Bloqueio de plataformas pelo Brasil é antidemocrático, diz governo Trump

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O Departamento de Estado dos Estados Unidos criticou nesta quarta-feira, 26, o bloqueio de redes sociais pela Justiça do Brasil, classificando as decisões como "censura". O órgão, equivalente ao Ministério das Relações Exteriores, fez uma publicação no X na qual afirma que tais medidas são "incompatíveis com os valores democráticos". A postagem não cita o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e foi compartilhada pela embaixada dos EUA no País.

 

Por meio do Itamaraty, o governo Lula reagiu e condenou o que considerou uma tentativa de distorcer e politizar decisões judiciais. "A manifestação distorce o sentido das decisões do STF, cujos efeitos destinam-se a assegurar a aplicação, no território nacional, da legislação brasileira pertinente. A liberdade de expressão brasileira deve ser exercida, no Brasil, em consonância com os demais preceitos legais vigentes, sobretudo os de natureza criminal", diz a nota (mais informações nesta página).

 

Segundo a postagem do governo de Donald Trump, "o respeito à soberania é uma via de mão dupla com todos os parceiros dos EUA, incluindo o Brasil". "Bloquear o acesso à informação e impor multas a empresas sediadas nos Estados Unidos por se recusarem a censurar pessoas que vivem nos EUA é incompatível com os valores democráticos, incluindo a liberdade de expressão", afirma o texto publicado no perfil do Escritório do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado.

 

Esta é a primeira vez que o governo Trump faz menção ao assunto. Apesar de não citar Moraes diretamente, a manifestação faz referência implícita à decisão do magistrado sobre a plataforma Rumble.

 

Na semana passada, o ministro do Supremo determinou o bloqueio da Rumble no País, sob o argumento de que a rede de vídeos cometeu "reiterados, conscientes e voluntários descumprimentos das ordens judiciais, além da tentativa de não se submeter ao ordenamento jurídico e ao Poder Judiciário brasileiros". Moraes havia exigido que a empresa indicasse um representante no Brasil. O bloqueio é por tempo indeterminado, até o cumprimento da ordem judicial e o pagamento de multas. Além disso, o magistrado tinha pedido a suspensão da conta do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos na plataforma.

 

Soberania

 

A Rumble e a Trump Media, empresa ligada ao presidente americano, processaram Moraes nos Estados Unidos, acusando-o de violar a soberania americana. A ação tramita em um tribunal federal da Flórida. As empresas alegam que o ministro violou a lei americana ao ordenar à Rumble a suspensão da conta de Allan dos Santos, foragido da Justiça brasileira e alvo de mandado de prisão preventiva por disseminação de desinformação e ataques ao Supremo.

 

Rumble e Trump Media entraram com pedido de liminar em um tribunal dos EUA contra Moraes que foi negado. Na decisão, a juíza Mary Scriven não analisou o mérito da ação, argumentando que as decisões do brasileiro não se aplicam nos Estados Unidos e não houve qualquer tentativa de impor seu cumprimento em território americano.

 

Projeto de Lei

 

Ainda no mais recente embate de Moraes com plataformas digitais, o Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes dos EUA aprovou ontem um projeto de lei criado para barrar o ministro. O comitê tem atribuições semelhantes à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, e o projeto deve ir a plenário.

 

O dispositivo "No Censors on our Shores Act" ("Sem Censura em nosso Território") prevê que autoridades estrangeiras que atuarem contra a liberdade de expressão de americanos sejam impedidas de entrar nos EUA ou possam ser deportadas. Um dos autores da proposta, o deputado republicano Darrell Issa, da Califórnia, disse no X: "Censure um cidadão americano e você não será bem-vindo".

 

O nome de Moraes não aparece no texto, mas seus autores - além de Issa, a republicana María Elvira Salazar - já o chamaram de "aplicador da censura". Em nota, María Elvira, da Flórida, disse que "o juiz da Suprema Corte do Brasil Alexandre de Moraes é a vanguarda de um ataque internacional à liberdade de expressão contra cidadãos americanos como Elon Musk", em referência ao dono do X e secretário de Trump. Nesta semana, Musk sugeriu sanções ao ministro.

 

O projeto que avançou ontem foi apresentado em setembro, pouco depois de o X ter sido suspenso no Brasil por ordem do ministro, após descumprir decisões judiciais. Parlamentares bolsonaristas comemoraram a aprovação. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) postou no X que o texto "não tardará para virar lei". A deputada Bia Kicis (PL-DF) foi outra a elogiar a decisão.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, disse nesta quinta-feira (27) que as forças israelenses permanecerão no Corredor de Filadélfia, uma estreita faixa de deserto no lado de Gaza da fronteira com o Egito, para impedir o contrabando de armas para o Hamas. Em resposta pelo Telegram, o grupo disse que a permanência é "uma clara violação do acordo de cessar-fogo e uma tentativa de criar pretextos para o perturbar".

O Hamas pediu para que a comunidade internacional tome medidas "imediatas e sérias" para que os termos do acordo de paz sejam respeitados. "É preciso trabalhar para evitar que Netanyahu e seu governo criminoso o obstruam e frustrem", escreveu. *Com informações da Associated Press.

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, afirmou que os Estados-membros da União Europeia (UE) devem estar preparados para uma possível contribuição às garantias de segurança que serão necessárias para assegurar uma paz duradoura na Ucrânia. Em uma carta-convite que convoca os integrantes da região para um Conselho Europeu Especial, que acontecerá em 6 de março, ele menciona que a Europa deve se tornar "mais soberana, mais capaz e melhor equipada para lidar com os desafios imediatos e futuros à sua segurança".

"É importante que troquemos ideias sobre como apoiar ainda mais a Ucrânia e sobre os princípios que devem ser respeitados", enfatiza ao mencionar que os países-membros europeus estão prontos para assumir mais responsabilidade pela segurança da Europa.

Segundo Costa, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, foi convidado para a reunião que acontecerá em Bruxelas e será dedicada à defesa europeia e à Ucrânia.

Israel não deve se retirar de um corretor estratégico na Faixa de Gaza, conforme exigido pelo acordo de cessar-fogo, segundo uma autoridade israelense que conversou com a Associated Press (AP) nesta quinta-feira, 27. A recusa de Israel pode desencadear uma crise com o grupo terrorista Hamas e com o Egito, país que atua como um dos principais negociadores da trégua.

O responsável, que conversou sob condição de anonimato, disse que as forças israelenses precisavam permanecer no chamado corredor Filadélfia, uma faixa de terra entre a Faixa de Gaza e o Egito, para evitar o contrabando de armas.

A fonte mencionou a possibilidade horas depois de o Hamas ter libertado os restos mortais de quatro reféns israelenses em troca de mais de 600 prisioneiros palestinos, a última troca da primeira fase do cessar-fogo, que termina neste fim de semana. Conversas sobre a segunda fase da trégua ainda não começaram.

De acordo com o cessar-fogo, Israel deveria se retirar do corredor Filadélfia no próximo sábado, dia 1º, e completar a retirada em oito dias. A possibilidade de Tel-Aviv não se retirar do local ocorre antes de uma visita do enviado para o Oriente Médio do presidente dos Estados Unidos, Steve Witkoff, que foi um dos responsáveis pela primeira fase do acordo.

Corpos são identificados

Os restos mortais de quatro reféns israelenses foram confirmados nesta quinta-feira como sendo de Ohad Yahalomi, Itzhak Elgarat, Shlomo Mantzur e Tsachi Idan, de acordo com o Fórum de Reféns Desaparecidos, que representa as famílias dos sequestrados.

Mantzur, de 85 anos, foi morto no ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, e seu corpo foi levado para o enclave palestino. Israel disse que os outros três foram mortos no cativeiro, sem dar mais detalhes.

"Nossos corações doem ao receber essa notícia amarga", afirmou o presidente de Israel, Isaac Herzog. "Neste momento doloroso, há algum consolo em saber que eles serão sepultados com dignidade em Israel."

Hamas confirma libertação de prisioneiros

O grupo terrorista Hamas confirmou que mais de 600 prisioneiros palestinos foram libertados na quarta-feira, 26. A maioria deles eram de Gaza e retornaram ao enclave palestino. Israel havia atrasado a libertação dos prisioneiros no sábado passado, 22, por conta de uma cerimônia considerada macabra e humilhante do grupo terrorista para a devolução dos corpos de Shiri Bibas, Ariel Bibas, Kfir Bibas e Oded Lifshitz.

Após um acordo com os negociadores, o grupo terrorista entregou os quatro corpos à Cruz Vermelha em Gaza durante a noite, sem cerimônia pública.

Dentre os 600 prisioneiros, 445 eram homens, 21 eram adolescentes e havia uma mulher. Apenas 50 palestinos retornaram à Cisjordânia e dezenas de condenados à prisão perpétua foram exilados.

Trégua em perigo

Após a libertação de 33 reféns nesta primeira fase, em troca de quase 2 mil prisioneiros palestinos, a trégua está em perigo. Witkoff afirmou que gostaria que os dois lados iniciassem as negociações para a segunda fase do cessar-fogo, mas isso ainda não aconteceu.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, prometeu retornar todos os reféns para Israel e destruir as capacidades militares e de governo do Hamas. A administração Trump endossou ambos os objetivos.

O cessar-fogo, mediado pelos Estados Unidos, Egito e Catar, pôs fim a 15 meses de guerra na Faixa de Gaza, que eclodiu após os ataques terroristas do Hamas no dia 7 de outubro de 2023, que resultaram na morte de 1,2 mil pessoas e no sequestro de 250. Este foi o maior ataque terrorista da história de Israel e o maior contra judeus desde o Holocausto.

A ofensiva militar israelense em Gaza, que começou semanas depois do 7 de outubro, já deixou mais de 48 mil mortos, segundo o ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo Hamas e não diferencia civis de terroristas.