Enquanto o desmatamento na Amazônia e no Cerrado segue como pauta central da crise ambiental no Brasil, outro fenômeno vem crescendo de forma menos visível — e igualmente preocupante: o avanço da degradação ambiental nas áreas urbanas. Nas últimas duas décadas, cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Belo Horizonte perderam centenas de hectares de cobertura vegetal, comprometendo a qualidade do ar, o regime de chuvas e a vida silvestre local.
Um levantamento recente do MapBiomas apontou que o país perdeu, só em áreas urbanas, mais de 100 mil hectares de vegetação nativa entre 2000 e 2022. O número é alarmante e está relacionado ao crescimento desordenado, à expansão imobiliária e à falta de políticas de preservação nos centros urbanos.
“Estamos presenciando uma forma de desmatamento silencioso e pulverizado. Árvores, matas ciliares e fragmentos de floresta são removidos sem fiscalização adequada, principalmente nas periferias”, alerta Carla Barreto, urbanista e pesquisadora da USP.
Cidades sem verde: os efeitos colaterais
A perda de áreas verdes tem efeitos diretos na vida urbana. Além da diminuição da biodiversidade, o desmatamento nas cidades está ligado ao agravamento de enchentes, ilhas de calor e problemas respiratórios.
Em São Paulo, por exemplo, o bairro do Grajaú, na zona sul, perdeu cerca de 18% de sua vegetação nos últimos 10 anos. Já na zona oeste do Rio, bairros como Recreio dos Bandeirantes e Vargem Grande viram loteamentos avançarem sobre áreas de mata atlântica, muitas vezes sem licenciamento ambiental.
“A natureza nas cidades não é luxo. É infraestrutura verde, necessária para regular a temperatura, absorver água da chuva e garantir qualidade de vida”, explica o engenheiro ambiental Alexandre Nóbrega.
Iniciativas em resposta
Apesar do cenário preocupante, algumas cidades têm buscado alternativas. Curitiba, referência em sustentabilidade urbana, ampliou corredores ecológicos e incentiva o reflorestamento de áreas degradadas com apoio de escolas e moradores.
Em Salvador, o programa “Verdejando” já plantou mais de 80 mil mudas em áreas urbanas nos últimos dois anos. O projeto inclui monitoramento via drone, viveiros públicos e ações de educação ambiental.
Caminhos para a preservação urbana
Especialistas apontam três medidas urgentes para conter o desmatamento urbano:
Revisão dos planos diretores municipais, com foco em ocupação sustentável;
Fiscalização digital e georreferenciada, com uso de satélites e inteligência artificial;
Educação ambiental nas escolas urbanas, reforçando o papel da comunidade na preservação.
A crise ambiental nas cidades já é realidade — e ignorá-la é ampliar os impactos da emergência climática. Preservar o verde urbano não é apenas proteger o meio ambiente: é cuidar da saúde, da segurança e do futuro dos brasileiros.
Brasil enfrenta aumento no desmatamento de áreas urbanas e acende alerta sobre crise ambiental silenciosa
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