Governo Lula prepara reação em quatro frentes contra meta; veja quais

Política
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O governo federal prepara uma reação em quatro frentes, incluindo resposta no Judiciário e novas proposições no Legislativo, contra a Meta - dona do Facebook, do Instagram, do Threads e do Whatsapp. A empresa decidiu acabar com a checagem de fatos de suas redes sociais nos Estados Unidos, mas a leitura dos líderes brasileiros é que esse movimento deverá chegar ao País. O assunto foi discutido em uma reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais cedo sobre o tema com alguns de seus principais ministros.

A primeira resposta institucional sairá no Supremo Tribunal Federal (STF), que avalia um ponto do Marco Civil da Internet sobre as plataformas digitais e foi provocado pela Advocacia-Geral da União (AGU). Também haverá uma atuação ampla no Legislativo, com envio de dois novos textos para abordar tanto a taxação das big techs quanto a regulação concorrencial do setor, além da aposta no projeto sobre Inteligência Artificial, já aprovado no Senado. Os projetos sobre taxação e concorrência já eram discutidos na Fazenda, mas ganharam prioridade depois do movimento da Meta.

A terceira frente inclui ações dos órgãos administrativos, como a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon). A última frente será um monitoramento maior de temas com repercussão nas eleições de 2026, que influenciarão o trabalho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O governo espera reflexo do movimento da Meta nas eleições do próximo ano, quando a Corte eleitoral será presidida pelo ministro Nunes Marques, indicado por Jair Bolsonaro. Nunes Marques tende a ter uma postura mais permissiva do que a de Alexandre de Moraes, que comandou o tribunal durante a disputa de 2022.

Uma avaliação exposta por fontes ao Estadão/Broadcast é que o País não tem instrumentos legais para lidar com a situação e estaria exposto a uma explosão de fake news e discursos de ódio nas redes. Uma das preocupações é com o alinhamento político de donos de empresas de tecnologia como Mark Zuckerberg e Elon Musk ao futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Essa aliança poderia ser encarada, de acordo com integrantes do governo ouvidos pela reportagem em condição de reserva, como um projeto de poder.

Lula e Trump são de campos políticos antagônicos. Ao anunciar as mudanças em sua empresa, o bilionário Mark Zuckerberg usou um discurso sobre censura parecido com o propagado pelo trumpismo e pelo bolsonarismo. Elon Musk, dono do X, antigo Twitter, fará parte do governo Trump e já disse, depois de xingado pela primeira-dama Janja Lula da Silva, que o grupo lulista perderá a próxima eleição no Brasil.

A reação do governo conta com um julgamento em andamento no STF, que avalia a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet. Um interlocutor disse ao Estadão/Broadcast que está claro que o Supremo vai dizer o que é responsabilidade das plataformas e em quais casos elas terão obrigação ou não de atuar, inclusive para moderação de conteúdo. A isso se soma a ação da AGU, o que deve fazer com que a primeira resposta às plataformas no Brasil parta do Judiciário.

No Legislativo, o presidente Lula pediu para que integrantes do governo tratassem três projetos, levantados na reunião, como prioridade. Todos os temas já foram discutidos com parlamentares, mas só um está em tramitação - o de Inteligência Artificial, aprovado no Senado e em avaliação pela Câmara, em um texto que tem a anuência da Fazenda em sua maior parte. Há um projeto sobre regulamentação de big techs parado no Congresso por causa da oposição de setores da oposição. A principal diferença entre este texto e o que ganhará tração agora é o escopo: a proposta da Fazenda não mira em questões de conteúdo, apenas na regulação econômica.

Os outros dois projetos - sobre concorrência e taxação das plataformas - serão encaminhados no início do ano legislativo. No final de 2024, a prioridade foram as propostas de contenção de despesas e, agora, só o Orçamento tem mais peso do que esses temas. A avaliação é de que o debate para a tributação das big techs já está maduro e alinhado às discussões no âmbito da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Já a revisão da lei de defesa da concorrência para a regulação econômica de big techs com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) como regulador concorrencial, apresentada pela Fazenda em outubro do ano passado, ganhará celeridade neste início de ano.

O objetivo do governo é de que essa regulação das redes não seja feita apenas a posteriori, mas seguindo o conceito "ex-ante". Um interlocutor lembrou que esse é um modelo já adotado na Europa, em que há um tipo de obrigação maior para as empresas de tecnologia, que precisam fazer uma solicitação ao órgão concorrencial - que no Brasil será o Cade - antes de adotar qualquer tipo de medida, sob pena de que essa medida não gere efeito.

Os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Jorge Messias (AGU) usaram palavras fortes depois da reunião. Messias disse que não se pode compactuar com "barbárie" nas redes. Rui Costa afirmou que Lula colocou a situação como um caso de soberania nacional, e disse que a regulamentação será uma das prioridades do governo. A AGU de Messias já enviou uma notificação extrajudicial à Meta requerendo informações sobre a checagem de fatos nas plataformas da empresa.

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O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que a reunião com o homólogo dos Estados Unidos, Donald Trump, precisa ser preparada e que o encontro incerto entre os dois líderes, que aconteceria em Budapeste, na Hungria, foi proposto pelos próprios norte-americanos, segundo informações da agência estatal russa RIA.

Segundo a RIA, Putin disse querer manter o diálogo com os EUA e minimizou os efeitos das sanções norte-americanas sobre a economia russa.

Ele afirmou que a contribuição da Rússia para o balanço energético global é muito significativa e teria discutido com Trump o impacto da situação do fornecimento de petróleo russo sobre os preços globais, inclusive nos EUA. "O setor energético da Rússia está confiante, embora certas perdas sejam esperadas", afirmou, segundo a agência.

A Interfax informa que Putin disse que, apesar do pouco impacto na economia, as sanções dos EUA prejudicam a relação com a Rússia. "É muito provável que Trump quisesse dizer que a reunião foi adiada", ponderou, ao se referir a fala da quarta-feira do presidente dos EUA.

A Argentina anunciou nesta quinta-feira, 23, a substituição do ministro das Relações Exteriores, Gerardo Werthein, por Pablo Quirino, atual secretário de Finanças e integrante do núcleo econômico do governo do presidente Javier Milei. Werthein apresentou na quarta-feira, 22, sua renúncia, que será efetivada a partir de segunda-feira, 27 de outubro.

O texto destaca que Milei agradeceu ao chanceler por ter sido "parte instrumental, junto ao Ministério da Economia e à embaixada argentina em Washington, do maior acordo bilateral da história de nosso país com os Estados Unidos".

Quirino, descrito como "peça fundamental da construção do milagre argentino", assumirá o comando da política externa com a missão de "aprofundar o vínculo entre a chancelaria e o Ministério da Economia" e reforçar "a visão pró-mercado da gestão de cara à segunda etapa do governo".

A nota informa ainda que o novo ministro colocará foco em "abrir a Argentina ao mundo", firmando acordos comerciais para fortalecer a inserção de produtores locais em mercados internacionais. O gabinete de Milei afirma que Quirino continuará "construindo alianças internacionais".

O governo de Milei enfrentará um teste de popularidade nas eleições legislativas que ocorrem no domingo, 26 de outubro. Uma derrota de seu partido pode aumentar incertezas sobre a adoção de reformas econômicas que o presidente ainda quer aprovar para o país. Além de Werthein, o ministro da Justiça argentino, Mariano Cúneo Libarona, deixará o cargo na próxima semana.

A União Europeia (UE) afirmou nesta quinta-feira, 23, que pretende "aumentar decisivamente a prontidão de defesa da Europa até 2030", em resposta ao que classificou como um "desafio existencial" representado pela guerra da Rússia contra a Ucrânia. Segundo comunicado divulgado após a reunião do Conselho Europeu, o bloco está determinado a agir "em ritmo e escala" para que a Europa esteja melhor equipada para lidar, de forma "autônoma e coordenada", com ameaças imediatas e futuras.

O plano - baseado no Roteiro Europeu de Prontidão de Defesa 2030 - prevê a criação de coalizões de capacidades entre Estados-membros até o fim deste ano, com lançamento de projetos concretos na primeira metade de 2026. O Conselho ressaltou que o objetivo é "reduzir as dependências estratégicas, suprir lacunas críticas de capacidade e fortalecer a base tecnológica e industrial de defesa europeia".

Diante das "violações do espaço aéreo de vários Estados-membros" e das "ameaças imediatas no flanco oriental da UE", o texto defende prioridade à proteção de todas as fronteiras terrestres, marítimas e aéreas do bloco. A declaração cita ainda a necessidade de reforçar as capacidades conjuntas de defesa antiaérea e antidrones, utilizando instrumentos financeiros como o SAFE, voltado à produção europeia de munições e mísseis, e o EDIP, programa criado para integrar e financiar o setor industrial de defesa do bloco.

O Conselho pediu o "desenvolvimento acelerado de ativos espaciais" com fins de segurança e defesa e destacou a importância de integrar a Ucrânia à indústria europeia, "especialmente em inovação e tecnologia de ponta". Por fim, a UE reiterou que uma Europa "mais forte e mais capaz" em segurança e defesa "contribuirá positivamente para a segurança global e transatlântica", atuando de forma complementar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).