que haja um fato concreto que justifique a convocação.

"A oitiva de Frei Chico, como dirigente, é necessária para detalhar como o sindicato conseguiu tamanho incremento e se havia controle sobre os convênios firmados", argumenta Alfredo Gaspar.

Na semana passada, durante o depoimento de Milton Cavalo, Gaspar ameaçou usar o silêncio dele para justificar uma convocação de Frei Chico à CPMI, causando o protesto de governistas. O dirigente só quebrou o silêncio para responder ao ex-ministro de Lula e deputado do PT Paulo Pimenta (RS) sobre a atuação do irmão do presidente da República no sindicato.

"Contrariando o meu advogado, quero dizer que ele nunca teve esse papel administrativo no sindicato. só político, de representação sindical. Nada mais do que isso", disse. "Não precisei em nenhum momento solicitar a ele que abrisse qualquer porta do governo."

Filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) avalia que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS deve aprovar o requerimento de convocação de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Mesmo Frei Chico não estando sob investigação da Polícia Federal, o senador acredita que a comissão precisa ouvi-lo já que é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), entidade envolvida no escândalo.

Na prática, a oposição defende a convocação de Frei Chico também como uma maneira de tentar desgastar o presidente Lula e o governo, trazendo um parente próximo para a exposição das investigações da CPMI.

"Vamos convocar este anjinho…", ironizou Flávio.

"Segundo a Polícia Federal, o Sindnapi, que tem o irmão de Lula como vice-presidente, foi o sindicato que mais desviou dinheiro de aposentados. Em seis anos, movimentou cerca de R$ 1,2 bilhão", citou o senador, justificando a necessidade de convocação.

O Sindnapi era uma das entidades responsáveis por cadastrar aposentados junto ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e realizar descontos automáticos em suas aposentadorias. Segundo as investigações, o sindicato recebeu R$ 389 milhões por meio desses descontos, entre 2021 e 2025.

A defesa do Sindnapi, na ocasião, negou irregularidades nos descontos das aposentadorias e manifestou "absoluto repúdio e indignação com quaisquer alegações de que foram praticados delitos em sua administração ou que foram realizados descontos indevidos de seus associados". (Com Aguirre Talento)

A CPMI do INSS retirou de pauta, nesta quinta-feira, 16, os requerimentos de quebra do sigilo fiscal e telemático do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi de janeiro de 2023 a agosto deste ano, período em que esteve à frente da pasta. Os pedidos também incluíam o envio de relatórios de inteligência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).

O presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), informou a medida após reunião a portas fechadas com os líderes do governo e da oposição a portas fechadas.

Três parlamentares protocolaram os requerimentos: os senadores Izalci Lucas (PL-DF) e Marcos Rogério (PL-RO) e o deputado federal Marcel Van Hattem (NOVO-RS).

Em fevereiro de 2023, Lupi publicou portaria em que avocou para si e seu gabinete a nomeação de servidores comissionados do INSS. Ele deu cargos a figuras apontadas pela Polícia Federal como participantes do esquema de descontos ilegais a aposentados, a exemplo de Geovani Batista Spiecker, ex-coordenador de suporte ao atendimento da Diretoria de Benefícios, e Jucimar Fonseca da Silva, ex-coordenador de pagamento de benefícios.

Segundo investigação realizada no âmbito da operação Sem Desconto, eles teriam facilitado descontos associativos em favor da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag).