Juiz manda Nunes renomear Marginal Tietê e mais 10 endereços que prestam tributo à ditadura

Política
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O juiz Luis Manuel Fonseca Pires, da 3ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, mandou o prefeito Ricardo Nunes (MDB) alterar o nome de onze vias e locais públicos da cidade que homenageiam nomes da ditadura militar. Na lista de ruas e espaços que devem ter seus nomes mudados estão a Marginal Tietê, a Ponte das Bandeiras, um centro esportivo da zona Sul e o crematório da Vila Alpina - o mais antigo do País.

A reportagem busca contato com a prefeitura, o que não havia conseguido até a publicação deste texto. O espaço está aberto para manifestações.

Um dos autores do pedido é o Instituto Vladimir Herzog - jornalista assassinado em outubro de 1975 no Doi-Codi, núcleo de torturas do antigo II Exército.

Pires avalia que a administração municipal é "omissa", há mais de dez anos, ao não dar início à renomeação dos espaços públicos "em cumprimento ao direito à memória política que se associa ao regime democrático e à dignidade da pessoa humana".

O magistrado despachou que, passados mais de dez anos da edição de lei que permite a alteração, a cidade permanece repleta de vias e equipamentos cujos nomes estão ligados à ditadura militar.

O despacho dá 70 dias para que o município apresente um cronograma com vistas a mudar onze nomes de vias e espaços públicos classificados como "casos sensíveis" que exigem o cumprimento de normas que preveem a mudança da denominação de locais públicos quando estes fazem referência a "autoridade que tenha cometido crime de lesa-humanidade ou graves violações de direitos humanos".

Conforme a decisão judicial, a prefeitura deve mudar os nomes dos seguintes endereços:

- Crematório municipal da Vila Alpina cujo o nome homenageia um diretor do Serviço Funerário do Município de São Paulo que viajou à Europa para estudar sistemas de cremação em momento coincidente com o auge das práticas de desaparecimento forçado e que, segundo depoimentos documentados em ação do Ministério Público Federal, corpos exumados foram clandestinamente enterrados na vala de Perus no mesmo período de atuação do diretor no Departamento de Cemitérios da cidade;

- Centro Desportivo situado na Rua Servidão de São Marcos, Zona Sul de São Paulo, atribuído ao general chefe do Centro de Informações do Exército (CIE), de novembro de 1969 a março de 1974, que liderou a Operação Marajoara no Araguaia;

- Marginal Tietê, Zona Norte/Centro, cujo nome homenageia o marechal do Exército e ex-presidente (1964-1967), que foi uma das lideranças do golpe de Estado de 1964 e criou o Serviço Nacional de Informações (SNI), fundamentou perseguições políticas, torturas e execuções durante a ditadura;

- Ponte das Bandeiras na Zona Norte/Centro, que faz homenagem, aprovada pela Câmara Municipal em 2017, ao ex-senador e ex-diretor do Departamento de Ordem Política e Social(DOPS), órgão da repressão política durante a Ditadura Militar;

- Rua Alberi Vieira dos Santos, na Zona Norte que homenageia ex-sargento da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, colaborador do Centro de Informações do Exército (CIE), com participação no massacre do Parque Nacional do Iguaçu e na armação de emboscadas e chacinas de resistentes, detenções ilegais, execuções, desaparecimento forçado de pessoas e ocultação de cadáveres;

- Rua Dr. Mário Santalucia, na Zona Norte. Integrou o Instituto Médico Legal e teve participação em caso de emissão de laudo necroscópico fraudulento;

- Praça Augusto Rademaker Grunewald, na Zona Sul, cujo nome faz referência ao vice-presidente entre 1969-74, governo Médici, o período mais intenso de repressão, censura e cassação de direitos civis e políticos;

- Rua Délio Jardim de Matos, na Zona Sul, que faz referência ao integrante do gabinete militar da Presidência da República do governo Castelo Branco e foi um dos principais articuladores do movimento que promoveu o golpe de Estado de 1964;

- Avenida General Enio Pimentel da Silveira, na Zona Sul, nomeada em referência a militar que serviu no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) do I Exército de abril de 1972 a junho de 1974 e teve participação comprovada em casos de tortura, execução e desaparecimento forçado;

- Rua Dr. Octávio Gonçalves Moreira Júnior, na Zona Oeste, que foi nomeada em homenagem a Delegado de Polícia com participação em casos de tortura e ocultação de cadáveres

- Rua Trinta e Um de Março, na Zona Sul, que faz referência ao dia do golpe civil-militar

No despacho, o juiz não reproduziu o nome dos expoentes da ditadura que batizam as ruas e locais públicos de São Paulo. A lista inclui o marechal Castelo Branco, que foi homenageado na hora de denominar a Marginal Tietê, e o ex-senador Romeu Tuma, ex-diretor geral do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) cujo nome acabou sendo escolhido pela Câmara Municipal, em 2017, para batizar a Ponte das Bandeiras.

A decisão foi proferida no bojo de uma ação civil pública movida pelo Instituto Vladimir Herzog e a Defensoria Pública da União que pedia que a prefeitura fosse instada a apresentar, com urgência um cronograma para mudar nomes de vias e espaços públicos que fazem homenagem a pessoas que cometeram crime de lesa-humanidade ou graves violações de direitos humanos.

As entidades juntaram ao processo um relatório da Comissão da Memória e Verdade e de antigo programa da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, o 'Ruas da Memória', que mapeou 38 locais que homenageiam, em São Paulo, pessoas ligadas à ditadura, 22 delas com envolvimento direto com a repressão. O documento apontou 17 equipamentos municipais - 12 escolas e cinco ginásios - que perpetuam as homenagens.

O juiz Luis Manuel Fonseca Pires ressaltou em seu despacho a "ampla e sólida" fundamentação jurídica que impõe o reconhecimento do direito à memória política associado à democracia e ao Estado de Direito.

O magistrado ponderou que, apesar de tal estrutura jurídica, o direito à memória política de fato tem pouca ressonância em políticas públicas. Ele citou como exemplo pesquisa que, em 2019, apontou que 90% dos brasileiros diziam desconhecer o que foi o AI-5, "símbolo maior da ditadura que dominou o país por 21 anos".

Segundo Pires, o direito à memória política deve ser respeitado e promovido pelo Estado. Este deve "fomentar políticas públicas para a formação de uma consciência crítica sobre a essencialidade da democracia e a defesa intransigente da dignidade da pessoa humana", frisou Pires.

"O direito à memória política assegura a conscientização da sociedade dos momentos que o poder lhe foi subtraído, as vezes e os meios pelos quais a opressão ascendeu. A compreensão da violência do Estado e dos abusos dos agentes públicos consubstanciam um direito essencial de construção da democracia, valorização da dignidade da pessoa humana e resistência ao autoritarismo", explicou.

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O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou há pouco que designará o movimento Antifa como uma organização terrorista. "Tenho o prazer de informar aos nossos muitos patriotas dos EUA que estou designando a ANTIFA, UM DESASTRE DOENÇOSO, PERIGOSO E RADICAL DA ESQUERDA, COMO UMA ORGANIZAÇÃO TERRORISTA DE GRANDE IMPORTÂNCIA", escreveu ele na rede social Truth. O republicano também recomendou que aqueles que financiam o Antifa sejam investigados minuciosamente, de acordo com os mais altos padrões e práticas legais.

O movimento Antifa é uma conglomeração de grupos considerados de esquerda. Trump recentemente intensificou as ameaças de reprimir o que descreve como "esquerda radical" após o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, gerando receios de que seu governo tente usar a indignação com o crime para sufocar a oposição política.

Um alemão investigado pelo desaparecimento da menina britânica Madeleine McCann, ocorrido há 18 anos, foi libertado da prisão nesta quarta-feira, 17, após cumprir pena pelo estupro de uma idosa. Christian Brückner, de 48 anos, foi condenado a sete anos de prisão em 2019 pelo estupro de uma americana, de 72 anos, em Portugal. Um carro acompanhado por várias viaturas policiais deixou a prisão de Sehnde, perto de Hannover, no norte da Alemanha. A polícia confirmou que Brückner havia saído.

Em junho de 2020, promotores alemães disseram acreditar que Madeleine estava morta e que Brückner estava sendo investigado por suspeita de assassinato relacionado ao desaparecimento da menina. Ela foi vista pela última vez em 3 de maio de 2007, aos três anos, em um complexo de apartamentos no balneário de Praia da Luz, no Algarve, em Portugal.

A polícia já realizou novas buscas em Portugal, mas o suspeito, que nega qualquer envolvimento no caso, nunca foi formalmente acusado. A investigação não é afetada por sua libertação. Ele também continua sendo suspeito em uma investigação conduzida pela Polícia Metropolitana Britânica, que afirma que ele recusou um pedido de entrevista.

O advogado de Brückner, Friedrich Fülscher, declarou que acusações já teriam sido apresentadas contra seu cliente há muito tempo se houvesse provas suficientes. O suspeito passou muitos anos em Portugal, incluindo no Algarve, perto da Praia da Luz, na época do desaparecimento de Madeleine.

As investigações no Reino Unido, em Portugal e na Alemanha ainda buscam esclarecer o que aconteceu na noite em que Madeleine desapareceu. Ela estava no mesmo quarto que os irmãos gêmeos de 2 anos, enquanto os pais, Kate e Gerry, jantavam com amigos em um restaurante próximo.

No ano passado, o suspeito foi julgado por vários crimes sexuais supostamente cometidos em Portugal entre 2000 e 2017, mas acabou absolvido em outubro. O juiz que presidiu o caso afirmou que não havia provas suficientes para uma condenação, que a corte ouviu testemunhas não confiáveis e que algumas delas foram influenciadas por reportagens da imprensa sobre o réu.

O tribunal estadual de Hildesheim afirmou que, legalmente, não pode divulgar se Brückner terá de cumprir condições específicas após a libertação. No entanto, Fülscher confirmou à emissora pública NDR que seu cliente será obrigado a usar uma tornozeleira eletrônica, se apresentar regularmente ao serviço de liberdade condicional e entregar o passaporte. A revista alemã Der Spiegel foi a primeira a noticiar a decisão, sem citar fontes.

Brückner ainda enfrenta uma audiência em 27 de outubro no tribunal de Oldenburg, no noroeste da Alemanha, em um caso no qual é acusado de insultar um funcionário da prisão. Um tribunal distrital da cidade o condenou a seis semanas de prisão, mas a defesa recorreu. (Com informações da Associated Press)

* Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial.

Enquanto as autoridades trabalhavam intensamente para encontrar a pessoa que assassinou Charlie Kirk na Universidade do Vale de Utah na semana passada, um jovem de 22 anos - agora acusado pelo crime - trocava mensagens de texto com o parceiro amoroso e reconhecia ser o atirador, revelaram documentos judiciais.

Segundo investigadores, Tyler Robinson disparou um único tiro do telhado de um prédio com vista para o espaço ao ar livre onde Kirk falava para cerca de três mil pessoas, em 10 de setembro. Depois, ele trocou mensagens com o parceiro, com quem vivia perto de St. George, em Utah, a cerca de 387 quilômetros ao sudoeste do campus.

Troca de mensagens

Tyler Robinson disse para seu parceiro olhar embaixo do teclado em sua casa. Havia um bilhete escrito: "Tive a oportunidade de eliminar Charlie Kirk e vou aproveitá-la." Após demonstrar choque, o parceiro perguntou a Robinson se ele era o atirador. Robinson respondeu: "Sou eu, desculpe."

Aparentemente, o parceiro nunca procurou as autoridades com essa informação. Robinson permaneceu foragido até a noite seguinte, quando seus pais reconheceram que ele era a pessoa de uma foto divulgada pela polícia durante as buscas. Eles ajudaram a organizar a rendição pacífica de Robinson.

Autoridades afirmam que investigam se outras pessoas sabiam ou ajudaram Robinson no assassinato. Elas não informaram se o parceiro está entre os investigados, mas agradeceram publicamente pelo fato de ele ter compartilhado informações.

DNA no rifle

Segundo os promotores, Robinson usou um rifle de ferrolho para atirar em Kirk no pescoço dentro do campus em Orem, a cerca de 64 quilômetros ao sul de Salt Lake City. A amostra de DNA encontrada no gatilho da arma correspondia a Robinson, de acordo com o promotor do condado de Utah, Jeff Gray. O rifle havia pertencido ao avô de Robinson.

O suspeito apareceu brevemente nesta terça-feira, 16, diante de um juiz, por meio de uma videoconferência realizada da prisão. Ele acenou levemente em alguns momentos, mas em geral apenas olhou para frente enquanto o juiz lia as acusações e informava que nomearia um advogado para representá-lo. Desde a prisão, a família de Robinson se recusou a comentar o caso.

Kirk era uma figura proeminente na política, creditado por impulsionar o movimento jovem republicano e por ajudar Donald Trump a recuperar a Casa Branca em 2024. Ele ganhou grande popularidade por meio das redes sociais, de seu podcast e de eventos em campus universitários que o apresentavam respondendo perguntas de uma fila de debatedores que podiam questioná-lo sobre qualquer tema.

O que motivou o ataque a Kirk?

As autoridades não revelaram um motivo claro para o ataque, mas Gray disse que Robinson escreveu em uma mensagem de texto sobre Kirk ao parceiro: "Eu já estava cansado do ódio dele. Certo ódio não dá para negociar". O promotor afirmou que Robinson também escreveu em outra mensagem que passou mais de uma semana planejando o ataque a Kirk. As autoridades não disseram no que exatamente esse planejamento consistiu.

Gray se recusou a responder se Robinson mirou Kirk por causa de suas visões anti-transgênero. Kirk foi baleado enquanto respondia a uma pergunta que abordava tiroteios em massa, violência armada e pessoas transgênero. "Isso cabe a um júri decidir", disse Gray. Robinson mantinha um relacionamento amoroso com seu colega de quarto, que, segundo os investigadores, é transgênero.

O que os pais de Robinson disseram?

Embora as autoridades digam que Robinson não está cooperando com os investigadores, eles afirmam que parentes e amigos têm fornecido informações. A mãe dele contou aos investigadores que o filho se tornou mais à esquerda politicamente no último ano e passou a apoiar mais os direitos de gays e pessoas transgênero, disse Gray.

Essas mudanças geraram várias conversas na casa, especialmente entre Robinson e o pai. Eles tinham visões políticas diferentes, e Robinson disse ao parceiro em uma mensagem que o pai havia se tornado um "diehard MAGA" - expressão usada para dizer que alguém é um apoiador radical do movimento Make America Great Again (Faça a América Ótima Novamente), popularizado por Trump - desde que o republicado foi eleito.

A mãe de Robinson o reconheceu quando as autoridades divulgaram uma foto do suspeito, e os pais o confrontaram - momento em que Robinson disse que queria se matar, afirmou Gray. Os pais o convenceram a se encontrar com um amigo da família, que é um ex-policial aposentado. Essa pessoa conseguiu levar Robinson a entregar-se, disse o promotor. Robinson foi preso no final da tarde de quinta-feira, 11, perto de St. George, onde cresceu.

Movimentos após o ataque

Em uma troca de mensagens com o parceiro divulgada pelas autoridades, Robinson escreveu sobre o plano de recuperar seu rifle em um "ponto de descarte", mas disse que a área estava "isolada". Mais tarde, ele enviou: "Consigo chegar perto, mas há uma viatura estacionada bem ao lado. Acho que eles já revistaram esse local, mas não quero arriscar." Os textos citados nos documentos judiciais não incluíam marcação de horário, e não estava claro quanto tempo após o ataque Robinson estava enviando as mensagens.

"Para ser honesto, eu esperava manter isso em segredo até morrer de velhice. Sinto muito por envolvê-lo(a)," escreveu Robinson em outra mensagem para o parceiro. Segundo Gray, Robinson descartou o rifle e as roupas e pediu ao colega de quarto que escondesse provas.

Ele foi acusado de disparo de arma de fogo em crime grave, com pena de até prisão perpétua, obstrução da Justiça, com pena de até 15 anos de prisão, e intimidação de testemunha, porque orientou o parceiro a apagar as mensagens trocadas e a permanecer em silêncio caso fosse questionado pela polícia, disse Gray.

Participantes de bate-papo na Discord serão investigados

O diretor do FBI, Kash Patel, disse nesta terça-feira, 16, que os agentes estão investigando "qualquer um e todos" que participaram de uma sala de bate-papo de jogos na plataforma social Discord com Robinson. A sala envolvia "bem mais" de 20 pessoas, afirmou ele durante uma audiência no Comitê Judiciário do Senado, em Washington. As acusações apresentadas na terça incluem dois agravantes: a prática de vários crimes na frente de crianças ou perto delas e a realização de violência com base nas crenças políticas do acusado.

Kirk, uma figura dominante na política conservadora, tornou-se confidente de Trump após fundar a Turning Point USA, com sede no Arizona, uma das maiores organizações políticas do país. Ele aproximou jovens cristãos evangélicos conservadores da política. Nos dias que se seguiram ao assassinato de Kirk, os americanos passaram a enfrentar questões sobre o aumento da violência política, as profundas divisões que levaram o país a esse ponto e se algo pode mudar.

Apesar dos apelos por maior civilidade, alguns que se opunham às declarações provocativas de Kirk sobre gênero, raça e política o criticaram após sua morte. Muitos republicanos lideraram o esforço para punir qualquer pessoa que, em sua visão, o tenha desonrado, fazendo com que trabalhadores do setor público e privado perdessem seus empregos ou enfrentassem outras consequências profissionais. (Com informações da Associated Press)

* Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial.