Documentário sobre a prisão e tortura da freira expõe lacunas não contadas do Golpe Militar de 1964
Um debate sobre as consequências da ditadura militar no Brasil, que completou 60 anos do Golpe de 64, no domingo 31 de março, é fundamental em momentos de ameaça à democracia. E o ponto de partida para essa necessária reflexão é a exibição do documentário de longa metragem Maurina, O Outono que Não Acabou. Trata-se do resgate da verdadeira história da freira Madre Maurina, de Ribeirão Preto, que foi presa em 1969 e torturada física e psicologicamente por um crime que nunca cometeu: o de apoiar guerrilheiros que lutavam contra o regime militar.
O diretor do filme, Gabriel Mendeleh, premiado na Espanha e nos Estados Unidos, diz que a "história da Madre Maurina é símbolo contra a ditadura militar, foi através dela que grandes nomes dessa luta, como Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo da capital paulista, começaram sua militância".
A historiadora Nainora Freitas, uma das entrevistadas no documentário, diz que é extremamente relevante discutir a ditadura militar a partir da história da Madre Maurina. "Quando nós olhamos para a história da ditadura militar, que é uma história relativamente recente no Brasil, vemos que ainda é uma história apagada. Nós temos muitas lacunas a serem desvendadas neste processo histórico. E falar de Madre Maurina é trazer um pedacinho dessa história ainda oculta," afirma.
Mendeleh ressalta que o documentário também tem o viés de que a ditadura militar não ficou restrita às grandes capitais. "Quando a gente traz uma história dessa, da Madre Maurina, pro interior de São Paulo, é uma forma de mostrar que a ditadura também chegou nas cidades de menor porte do interior," analisa.
Madre Maurina - o documentário*
O filme Maurina, o Outono que Não Acabou, documentário de longa-metragem de Ribeirão Preto foi premiado na Espanha e nos Estados Unidos, além de participar de vários festivais mundo afora. Produzido entre 2020 e 2021, o documentário faz um resgate histórico ao se debruçar sobre documentos da época, jornais, arquivos e entrevistar ex-presos políticos, advogados, historiadores, religiosos e jornalistas que conheceram a freira dentro e fora das prisões. Depoimentos emocionantes que ilustram o drama da injustiça na prisão da religiosa.
Em 80 minutos, o documentário mostra a trajetória de Madre Maurina desde quando foi diretora do Lar Santana em Ribeirão Preto-SP, orfanato criado em 1931 que serviu de abrigo a crianças carentes até ser fechado em 2014. Em outubro de 1969, acusada de um suposto envolvimento com o grupo terrorista Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN), foi presa e sofreu diversas torturas físicas e psicológicas. Ela passou pela cadeia pública de Cravinhos (SP) e pelas prisões de Tiradentes e Tremembé, ambas em São Paulo (SP).
Seu nome foi o primeiro numa lista de troca de prisioneiros políticos pelo Cônsul-Geral do Japão, Nobuo Okuchi, sequestrado pelos movimentos guerrilheiros em 1970. Dessa forma, ela foi extraditada para o México. Um aspecto fundamental na história da prisão de Madre Maurina, foi o envolvimento do Arcebispo de São Paulo à época, Dom Paulo Evaristo Arns.
O filme foi produzido pela Kauzare Filmes, de Ribeirão Preto, e foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo - PROAC, em 2019. Tem o apoio do Governo do Estado de São Paulo, da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, do Governo Federal, do Ministério da Cultura e da Lei Paulo Gustavo.
Trailer do documentário
Premiações e festivais
- Espanha (2022/23). Festival Cinema Independente de Sevilha (SEVIFF). Prêmios: "Melhor documentário de longa-metragem", "Melhor diretor de documentário de longa-metragem", "Melhor diretor estreante de documentário de longa-metragem".
- Índia (2022/23). Golden Eagle International Film Festival. Prêmio: "Melhor Documentário de Longa-Metragem".
- Estados Unidos (2022/23). Docs Without Borders Film Festival. Prêmio: "Mérito Excepcional", categoria Revolution and Reform.
- Moldávia (2022/23). Serbest International Film Festival (SIFF). Semifinalista.
- Portugal (2022/23). Lisboa Indie Film Festival (LISBIFF). Seleção.
- França (2022/23). Red Movie Awards. Seleção.
- Malta (2022/23). Your Way International Film Festival. Seleção.
- Itália (2022/23). Naples Film Awards. Seleção
Madre Maurina traz reflexão sobre a ditadura militar
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