Especialistas criticam big techs em audiência boicotada e governo prevê mobilizar sociedade

Política
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As cadeiras reservadas para as principais plataformas digitais permaneceram vazias no auditório da Escola Superior da Advocacia-Geral da União (AGU), em Brasília. Mas as empresas estiveram mais do que presentes nas críticas de dezenas de especialistas que condenaram a postura das empresas.

 

Representantes das companhias Meta (dona de Facebook, WhatsApp e Instagram), Alphabet (Google e YouTube), X (ex-Twitter), TikTok, Discord, Kwai e LinkedIn recusaram o convite e não compareceram à audiência pública convocada pelo governo Lula para discutir as políticas de moderação de conteúdo nas redes sociais, nesta quarta-feira, 22. A ausência das empresas acabou abrindo caminho para uma série de explanações sem contraditório.

 

Pesquisadores de renomadas universidades, ativistas pela liberdade de imprensa e pelos direitos civis e comunicadores diversos manifestaram preocupação com decisões como as mais recentes implementadas por Mark Zuckerberg.

 

No começo do mês, o CEO da Meta acabou com o programa de checagem e flexibilizou a moderação de conteúdo, o deve causar um aumento na disseminação de desinformação e discurso de ódio na plataforma. Tratava-se de mais uma sinalização em apoio ao novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos.

 

"As decisões de desmantelar programas de checagem de fato e relaxar a moderação de desinformação e discurso de ódio são um ponto de inflexão que ameaça a integridade nacional e a liberdade de expressão no Brasil e no mundo", afirmou Marie Santini, fundadora e diretora do Laboratório de Estudos da Internet e Redes Sociais da UFRJ (NetLab).

 

Representando a ONG Artigo 19, André Bozelli disse que a mudança de ventos no mundo das redes sociais tem "mais a ver com interesses econômicos do que com a defesa da liberdade de expressão". "O reposicionamento das big techs é sobretudo uma tentativa de resistência corporativa ao controle democrático desses meios de comunicação digitais, que vem sendo empreendido por meio de regulações e que estão sendo impropriamente taxadas de mecanismos de censura por essas empresas", disse.

 

Laura Schertel, professora na UnB e presidente da comissão de direito digital da OAB federal, declarou que, "se por um lado esses novos espaços digitais ampliaram o acesso à informação e a possibilidade de se expressar, por outro ampliaram também a quantidade de informações não confiáveis e a desinformação, tornando-se pouco seguros para grupos vulneráveis".

 

E Renata Mielli, coordenadora do Comitê Gestor da Internet e assessora especial no Ministro de da Ciência, Tecnologia e Inovação, foi uma das muitas a pedir regulamentação: "o Estado brasileiro precisa avançar no ambiente regulatório para preservar nossa soberania nacional e construir um ambiente com menos ódio". Ao todo, 38 especialistas se colocaram ao lado de uma reação federal contra a hegemonia das big techs.

 

A AGU convocou a audiência para colher subsídios técnicos para seu posicionamento no Supremo Tribunal Federal (STF) em julgamentos sobre o tema, mas o evento serviu a uma estratégia mais ampla. O governo Lula aproveitou o evento para soprar as brasas da discussão sobre regulação das redes sociais.

 

Nos bastidores, auxiliares do governo relatam que houve uma corrida para participar do evento assim que ele se tornou público, e o encontro impressionou pela mobilização inesperada. Houve 203 participantes online e 85 presenciais, além dos 45 convidados para se manifestar, incluindo os sete representantes das plataformas.

 

No corredor ao lado de fora do auditório, os presentes debatiam sobre a necessidade de engrossar o caldo do debate, a fim de abrir uma nova janela de oportunidade para a aprovação de um projeto de lei no Congresso. Zuckerberg só havia tornado a questão mais urgente.

 

A avaliação é de que se trata do último ano viável para o governo Lula regulamentar as plataformas digitais, uma vez que nenhuma matéria desse quilate deve ser pautada - e muito menos aprovada - em um ano de eleição presidencial. A AGU entendeu o recado e, além de formatar as sugestões dos especialistas para embasar sua atuação no Supremo, decidiu reaproveitar o conteúdo para enviar uma proposição legislativa ao Parlamento. O corpo jurídico do Palácio do Planalto vai atuar em duas frentes.

Em outra categoria

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que não quer "destruir" a China. Em entrevista à Fox Business, exibida neste domingo, ele disse que o presidente chinês, Xi Jinping, "é inteligente e parece querer negociar as tarifas". "É a coisa certa a fazer", avaliou.

Sobre tarifas em geral, o chefe da Casa Branca destacou que produtos fabricados nos EUA, como chips e farmacêuticos, são isentos de sobretaxas. "Todas as empresas estão voltando para os EUA de Taiwan, do mundo inteiro", disse.

Na sexta-feira, a Fox Business havia divulgado uma prévia da entrevista. Nela, Trump afirmou que as tarifas massivas de 100% sobre a China não são sustentáveis, mas que o comportamento chinês o "forçou" a implementá-las.

Em relação aos esforços da administração republicana em levar a Guarda Nacional para cidades em combate ao crime, Trump afirmou que o próximo local será São Francisco. "Não esqueça, eu posso usar a Lei de Insurreição. Eu vou salvar as cidades", disse.

Irã

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que possui uma "boa relação" com seu homólogo russo, Vladimir Putin, e que acredita que um acordo de paz para o conflito entre Rússia e Ucrânia será alcançado, em entrevista para a Fox Business, neste domingo.

"Eu pensei que o acordo de paz Rússia-Ucrânia seria mais fácil de ser alcançado", afirmou.

Segundo Trump, Putin "levará alguma coisa" em termos de propriedade da Ucrânia.

Investimentos

Trump afirmou também que o investimento nos Estados Unidos pode chegar a US$ 20 trilhões até o final deste ano, em entrevista para a Fox Business, neste domingo. Segundo ele, esse valor será possível porque as tarifas causaram o retorno da fabricação de produtos para território do país.

"Estamos construindo algo incrível aqui e grande parte disso são por causa das tarifas", disse.

Trump também mencionou que, se a Suprema Corte americana decidir contra o uso de tarifas, os EUA "terão de devolver o dinheiro".

Um alto funcionário do Egito envolvido nas negociações de cessar-fogo em Gaza disse que contatos "ininterruptos" estão em andamento para desescalar a situação entre Israel e Hamas, após os lados trocarem ataques neste domingo.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, orientou o exército a tomar "ações fortes" contra quaisquer violações do cessar-fogo, mas não ameaçou retornar à guerra. Segundo autoridades de saúde da região, no entanto, pelo menos nove palestinos foram mortos.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que o conflito entre Ucrânia e Rússia deveria ser "congelado" nas atuais linhas de batalha antes que os dois lados entrem em negociações de paz para a região, em entrevista para a NBC neste domingo.

Ele disse que, atualmente, o exército russo está em uma posição vulnerável, já que Moscou ocupou 1% do território ucraniano e perdeu 1,3 milhão de soldados.

Zelensky também defendeu que o presidente americano, Donald Trump, deve tomar uma posição mais firme contra o líder russo, Vladimir Putin. "Putin é similar, mas mais forte, do que o Hamas", disse.