EUA: republicanos projetam união do partido e atacam Biden por crise na fronteira

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Com a presença de Nikki Haley e Ron DeSantis, rivais de Donald Trump nas prévias, o segundo dia da Convenção Nacional Republicana busca passar a imagem de união após o atentado sofrido por Trump.

 

Nikki Haley subiu ao palco entre vaias e aplausos e começou dizendo que Donald Trump tem "seu total apoio". Ela defendeu que esse é um momento crítico para os Estados Unidos, que partido precisa se unir para salvar o país e direcionou o seu discurso para aqueles que não concordam totalmente com o líder republicano - o seu eleitorado.

 

"Você não precisa concordar com Trump 100% do tempo para votar nele. Eu mesma nem sempre concordo, mas nós concordamos mais do que discordamos. Concordamos em manter o país forte, manter o país seguro, e concordamos que os democratas foram tanto para esquerda que nossas liberdades estão em risco", disse.

 

Haley, que buscava o voto dos republicanos moderados, fez duras críticas a Donald Trump durante as prévias do partido e se recusou a declarar apoio a ele imediatamente após desistir da sua candidatura. Mesmo quando disse que votaria em Trump, destacou que era ele quem deveria convencer os seus eleitores, sinalizando que não pediria votos como fez esta noite.

 

Em seu discurso, a ex-embaixadora dos EUA na ONU apontou as fragilidades de Joe Biden, que tem a aptidão para o cargo colocada em dúvida. E disse que Vladimir Putin não teria invadido a Ucrânia se os Estados Unidos tivessem um homem forte na Casa Branca, alegação que o próprio Trump repete com frequência.

 

Na mesma linha, o governador da Flórida Ron DeSantis se disse "alarmado que o presidente dos EUA não tem capacidade para as funções do seu gabinete". DeSantis se elegeu apoiado por Trump, com quem rompeu quando começou a se projetar nacionalmente. Ele chegou a disputar a nomeação republicana este ano, mas desistiu ainda no começo das primárias. "Donald Trump foi demonizado. Ele foi processado. Ele quase perdeu a vida", disse. "Não podemos decepcioná-lo."

 

Enquanto Donald Trump recebia o apoio de seus rivais nas primárias, os antigos rostos do Partido, como o ex-presidente George W. Bush, seu vice Dick Cheney, e a filha dele Liz Cheney, ficaram de fora da convenção. O que reforça o domínio do trumpismo sobre os republicanos.

 

A união do partido em torno da figura de Trump foi evidenciada na fala do senador Ted Cruz. Ele abriu o seu discurso condenando o atentado ao comício do ex-presidente e pregando que "Deus abençoe Donald Trump", antes de mudar de assunto para imigração.

 

A declaração foi percebida pela imprensa americana como uma virada do texano. Eles disputaram a nomeação republicana em 2016 e, na Convenção Republicana daquele ano, Cruz declinou de apoiar Trump. "Vote com a sua consciência", disse na última convenção que participou.

 

Imigração

 

O tema desta noite é "Faça a América Segura de Novo" - alusão ao slogan trumpista "Make America Great Again" e imigração tem sido uma constante nos discursos. Embora as entradas na fronteira tenham caído nos últimos meses, os republicanos acusam o governo Biden de permitir uma "invasão" que o vetor da violência nos Estados Unidos.

 

Na plateia, cartazes distribuídos pela organização diziam "pare o banho de sangue na fronteira de Biden".

 

"Os problemas que nós enfrentamos, causados pelo partido democrata, são enormes, mas as soluções são muito simples. Primeiro, pare a "Bidenvasion" (algo como invasão de Biden) e construa o muro", disse Kari Lake, candidata ao Senado pelo Estado fronteiriço do Arizona, antes de ser interrompida pelos gritos de "construa o muro, construa o muro" que ecoaram na multidão.

 

"O Estado do Grand Canyon se transformou no Estado do fentanil", continuou. Apoiadora fervorosa de Donald Trump, ela acusou os democratas de entregarem a fronteira para os cartéis e alegou que "por causa dos deles, criminosos e drogas mortais estão entrando e as nossas crianças estão morrendo".

 

As drogas ilegais, contudo, chegam aos Estados Unidos em sua maioria por entradas legais, escondidas em carros, aviões e ônibus, de acordo com o Drug Enforcement Administration.

 

Na mesma linha, o senador da Flórida Rick Scott descreveu o que seria o "pesadelo" de mais quatro anos de governo democrata. "No meu pesadelo, Biden e os democratas apagaram nossa fronteira e trouxeram tantos ilegais para o nosso país que os cartéis mexicanos começaram a ganhar milhas."

 

Os republicanos repetiram as alegações infundadas de Donald Trump de que os democratas estariam fraudando o sistema eleitoral ao permitir que imigrantes votem.

 

Se na abertura da Convenção Republicana, a imigração permeou discursos voltados para economia, esta noite as prioridades foram invertidas e a fronteira foi o tema central. "Se você chegou aqui ilegalmente sob Joe Biden, você vai voltar para o lugar de onde você veio com Trump", disse Jim Banks, deputado e candidato ao Senado por Indiana.

 

Política externa

 

A política externa do governo Joe Biden também foi alvo de críticas na noite dedicada à segurança. Jim Banks atacou a saída das tropas americanas do Afeganistão. O acordo com o Taleban foi assinado por Donald Trump, mas a retirada ocorreu durante o governo democrata - e de forma caótica, marcada por imagens de afegãos desesperados pendurados aos aviões americanos na tentativa de fugir do país.

 

"Como veterano da guerra do Afeganistão, nunca me senti tão envergonhado como quando a retirada desastrosa de Joe Biden deixou 13 heróis americanos mortos", disse Banks. "Joe Biden é uma vergonha", continuou. "Passamos do presidente mais forte de minha vida, o presidente Trump, para o presidente mais fraco da história, Joe Biden."

 

Em um dos momentos mais dramáticos da noite, Sam Brown, veterano da guerra no Afeganistão contou como foi queimado vivo e quase morreu depois que uma bomba do Talibã explodiu debaixo do seu veículo, em 2008.

 

"Olhe para o meu rosto. Esse é o alto custo da guerra", disse o candidato ao Senado que ficou com cicatrizes permanentes depois de quase morrer. "Se Joe Biden continuar na Casa Branca, mais militares vão pagar esse preço."

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) a cumprir pena em prisão domiciliar. Segundo a defesa, o ex-presidente ficará em Maceió.

A decisão tomada nesta quinta-feira, 1º, levou em consideração a idade e os problemas de saúde do ex-presidente. "A necessidade de tratamento específico admitem a concessão de prisão domiciliar humanitária", escreveu Moraes.

Collor terá que usar tornozeleira eletrônica e só poderá receber visitas de advogados, de médicos e da família. Moraes determinou a suspensão do passaporte do ex-presidente.

A defesa pediu a prisão domiciliar humanitária alegando que Collor enfrenta comorbidades graves e depende de medicamentos de uso contínuo.

Ao ser ouvido na audiência de custódia - horas depois de ser preso na madrugada de sexta passada, 25 -, no entanto, o ex-presidente negou ter problemas de saúde ou tomar remédios.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi a favor da prisão domiciliar "excepcional". Em parecer enviado ao STF, Gonet afirmou que a defesa comprovou a "gravidade" do quadro de saúde de Collor.

Por exigência de Moraes, os advogados tiveram que apresentar histórico médico, prontuários, laudos e exames que atestassem os problemas de saúde do ex-presidente.

O ministro afirma na decisão que houve a "constatação real da presença progressiva de graves sintomas não motores e motores" da Doença de Parkinson, "inclusive histórico de quedas recentes".

"A compatibilização entre a Dignidade da Pessoa Humana, o Direito à Saúde e a efetividade da Justiça Penal indica a possibilidade de concessão da prisão domiciliar humanitária à Fernando Affonso Collor de Mello, pois está em tratamento da Doença de Parkinson - há, aproximadamente, 6 (seis) anos", diz a decisão.

Collor foi preso para cumprir a condenação de 8 anos e 6 meses em um processo da Operação Lava Jato. Collor foi considerado culpado pelo recebimento de R$ 20 milhões em propinas da UTC Engenharia em troca do direcionamento de contratos de BR Distribuidora. Ele está detido no Presídio Baldomero Cavalcanti de Oliveira, em Maceió.

A prisão foi decretada por Alexandre de Moraes e depois confirmada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal. O ministro considerou que não há mais recursos possíveis para reverter a condenação do ex-presidente e que os pedidos da defesa agora são apenas "protelatórios".

O líder do PDT na Câmara dos Deputados, Mário Heringer (MG) critica a condução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na crise que envolve o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o tratamento dado ao ministro da Previdência, Carlos Lupi. Segundo ele, a demissão do chefe da pasta também poderia levar à saída da bancada da base.

"Eu defendo essa posição (a saída). Minha bancada, até onde sei, todos defendem essa posição. É claro que não depende só exclusivamente de mim, mas essa é a posição que defenderei", afirmou.

Na avaliação dele, o governo vem adotando posição duvidosa na condução da crise. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, defendeu a permanência de Lupi no governo, mas afirmou que se houver algo no futuro, será afastado. Poucas horas após essa entrevista, Lula nomeou o procurador federal Gilberto Waller Junior como novo presidente do INSS, sem consultar Lupi.

"A entrevista da Gleisi foi salomônica. Ela fala que o governo vai manter o ministro e logo embaixo o ministro desqualifica o ministro fazendo a indicação do presidente do INSS sem ter conversado com Lupi antes. Se ele acreditasse na nossa posição, chamaria o Lupi junto e indicariam juntos", disse Heringer.

Para o líder do PDT na Câmara, o governo deveria assumir parte da responsabilidade, e não jogá-la apenas a Lupi.

"Na verdade, quem indica é o ministro, mas quem aprova é a Casa Civil. Lupi indicou, mas vocês assinaram embaixo". afirmou. "Essa responsabilidade é que o governo deveria entender que tem na indicação, e ter trabalhado junto conosco junto na defesa da posição do ministro. Isso é uma posição de extremo constrangimento."

Na semana passada, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram uma operação que identificou um esquema de cobranças irregulares que soma R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, segundo a PF.

No processo, 11 entidades associativas foram alvo de medidas judiciais. Em troca dos descontos mensais, elas afirmam que prestam serviços dos mais diversos tipos, como assistência funerária, consultas médicas e "maridos de aluguel" (reparos em residências). A operação levou à queda o ex-presidente do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanutto, indicado por Lupi.

Nesta quarta-feira, 31, a Justiça Federal decretou a quebra do sigilo das comunicações pessoais e corporativas de Stefanutto e mais seis ex-integrantes do alto escalão da autarquia sob suspeita de envolvimento com o esquema.

Na Câmara, a pressão sobre o governo e sobre Lupi crescem. Também na quarta-feira, a oposição protocolou um requerimento pedindo a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as fraudes. Cabe ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), abrir ou não a CPI.

Em audiência na Câmara nesta terça-feira, o ministro da Previdência, Carlos Lupi se defendeu e disse que não houve ações sobre as fraudes agora sob investigação em governos passados e afirmou que já está aparecendo quem são os mentores.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho (PT), disse nesta quinta-feira, 1.º, que a permanência do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), no cargo passa por uma avaliação das condições políticas do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resiste a demitir o aliado e quer mostrar que o centro da crise está no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

Lupi está acossado desde a semana passada pelo escândalo bilionário dos descontos indevidos nos benefícios recebidos por aposentados e pensionistas, que veio à tona após uma operação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU).

Marinho fez a declaração para a imprensa ao chegar ao ato de 1.º de Maio promovido pelas centrais sindicais na zona norte de São Paulo. Ao contrário de anos anteriores, Lula não participou do evento após o baixo comparecimento no ato de 2024.

De acordo com Marinho, quando há troca de ministro "não necessariamente" o motivo é o cometimento de alguma ilegalidade.

"A condição política pode determinar a continuidade ou não (do ministro do cargo). O que o governo está fazendo é dar instrumento ao ministro Lupi, primeiro, mostrar capacidade de resolver os problemas. Hoje, tem um novo presidente do INSS, que é a instituição principal para solucionar esses problemas. Então, o ministro tem em mãos todas as ferramentas para virar essa chave. Vai depender agora da funcionalidade, da velocidade dessas soluções", disse Marinho.

Como mostrou o Estadão, Lula determinou uma intervenção no INSS e escolheu na quarta-feira, 30, o procurador federal Gilberto Waller Júnior como novo presidente do órgão. Ele substitui Alessandro Stefanutto, indicado de Lupi que pediu demissão após ser afastado pela operação da PF.

Um dos objetivos da intervenção determinada por Lula é mostrar a origem do esquema, que, de acordo com a Polícia Federal, começou no governo de Jair Bolsonaro.

Este ponto foi reforçado por Luiz Marinho ao chegar ao evento das centrais sindicais. "Esse fato começou em 2019, no governo anterior. Houve ali a criação de uma quadrilha para prejudicar os aposentados e pensionistas. À medida que se descobriu, o governo determinou a apuração rigorosa. Doa a quem doer, nós vamos até o fim da apuração e quem dever tem que pagar", disse.

Macêdo diz que não há nada que 'desabone' conduta de Lupi

Ao discursar no ato em São Paulo, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, disse que quem tinha que ser preso, afastado ou demitido assim o foi. Em entrevista, Macêdo afirmou que "até o presente momento" não há nada que "desabone" a conduta de Lupi.

Uma das críticas ao ministro da Previdência Social é a demora em agir após ser informado em 2023 sobre o aumento de denúncias de descontos não autorizados nas aposentadorias e pensões - Lupi nega ter sido omisso e argumenta que ordenou uma apuração sobre o caso, concluída em 2024.

"Ele (Lupi) ou qualquer outro ministro se cometer algum ato que não seja correto está sujeito a ser demitido pelo presidente da República. Reafirmo o que já foi dito pelos autos: não tem nenhum envolvimento do ministro. Portanto, ele tem condição de conduzir sua pasta fazendo as investigações internas que têm que ser feitas", disse Macêdo.

Lula diz que seu governo descobriu fraude no INSS

No pronunciamento feito na quarta-feira em rede nacional de rádio e TV, para comemorar o Dia do Trabalhador, 1.º de Maio, Lula afirmou que foi seu governo quem descobriu a fraude no INSS."Determinei à Advocacia-Geral da União que as associações que praticaram cobranças ilegais sejam processadas e obrigadas a ressarcir as pessoas que foram lesadas", disse o presidente.

Mesmo assim, aliados do presidente defendem a demissão de Lupi, mas o presidente resiste a trocar o aliado para manter o discurso que a crise está concentrada no INSS e para não perder a aliança com o PDT.

A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), defendeu a permanência do pedetista no cargo e afirmou que não há nada contra ele no inquérito da Polícia Federal.

"O presidente (Lula) sempre é muito cauteloso em relação à presunção de inocência. Eu acho que ele (Lupi) está fazendo as explicações, se defendendo. E, obviamente, se tiver alguma coisa que no futuro venha a envolvê-lo, aí não só ele, como qualquer outro ministro, será afastado", disse Gleisi, em entrevista à GloboNews na quarta-feira.

Na tentativa de conter os danos, a pasta anunciou que parte do dinheiro desviado dos aposentados e pensionistas será devolvido na próxima folha de pagamento. A equipe de Lula ainda tenta encontrar, porém, um instrumento legal para ressarcimento de todo o montante. Pelos cálculos da Polícia Federal, os valores descontados irregularmente, de 2019 a 2024, chegam a R$ 6,3 bilhões.