Gayer mantinha escola de inglês e loja bolsonarista com verba da Câmara, diz PF

Política
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O deputado federal Gustavo Gayer mantinha, em um espaço locado e custeado pela Câmara dos Deputados em Goiânia, uma escola de inglês e uma loja de camisetas e acessórios políticos, que seguiam a linha bolsonarista do parlamentar. O parlamento paga R$ 6,5 mil referente ao espaço, que deveria ser um escritório político. Também arca com salários dos secretários que, segundo a PF, acabam prestando serviços para as empresas de Gayer.

Nas redes sociais, o deputado destacou o fato de a operação ser aberta dois dias antes do segundo turno das eleições, "da qual seu candidato participa em Goiânia". Segundo o parlamentar, as buscas visam "claramente prejudicar seu candidato". "Vieram na minha casa, levaram meu celular, meu HD. Essa democracia relativa está custando caro", bradou, dizendo não saber do que trata a investigação.

Os achados sobre as empresas de Gayer mantidas com dinheiro público constam do inquérito da Operação Discalculia, aberta nesta sexta-feira, 25, no encalço do parlamentar e de seus assessores. O que a Polícia Federal descobriu é que os aliados do deputado sabiam da gravidade dos desvios (detalhes mais abaixo).

Segundo a Polícia Federal, Gayer é o "autor intelectual" de um esquema de desvio de cota parlamentar, inclusive via uma organização social criada com documentos falsificados. O nome da operação faz referência inclusive a essa empresa constituída com suposta fraude.

Discalculia é o nome de um "transtorno de aprendizagem relacionado a números". A PF escolheu a expressão para batizar a ofensiva porque um erro no registro da organização usada para desvios fazer com que quadro social da empresa fosse formado por crianças de 1 a 9 anos.

No caso das suspeitas envolvendo as empresas mantidas pelo deputado com dinheiro público, os investigadores destacam por exemplo, que a loja Desfazueli - registrada em nome do filho de Gayr - era uma continuação das operações realizadas anteriormente sob o nome de Bolsonarius.

Segundo a Polícia Federal, Gayer tinha "postura de comando frente ao empreendimento", orientando a equipe e monitorando o desempenho das vendas, "demonstrando um compromisso com o sucesso do negócio". Em uma conversa com João Paulo, Gayer ordena que este 'leve as camisetas e adesivos para escola'.

Ao requerer a abertura da Operação Discalculia, os investigadores argumentaram que a atividade privada de Gayer "internaliza a integralidade dos bônus e somente parcialmente os ônus".

"Internalizar os custos de um empreendimento significa levar em conta os custos ambientais e administrativos, incluindo especialmente as despesas básicas com os serviços essenciais (água, energia elétrica, internet, tributos, etc.) na elaboração dos custos de produção e, consequentemente, assumir esses custos, sendo certo que esse expediente é elementar no universo da atividade privada. Ocorre que, ao direcionar a verba parlamentar para assunção de tais encargos, para além da irrefutável tredestinação da res publica, o parlamentar acaba por desequilibrar o ambiente concorrencial do setor, ante a matemática e objetiva posição de vantagem que se colocou", anotou a PF.

Assessor temia que Gayer vivesse meme do 'senhora, senhora'

Um assessor do deputado federal Gustavo Gayer, investigado por desviar cota parlamentar para bancar suas empresas, reconheceu a gravidade das irregularidades que aconteciam no escritório político do parlamentar e Goiânia. Ele temia que, se as suspeitas de peculato viessem à tona, Gayer vivesse situação semelhante a uma investigada que, em 2015, fugiu nas ruas de Goiás, criando o meme 'senhora, senhora'.

A referência ao meme 'senhora, senhora' aparece na mensagem trocada entre João Paulo Cavalcante, que atua como assessor do deputado, e Marco Aurelio Nascimento, secretário parlamentar. "A escola está sendo paga com recuso público e tá sendo usada para um fim totalmente que tipo num existe né, num tem como ser assim e aí eles vão levando ou seja ainda não entenderam a gravidade sabe", diz João.

Em seguida, vem a brincadeira: "Moço, pra esse povo já vai ter alguém ali na porta fiscalizando... filmando... vai ser igual o caso aquela mulher do popular né na assembleia.... senhora, senhora, senhora. Num tem jeito vei o povo vai pra cima mesmo".

O diálogo faz referência a uma reportagem de 2015, exibida pela TV Anhanguera, afiliada da TV Globo de Goiás, que viralizou nas redes sociais e é relembrada até hoje. Na época, uma repórter pediu explicações a uma funcionária pública que havia batido ponto e deixado o trabalho, mas a mulher fugiu. A repórter então correu atrás dela dizendo: "Senhora? Senhora?".

João chega a dizer que Gayer seria um "alvo" fácil e reconhece a ilegalidade. "O Gustavo hoje ele é uma vidraça ele é um alvo e se for pra cima moço infelizmente a gente tá tipo errando né. Nesse sentido a gente tá pregando uma coisa e tá vivendo outra... infelizmente a gente tem muitas coisas erradas acontecendo aí".

Os diálogos foram encontrados no celular de João, que foi preso sob suspeita de ter financiado, incitado e participado do 8 de janeiro. Segundo a PF, no aparelho do assessor foram colhidos "elementos informativos do desvio de recursos públicos para a prática dos atos antidemocráticos, prática levada a efeito conjuntamente com Gustavo Gayer".

Segundo a Polícia Federal, João Paulo teria usado uma empresa de marketing, contratada pelo gabinete de Gayer, para "burlar vedação legal à sua contratação como Assessor Parlamentar, uma vez que não preencheria os requisitos exigidos". João gerenciava a agenda do deputado federal, contrariando os termos das notas fiscais emitidas em nome de sua empresa, segundo a PF.

O inquérito aponta que João Paulo de Sousa Cavalcante recebeu pelos serviços, por intermédio de sua empresa, o valor total de R$24 mil, em 3 parcelas mensais de R$8 mil, nos meses de março, abril e maio.

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Um grupo militante curdo reivindicou nesta sexta-feira, 25, a responsabilidade por um ataque à sede de uma importante empresa de defesa em Ancara, na Turquia, que matou pelo menos cinco pessoas. Um comunicado da ala militar do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) afirmou que o ataque de quarta-feira nas instalações da empresa aeroespacial e de defesa Tusas foi realizado por dois membros de seu chamado "Batalhão Imortal" em resposta aos "massacres" e outras ações da Turquia nas regiões curdas.

Um homem e uma mulher invadiram as instalações da Tusas nos arredores de Ancara, detonando explosivos e abrindo fogo. Quatro funcionários da Tusas foram mortos no local. Os agressores chegaram ao local em um táxi, que tomaram à força após matar seu motorista. Eles também foram mortos em um confronto subsequente com as forças de segurança, e mais de 20 pessoas ficaram feridas no ataque.

A Turquia atribuiu o ataque ao PKK e imediatamente lançou uma série de ataques aéreos em locais e instalações suspeitas de serem usadas pelo grupo militante no norte do Iraque ou por seus afiliados no norte da Síria.

O ataque à Tusas ocorreu em um momento de indícios crescentes de uma possível nova tentativa de diálogo para acabar com o conflito de mais de quatro décadas entre o PKK e o exército turco. No início da semana, o líder do partido nacionalista de extrema direita da Turquia, aliado do presidente Recep Tayyip Erdogan, levantou a possibilidade de que Abdullah Ocalan, o líder preso do PKK, pudesse ser libertado sob condicional se renunciasse à violência e dissolvesse sua organização.

Ocalan, que cumpre uma sentença de prisão perpétua em uma ilha-prisão perto de Istambul, disse em uma mensagem transmitida por seu sobrinho na quinta-feira que estava pronto para trabalhar pela paz.

Agenda Política

A ala militar do PKK, o Centro de Defesa do Povo, afirmou, no entanto, que o ataque não estava relacionado com a "agenda política" mais recente, insistindo que ele havia sido planejado há muito tempo. O grupo disse que a Tusas foi escolhida como alvo porque as armas produzidas lá "mataram milhares de civis, incluindo crianças e mulheres, no Curdistão".

A Tusas projeta, fabrica e monta aeronaves civis e militares, veículos aéreos não tripulados e outros sistemas da indústria de defesa e espaciais. Seus sistemas de defesa são considerados fundamentais para que a Turquia obtenha vantagem em sua luta contra os militantes curdos.

Intensos bombardeios

Na sexta-feira, um oficial de segurança iraquiano disse que aviões turcos intensificaram seus bombardeios a alvos pertencentes ao PKK e outras forças leais na região de Sinjar, no norte do Iraque. Os intensos bombardeios visaram túneis, sedes e pontos militares do Partido dos Trabalhadores e das Unidades de Proteção de Sinjar dentro da área montanhosa de Sinjar. Um oficial local e um oficial de segurança disseram que os bombardeios mataram cinco yazidis. Os oficiais falaram sob condição de anonimato, de acordo com os regulamentos.

As Forças Democráticas Sírias, lideradas pelos curdos, disseram na quinta-feira que aviões e drones turcos atacaram padarias, uma estação de energia, instalações de petróleo e postos de controle da polícia local. Pelo menos 12 civis foram mortos e outros 25 ficaram feridos. O comunicado do Centro de Defesa do Povo afirmou que não houve baixas entre os combatentes do PKK nos ataques aéreos.

Enquanto isso, a polícia em Istambul deteve pelo menos 35 pessoas suspeitas de ligações com o PKK, informou a agência estatal Anadolu. O PKK luta pela autonomia no sudeste da Turquia em um conflito que matou dezenas de milhares de pessoas desde a década de 1980. Ele é considerado um grupo terrorista pela Turquia e por seus aliados ocidentais.

O Exército de Israel confirmou ter lançado uma série de ataques aéreos contra o Irã, cumprindo a promessa de retaliação pelo disparo de mísseis iranianos no começo do mês. O ataque aumenta os temores que o conflito possa se transformar em uma guerra total no Oriente Médio.

Moradores de Teerã relataram ter ouvido várias explosões na madrugada deste sábado (horário local). A agência iraniana Fars News disse que Israel atacou várias bases militares no oeste e no sul da capital iraniana. Foram reportadas ainda explosões na área do Aeroporto Internacional Imam Khomeini, mas a agência estatal IRNA afirma que o terminal segue em funcionamento, sem ordem para o cancelamento de voos.

Maryam Naraghi, uma jornalista iraniana, disse que ouviu fortes explosões no leste de Teerã, onde vive. "Foi muito perto de onde estou", relatou. Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ouvir as sirenes na região, que inclui bases militares e o complexo de Parchin, associado à fabricação de mísseis.

O porta-voz do Exército de Israel, Daniel Hagari, disse em comunicado por vídeo que as capacidades ofensivas e defensivas estão completamente mobilizadas. E que não há mudanças nas recomendações para os israelenses até o momento.

"Em resposta aos meses de ataques contínuos do regime iraniano contra o Estado de Israel, as Forças de Defesa de Israel estão neste momento conduzindo ataques precisos contra alvos militares no Irã", anunciou Hagari.

"O regime do Irã e seus representantes na região têm atacado implacavelmente Israel desde 7 de outubro", seguiu o porta-voz. "Como qualquer outro país soberano do mundo, o Estado de Israel tem o direito e o dever de responder."

Oficialmente, o governo americano confirmou o ataque e defendeu o direito de defesa israelense. "Entendemos que Israel está realizando ataques direcionados contra alvos militares no Irã como um exercício de autodefesa e em resposta ao ataque de mísseis balísticos do Irã contra Israel", disse Sean Savett, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.

O Irã lançou o segundo ataque direto contra o território israelense no começo do mês, quando disparou quase 200 mísseis em retaliação pelos assassinatos de líderes do Hamas, Ismail Haniyeh, e do Hezbollah, Hasan Nasrallah.

O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu disse na época que o ataque foi um "grande erro" e prometeu que o Irã pagaria o preço. O regime iraniano, por sua vez, ameaçou bombardear "toda infraestrutura" israelense se fosse atacado. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Israel lançou seis ataques aéreos nos subúrbios de Beirute na madrugada de sábado (horário local), informou a agência estatal do Líbano The National News Agency. A ofensiva acontece no mesmo momento em que as Forças de Defesa Israelense (IDF, na sigla em inglês) conduz uma série de bombardeios a alvos militares no Irã.

Também há relatos de explosões na Síria, de acordo com a imprensa local. Os ataques marcam uma nova escalada no conflito no Oriente Médio, em meio as persistentes tensões entre Israel e o grupo extremista libanês Hezbollah.

Há pouco, a IDF publicou uma foto na rede social que mostra o chefe do Estado maior de Israel, Herzi Halevi, e do comandante oficial, Tomer Bar, no centro de comando da força aérea de Camp Rabin, de onde coordenam a série de ataques.