Lula diz que vai à Bolívia apoiar Arce e vincula tentativa de golpe a reservas de lítio do país

Internacional
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou nesta quinta-feira, dia 27, que manterá a viagem a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, no dia 9 de julho, após a quartelada contra o governo Luis Arce, e afirmou que fará da viagem um gesto de apoio à democracia e para fortalecer o presidente boliviano. Um dia depois de Arce denunciar uma tentativa de golpe de Estado no país andino, Lula afirmou que existe interesse em golpe na Bolívia por causa das riquezas minerais do país, maior reserva mundial de lítio.

Lula vinculou interesses econômicos internacionais em recursos minerais bolivianos a tentativas de golpe de Estado que marcam a história do país andino. A tese do interesse de empresas estrangeiras, notadamente dos EUA, circula sem provas entre políticos de esquerda aliados de Lula e de Arce.

A quartelada de quarta-feira, 26, não contou com o apoio nem da oposição de direita boliviana, liderada por Fernando Camacho e Jeanine Añez, nem da comunidade internacional, que defendeu a integridade constitucional do país.

"A Bolívia é um país que tem muitos interesses internacionais focados lá porque é a maior reserva de lítio do mundo. E tem outros minerais críticos de muita importância, além de ter gás. É preciso que a gente tenha em mente que tem interesse de dar golpe", afirmou Lula, em entrevista à rádio Itatiaia. "E eu sou contra golpe, sou favorável à democracia, por isso vou lá para fortalecer o Luis Arce, fortalecer a democracia e mostrar aos empresários que é importante manter a Bolívia governada democraticamente."

Apoio a Arce

O presidente disse que sem um governo democrático a Bolívia não seria aceita no Mercosul. O país está em fase final de adesão bloco. Em 2017, a Venezuela foi suspensa por ruptura da ordem democrática pelo ditador Nicolás Maduro.

Falando em portunhol, Lula disse: "Estarei dia 9 em Santa Cruz de La Sierra. Quero fazer uma reunião muito grande com os empresários bolivianos. Quero mostrar para aquela gente que somente a democracia é capaz de permitir que a Bolívia cresça".

O presidente disse que vai mostrar ao presidente Arce os projetos de interligação bioceânicos com obras de infraestrutura, principalmente portos, estradas ferrovias, que podem tirar a Bolívia do isolamento do mar e permitir aos produtos fabricados no país e no Brasil chegar à Ásia e à China em menor tempo.

O presidente disse ser amigo tanto de Arce quanto de Evo Morales e "conhecer bem" ambos, antes de terem se tornado presidentes. Arce foi ministro da Economia no governo Evo e elegeu-se com o apoio dele, mas atualmente ambos rivalizam e disputam internamente no Movimento ao Socialismo por uma candidatura presidencial em 2025.

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O ex-prefeito de Duque de Caxias (RJ) e secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, Washington Reis (MDB), foi um dos alvos da operação da Polícia Federal (PF), deflagrada nesta quinta-feira, 4, que apura supostas fraudes nos cartões de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em sua segunda fase, a Operação Venire já havia culminado na prisão de seis suspeitos em maio de 2023, e indiciou Bolsonaro em março deste ano. Na ocasião, também foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão, em endereços em Brasília e no Rio de Janeiro.

Segundo o inquérito da PF, foi da cidade de Duque de Caxias que partiu a adulteração nos registros de aplicações de doses de vacina contra covid-19 no ex-presidente. As investigações tiveram origem na Controladoria-Geral da União (CGU) e foram reveladas pelo Estadão/Broadcast.

A falsificação, segundo a PF, teria o intuito de burlar regras sanitárias durante a pandemia de covid-19, evitando possíveis problemas para que Bolsonaro entrasse nos Estados Unidos, país que exigia a imunização dos estrangeiros, no fim de 2022, e para onde ele foi após perder as eleições presidenciais.

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, foi um dos presos na primeira fase. Ele assinou um acordo de delação premiada e foi solto em 9 de setembro - as informações prestadas por ele ajudaram a investigação sobre tentativa de golpe de Estado, na qual Bolsonaro também é investigado. Segundo os investigadores, Cid imprimiu a carteira de vacinação falsa do ex-presidente dentro do Palácio da Alvorada.

Após uma primeira tentativa frustrada da fraude, Cid solicitou um novo cartão de vacinação ao ex-major do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros, que emitiu o documento em Duque de Caxias. Segundo a PF, em dezembro de 2022, João Carlos de Sousa Brecha, então secretário de Governo de Duque de Caxias, inseriu dados fraudulentos no sistema do SUS sobre a suposta vacinação de Bolsonaro.

As informações inseridas apontavam que o então presidente foi à cidade fluminense receber doses da vacina Pfizer nos dias 13 de agosto e 14 de outubro de 2022. No entanto, conforme as diligências, o deslocamento de Bolsonaro até a cidade fluminense nas datas indicadas não foi comprovado.

Os dados inseridos por Sousa Brecha foram removidos seis dias depois pela servidora Claudia Helena Acosta, chefe da Central de Vacinas da cidade, sob alegação de "erro". Neste meio tempo, porém, já haviam sido impressos comprovantes de vacinação com as informações fraudulentas, que foram entregues às autoridades de imigração dos Estados Unidos.

Sousa Brecha foi preso durante a primeira fase da Operação Venire. Nessa segunda fase, Célia Serrano da Silva, secretária de Saúde do município, também foi alvo.

Líder de um clã político formado na Baixada Fluminense, o ex-prefeito de Duque de Caxias Washington Reis (MDB) foi alvo, nesta quinta-feira, 4, de mandados de busca e apreensão em uma operação que investiga supostas fraudes nos cartões de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Aliado de primeira hora da família Bolsonaro no Estado, Reis e outros três irmãos políticos ampliaram a base e influência eleitoral no Rio de Janeiro às margens de nomes como o ex-chefe do Executivo, do ex-governador Sergio Cabral e do atual mandatário estadual Cláudio Castro (PL).

Washington Reis é secretário estadual de Transportes de Castro, mas a relação com o governo estadual não começou com o atual governador. Foi subsecretário estadual de Obras Metropolitanas do Rio na gestão de Sergio Cabral, colega de MDB, em 2009. A aliança com Cabral rendeu a Reis uma votação expressiva no ano seguinte. O político da Baixada Fluminense já havia sido eleito prefeito de Duque de Caxias (2004 a 2008), vereador e deputado estadual por três mandatos e chegou à Câmara dos Deputados como um dos dez mais votados no Estado, em 2010.

O ex-prefeito de Caxias permaneceu em Brasília de 2011 a 2017, ano que renunciou ao cargo como deputado para disputar o quarto mandato como prefeito da segunda maior cidade do Estado. Foi eleito com facilidade, com 54,18% dos votos contra 45.82% de Dica (PTN). Foi reeleito em 2020, mas não concluiu o mandato. Na eleição de 2022, Reis era cotado para compor como vice-governador na chapa de Cláudio Castro. O MDB formalizou a sua indicação, mas seu nome acabou impugnado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-PR). Em seu lugar, assumiu como vice na chapa de Castro o ex-secretário estadual Thiago Pampolha (União Brasil).

Reis foi condenado, em dezembro de 2016, a 7 anos, 2 meses e 15 dias de reclusão, e 67 dias multa, pela prática de delitos previstos na Lei de Crimes Ambientais e na Lei sobre Parcelamento do Solo Urbano. Ele foi acusado por causar dano ambiental a uma área na qual determinou a execução de loteamento em Duque de Caxias à época em que era prefeito do município, entre 2005 e 2008.

Aliança com Jair Bolsonaro

A aliança com o ex-presidente Jair Bolsonaro se estreitou após a chegada do político fluminense ao Palácio do Planalto, em 2018. Washington Reis se aproximou do presidente com a ajuda do filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), de quem o ex-prefeito é próximo. Mas a relação entre os dois é mais antiga. Em dezembro de 2018, com Bolsonaro eleito, Washington deu o nome do pai do ex-presidente a uma escola militar na cidade.

Flávio foi um dos articuladores da aliança entre Reis e Castro para as eleições de 2022. Para o filho do ex-presidente, Reis era um dos nomes que fortaleceria o palanque de Bolsonaro no Rio de Janeiro.

Os nomes de Bolsonaro e Reis voltaram a ser associados em maio do ano passado, quando a Polícia Federal fez buscas na casa do ex-presidente e prendeu o tenente coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, além de outras cinco pessoas no âmbito de uma operação sobre a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema do Ministério da Saúde.

Os investigadores ainda fizeram buscas na casa do deputado federal Gutemberg Reis, em Duque de Caxias, irmão de Washinton Reis, e no apartamento funcional em Brasília. Segundo o inquérito da PF, foi da cidade de Duque de Caxias que partiu a adulteração nos registros de aplicações de doses de vacina contra covid-19 no ex-presidente Jair Bolsonaro. As investigações tiveram origem na Controladoria-Geral da União (CGU) e foram reveladas pelo Estadão/Broadcast.

Registros fraudulentos no sistema do SUS

De acordo com a PF, em dezembro de 2022, João Carlos de Sousa Brecha, então secretário de Governo de Duque de Caxias, inseriu dados fraudulentos no sistema do SUS sobre a suposta vacinação de Bolsonaro.

As informações inseridas apontavam que o então presidente foi a Duque de Caxias receber doses da vacina Pfizer nos dias 13 de agosto e 14 de outubro de 2022. No entanto, de acordo com as diligências, o deslocamento do então presidente até a cidade na Baixada Fluminense nas datas indicadas não era viável.

Os dados inseridos por Sousa Brecha foram removidos seis dias depois pela servidora Claudia Helena Acosta, chefe da Central de Vacinas da cidade, sob alegação de "erro". Neste ínterim, porém, já haviam sido impressos comprovantes de vacinação com as informações fraudulentas, que foram entregues às autoridades de imigração dos Estados Unidos.

Em entrevista ao Estadão, em maio de 2023, Washington Reis negou que Jair Bolsonaro tenha pedido para alterar o seu cartão de vacinação ou o da filha. "Bolsonaro é um cara sistemático, e em quatro anos nunca pediu nenhum tipo de favor", afirma. "Mais fácil oceano secar do que o Bolsonaro pedir um favor desses."

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a ausência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em eventos promovidos pelo governo federal. O petista lamentou a postura do governador e cobrou dele um reconhecimento sobre os investimentos feitos pelo governo federal.

"Não tenho que perguntar se o governador gosta ou não gosta de mim. Não quero casar com o governador. Eu quero governar esse país, e é por isso que eu venho", disse, em cerimônia de entrega de 280 novas ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) na cidade de Salto, em São Paulo.

"É uma pena porque o governador poderia vir com a gente, mas ele não vem a nenhum lugar que eu convido", acrescentou o presidente.

Após o evento, Lula viajará para Campinas para participar da cerimônia do viaduto Bandeirante (Lote 3 e parcial do Lote 2). O presidente afirmou que a obra conta com investimentos da Caixa Econômica Federal e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O chefe do Executivo disse que Tarcísio também está convidado para o evento, mas não deve comparecer. "Ele Tarcísio não vem porque ele diz: 'O dinheiro é do BNDES, não é do Lula, eu tomei emprestado e eu vou pagar'. O que ele tem que saber? É que o BNDES empresta dinheiro para o governador no meu governo, porque no governo deles não emprestava um centavo", afirmou.

No discurso, o presidente criticou a gestão comandada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Tarcísio. "O Brasil não é um país pequeno. O Brasil é um país grande. O problema desse país é que muitas vezes ele foi governado por gente que tinha pouca massa encefálica na cabeça e não pensava corretamente sobre o futuro do país", disse.

Na esteira, Lula também criticou a forma como o governo federal da época conduziu o País durante a pandemia da covid-19. "A covid veio num momento que tínhamos um gestor irresponsável", pontuou o petista.