O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura da Cunha afirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira, 27, que o órgão só teve condições de cravar a gravidade dos atos do 8 de Janeiro na véspera. Naquele dia, vândalos depredaram os prédios dos Três Poderes em Brasília.
Chefe da Abin no início do governo Lula, Cunha foi convocado como testemunha de defesa de Anderson Torres, ministro da Justiça e Segurança Pública no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e secretário de Segurança Pública do Distrito Federal no início de 2023. Torres é réu na ação penal da tentativa de golpe de Estado.
O ex-diretor da Abin disse ainda que o órgão não tinha conhecimento do trajeto dos manifestantes, e que essa informação só chegou para ele às 8h do próprio dia 8.
De acordo com Saulo Moura da Cunha, a Polícia Federal (PF) forneceu informações sobre os ônibus na capital federal, com pessoas para o ato no dia 8. No dia 7, eram 25 veículos. No dia 8, estavam já 100 ônibus na Granja do Torto. "100 ônibus são quase 5 mil pessoas. Teríamos uma manifestação de grande porte", afirmou.
Os alertas já estavam sendo feitos desde o dia 2 de janeiro ao Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin). Naquela data, manifestante já trocavam mensagens em aplicativos convocando para atos, sugerindo depredação das sedes dos Três Poderes. O primeiro alerta mais contundente ocorreu na noite do dia 6.
Fazem parte do Sisbin, entre outros, as secretarias-executivas do ministério da Casa Civil, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), do Ministério das Relações Exteriores, os centros de inteligência de cada uma das Forças Armadas e do Ministério da Justiça e as diretorias de inteligência da pasta, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.
No dia 7 de janeiro de 2023, pela manhã, houve o primeiro contato com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, feito pelo ex-secretário de Planejamento e Gestão da Abin com a subsecretária da pasta do DF, Marília Ferreira de Alencar, quando foi feito um grupo para discutir os desdobramentos.
"Essas manifestações efetivamente estavam tomando vulto. Achei melhor abrirmos esse canal", afirmou Saulo. Houve sucessivos alertas ao Sisbin na manhã do dia 8, quando a Abin já sabia que os manifestantes marchariam rumo à Esplanada dos Ministérios no começo da tarde.
Marília é a única mulher entre os 31 tornados réus pelo STF. Ela teria coordenado o emprego das forças policiais do DF "para sustentar a permanência ilegítima de Jair Messias Bolsonaro no poder", segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Segundo Saulo, a Abin não recebeu informações de outros órgãos via Sisbin para saber o fluxo de pessoas a Brasília nos dias anteriores ao 8 de Janeiro. "Uma boa medida para gente é da Polícia Rodoviária Federal. A PRF não passou informação de ônibus detectados na estrada", disse.
O ex-diretor foi a última testemunha de Anderson Torres a depor na manhã desta segunda-feira. Mais cedo, o ex-diretor de operações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Djairlon Henrique Moura disse ao STF que blitze durante o segundo turno das eleições presidenciais de 2022 ocorreram para verificar a condição dos carros e dos transportadores, mas não impediram o fluxo de veículos de transporte durante a data. "Mais de 60% dos veículos fiscalizados não demoraram mais que 15 minutos para liberá-los", disse.
Ele também negou que houve um direcionamento específico para o Nordeste, ainda que tenha confirmado que, dias antes, houve uma operação da PRF em ônibus que estavam deslocando do Centro-Oeste e Sudeste para o Nordeste.
Já o delegado da PF Braulio do Carmo Vieira, ex-secretário de operações integradas do Ministério da Justiça afirmou que a live feita em 2021, em que foram feitos ataques à lisura do processo eleitoral, sem provas, causou "desconforto" a Torres, que teria sido "convocado" por Bolsonaro para participar. Segundo Braulio, o ex-ministro tinha "desconhecimento técnico" sobre o tema.
O julgamento será retomado nesta tarde, quando vão depor o ex-ministro da Educação Victor Godoy e outros funcionários da PF e da Abin na gestão de Bolsonaro.
8/1: Abin soube da gravidade na véspera, mas não sabia trajeto de manifestantes, diz ex-diretor
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