Protestos na Argentina devem reunir milhares e se tornam primeiro teste do governo Javier Milei

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O governo de Javier Milei passará pelo seu primeiro teste de fogo nesta quarta-feira, 20, conforme grupos sociais começam a se mobilizar para um grande protesto contra suas medidas de ajuste econômico na Argentina. Historicamente os grupos sociais se reúnem para relembrar o massacre da Praça de Maio que ocorreu durante a crise econômica de 2001. Mas este ano as marchas visam ao pacote de corte de gastos e redução de benefícios do novo governo, que elaborou um protocolo de segurança com previsão de colocar a Força Nacional nas ruas.

 

Espera-se que centenas de milhares de pessoas se reúnam nesta quarta na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, e na Praça do Congresso, dois locais unidos pela famosa Avenida de Maio. No entanto, um rigoroso protocolo anunciado pela ministra de Segurança, Patricia Bullrich, na semana passada, promete punir quem bloquear vias e autoriza a polícia a reprimir tais atos. Também foram anunciados cortes de benefícios sociais a quem for flagrado por câmeras de reconhecimento facial fechando vias nas marchas.

 

A mobilização reúne cerca de 35 organizações sociais de esquerda da Argentina e é liderada pela organização trotskista Polo Obrero, cujo presidente, Eduardo Belliboni, fez a convocatória antes mesmo da posse de Javier Milei. O ativista e prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel prometeu participar da mobilização, bem como sindicatos e grupos peronistas. Porém, históricos movimentos como o Movimiento Evita e Somos Barrios de Pie, que possuem grande poder de mobilização, avisaram que não irão participar.

 

Os manifestantes se reunirão às 16h30 nas estações Retiro, Constitución e Once para marchar em direção à Praça de Maio.

 

A data escolhida não é despropositada. Em 2001, em meio a uma efervescência social causada pela crise econômica do corralito - que confiscou o dinheiro nas contas bancárias - uma multidão marchou em 19 de dezembro até a Praça de Maio para pedir a cabeça do ministro da Economia, Domingo Cavallo. As marchas se seguiram pelos próximos dois dias e terminara com o presidente Fernando De La Rúa fugindo da Casa Rosada em um helicóptero. O saldo final foi de 39 mortos e mais de 500 feridos.

 

Protocolo de Segurança

 

Simbólica, a data foi escolhida para marcar o primeiro grande protesto contra o governo de Javier Milei. Se preparando, no último dia 14, a ministra Patricia Bullrich divulgou um protocolo de segurança que visa impedir bloqueios de ruas, vias e pontes em manifestações na cidade de Buenos Aires, epicentro dos grandes protestos na Argentina.

 

Entre as medidas do protocolo estão:

 

- As quatro forças federais mais o serviço penitenciário federal vão intervir contra paralisações, piquetes e bloqueios, sejam parciais ou totais.

 

- As forças podem intervir de acordo com os códigos processuais vigentes. "Se houver um crime em flagrante, eles poderão intervir", explicou.

 

- Em caso de paralisações de rotas principais, não serão consideradas as alternativas. "Só porque existe uma rota alternativa não significa que a rota principal possa permanecer fechada", acrescentou.

 

- As medidas serão tomadas até que o espaço de circulação seja liberado.

 

- Para levar a cabo estas medidas, as forças utilizarão a força mínima necessária e suficiente. Será classificado de acordo com a resistência.

 

- Os agressores e os veículos utilizados nas infrações serão identificados. Os veículos que não cumprirem as regras de trânsito serão apreendidos.

 

Também haverá punição a quem levar crianças para os protestos. "Não vamos permitir que eles os usem como escudos", disse a ministra durante o anúncio. Em outro trecho, ela afirmou que as organizações sociais devem pagar os custos das operações de segurança: "Todos os custos ligados às operações de segurança serão faturados às organizações ou indivíduos responsáveis. O Estado não vai pagar pelo uso da força de segurança, as organizações que têm estatuto legal terão de pagar ou os indivíduos terão de suportar o custo das operações".

 

Esta quarta, a pasta de Bullrich reforçou as regras do protocolo e destacou que: estão proibidas as interrupções de vias, o uso de máscaras ou qualquer coisa que cubra o rosto, o uso de ferramentas com ou sem corte, não está permitida a presença de crianças e adolescentes.

 

Durante a reunião de gabinete nesta terça (19) com o presidente, Bullrich traçou seu plano de segurança e forçou que a ideia é "marcar força". "A ideia é tolerância zero: deter a primeira pessoa que tiver uma atitude violenta, fora da lei. É preciso deixar claro que não se pode fazer qualquer coisa. Há uma maioria de argentinos que quer viver em paz e não viver a lei da selva nas ruas", disse o governo. "Não é marketing, é uma batalha cultural".

 

Nas redes sociais, o Ministério Público da Defesa da Cidade de Buenos Aires divulgou um número de telefone ao qual os argentinos podem recorrer em caso de "violência institucional" durante as marchas.

 

Corte de benefícios sociais

 

Alinhado ao protocolo de Bullrich, na segunda-feira, 18, a ministra de Capital Humano, Sandra Pettovello, prometeu retirar benefícios sociais de quem bloquear vias ou levar crianças. A ministra acusa as organizações sociais de extorsão a quem recebe ajuda do governo para ir aos protestos. Alguns benefícios, como o Potenciar Trabajo são intermediados por algumas organizações, mas não é o caso dos auxílios mais acessados: Asignación Universal por Hijo (espécie de Bolsa Família argentino) e cartão alimentação.

 

"Queremos dar tranquilidade aos beneficiários dos planos sociais. Eles deveriam saber que ninguém pode forçá-los a protestar com a ameaça de cancelar o benefício. Por este motivo, suspenderemos o controle de presença fornecido pelas organizações sociais", afirmou. "Reiteramos: os únicos que não receberão ao auxílios serão os que vão às manifestações e bloqueiam as ruas. Como disse o presidente: "o que bloqueia não recebe".

 

Em suas redes, Milei divulgou um número de discagem direta em que os argentinos também podem realizar denúncias a supostas extorsões.

 

Entre os principais benefícios sociais na Argentina estão a AUH e o cartão alimentação. Ambos passaram por reajustes de valores na pacote de Caputo, com a AUH dobrando e o cartão alimentação recebendo um incremento de metade de seu valor atual. As duas únicas medidas do novo governo que visam conter o choque que será a inflação dos próximos meses diante da política de ajuste.

Em outra categoria

O deputado federal Gilberto Nascimento (PSD-SP) foi eleito presidente da bancada evangélica no Congresso. Apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, Gilberto venceu o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), que se aproximou recentemente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A votação ocorreu em meio a um racha da frente evangélica. Gilberto recebeu 117 votos, enquanto Otoni ficou com 61 votos. Durante a votação, a deputada federal Greyce Elias (Avante-MG), que concorria como candidata da terceira via, desistiu da candidatura para apoiar Gilberto Nascimento. Com o apoio de última hora, ela se tornou vice-presidente da bancada.

A Frente Parlamentar Evangélica (FPE) reúne 219 deputados e 26 senadores e tem papel fundamental na votação de pautas que envolvem costumes.

Desde a segunda-feira, 25, o presidente Jair Bolsonaro (PL) vinha ligando para parlamentares para pedir votos em Nascimento. Outro fiador da campanha do deputado foi o pastor evangélico Silas Malafaia.

O ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) sugeriu nesta terça-feira, 25, o nome do ex-ministro da Economia Paulo Guedes para disputar uma vaga no Senado Federal por Minas Gerais.

"Gostaria que o Paulo Guedes aceitasse ser senador por Minas Gerais. Estamos tentando. É um baita nome para o Senado", afirmou Bolsonaro durante entrevista ao jornalista Leo Dias.

Na eleição do ano que vem, os eleitores escolherão dois nomes para o Senado (por Estado), o que amplia a chance de eleição. Carioca, Guedes tem relação com Minas Gerais. Ele se formou em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte.

Em território mineiro, no entanto, há o nome do deputado federal Nikolas Ferreira (PL), que já afirmou a intenção de disputar uma das vagas para o Senado em caso de mudança constitucional, que tramita no Congresso Nacional.

Pela atual texto da Constituição Federal de 1988, pode disputar uma vaga ao Senado todo brasileiro com, no mínimo, 35 anos. Nikolas terá 30 anos na disputa de 2026. Mas há uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa diminuir a idade mínima para 30 anos, o que beneficiaria Nikolas.

O Senado Federal é a porta de entrada no Legislativo para análise e abertura de cassação de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o que nunca ocorreu. Bolsonaro já deu indícios de desejar uma ampliação de aliados dentro da Casa, o que facilitaria o embate com ministros do Supremo.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid foi "torturado" em sua delação premiada e defendeu a narrativa de que os atos golpistas de 8 de janeiro foram planejados pela esquerda. Denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR) por tentativa de golpe, Bolsonaro se defendeu das acusações e disse que os autores dos ataques são "pobres coitados".

"Ele foi torturado [...] em dado momento, estava lá o dono de tudo, o dono inquieto, é a vítima, é tudo. Falando: 'Olha, você tem um pai, uma esposa e uma filha'. Tortura psicológica", disse Bolsonaro se referindo ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, em entrevista ao jornalista Léo Dias.

Bolsonaro voltou a defender a narrativa de que os ataques golpistas do 8 de janeiro teriam sido "programados pela esquerda", justificando a falta de imagens do momento das invasões.

"Esse 8 de janeiro foi programado pela esquerda. Quando você tem imagens do pessoal quebrando lá dentro, não foi quando entrou a turma que começou a quebrar, não. Quebrando sozinho, o cara quebrando o vidro sozinho. Derrubando o quadro sozinho. Você tem essas imagens [...] Só tinha imagens de um magrinho derrubando o relógio [...] Foram 33 alertas da Abin para o GSI. Por isso que no meu entender era algo programado. Só pode ter sido pela esquerda".

Ele se referiu aos invasores como "pobres coitados, com bíblia na mão" e defendeu que o ato golpista foi "vandalismo". "Vai dar golpe em um prédio? Sem nada, sem presidente, sem arma? Você acha que vai preparar um golpe com 1500 pessoas e isso não vaza?", afirmou.

Bolsonaro ainda se defendeu dizendo que na data não estava no Brasil e afirmou que "tinha o pressentimento de que alguma coisa esquisita poderia acontecer". O ex-presidente viajou para os Estados Unidos após a eleição de 2022.

Áudios inéditos revelados pelo Fantástico, da TV Globo, mostram o envolvimento de militares e civis em um plano de golpe de Estado após a derrota de Bolsonaro em 2022. Conversas obtidas pela Polícia Federal indicam que militares em postos de comando incentivaram a participação popular, e quando não conseguiam avançar, buscavam apoio direto do ex-presidente.

Ao ser questionado sobre os áudios, o ex-presidente afirmou que estudou hipóteses para decretar estado de defesa e de sítio após o Tribunal Superior Eleitoral decidir multar o PL caso o partido questionasse os resultados nas eleições.

"Nós temos que nos preparar. Em havendo um problema no Brasil, como vamos reagir? [...] Houve uma convocação dos conselhos da defesa da minha parte? Para o estado de sítio? Não. Vamos supor que tivesse convocado. Eu mandaria uma mensagem para o Congresso. Com exposições de motivos. Pedindo ao Congresso autorização para baixar o decreto [...] Mas se não houve nem convocação dos conselhos, sem comentários. Não houve nem tentativa, nem convocação, nada. Por que essas conversas? De hipóteses de dispositivos constitucionais. Porque nos foi negado, a gente queria discutir com TSE."

Durante a entrevista, Bolsonaro ainda falou sobre sua relação com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e sua família. Ele afirmou que "Deus me salvou da facada como salvou Trump do tiro", comparando sua trajetória à do ex-presidente dos Estados Unidos. Ao comentar sua relação com Trump, afirmou que "sabia meu lugar ao falar com ele".

Em tom descontraído, relembrou as críticas que recebeu no início do relacionamento com Michelle Bolsonaro, dizendo que as colegas da ex-primeira-dama alertavam: "Se você ficar com ele, vai te espancar".