Lula diz a Tarcísio para 'não tentar esconder chapeuzinho do Trump' após taxação ao Brasil

Política
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) provocou nesta quinta-feira, 10, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que tem responsabilizado a gestão petista pela decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar as importações brasileiras em 50%. Os dois são potenciais adversários eleitorais, já que o governador paulista é cotado para disputar a Presidência da República como sucessor de Jair Bolsonaro (PL) na eleição de 2026.

 

Em entrevista ao Jornal da Record nesta quinta, Lula lembrou que Tarcísio publicou vídeo usando boné com o slogan trumpista "Make America Great Again" ("Faça a América grande novamente") quando Trump foi empossado em janeiro. Procurado, o governo de Tarcísio de Freitas não havia se posicionado até a publicação deste texto.

 

O presidente disse que está se sentindo em melhores condições de saúde aos 80 anos do que quando tinha 60, mas ressaltou que a decisão se será candidato à reeleição será tomada no momento certo.

 

"Agora eu vou te contar uma coisa: os loucos que governaram esse País não voltam mais", disse, se referindo a Bolsonaro. "O senhor Tarcísio pode tirar, não vai tentar esconder o chapeuzinho do Trump não, Tarcísio, pode ficar mostrando para a gente saber quem você é. Está cheio de lobo em pele de carneiro", disse Lula.

 

Em seguida, o presidente demonstrou indignação com o presidente americano, que pediu o fim da ação penal contra Bolsonaro, que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado após perder para Lula em 2022.

 

"Essa coisa do Trump começar um parágrafo citando o ex-presidente da República que fez um crime contra esse País? Que tentou dar um golpe? Não tem como. Esses não voltam. Se for necessário candidato para evitar isso, estarei candidato", acrescentou o petista.

 

Tarcísio e outros bolsonaristas buscam atribuir ao governo Lula a responsabilidade pela decisão de Trump, embora o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) esteja desde fevereiro nos Estados Unidos buscando convencer o governo Trump a adotar medidas contra o País e autoridades brasileiras, notadamente o ministro do STF, Alexandre de Moraes, como resposta a uma suposta perseguição política sofrida por Bolsonaro

 

Na quarta-feira, 9, Tarcísio publicou nas redes sociais que Lula colocou a ideologia acima do resultado e que não adianta o presidente "se esconder atrás do Bolsonaro" porque a responsabilidade é de quem governa. Antes, já havia compartilhado nota de Trump que afirma que Bolsonaro deve ser julgado pelo povo brasileiro, durante as eleições, e não pela Justiça.

 

Mais cedo nesta quinta-feira, Tarcísio reconheceu que a tarifa anunciada por Trump terá impactos negativos para o Brasil e especialmente São Paulo, Estado mais industrializado do País. O governador pediu que o governo federal deixe de lado diferenças ideológicas e sente à mesa com o governo Trump para negociar a reversão da medida.

 

"O que a gente vê é que dos países do G20, o mais afastado da Casa Branca é o Brasil. A gente tem dado demonstrações muito ruins, como foi agora na última reunião dos Brics. Então, nós precisamos estabelecer o consenso e lembrar que os americanos sempre foram aliados de primeira hora do Brasil", declarou Tarcísio.

 

Depois de falar com a imprensa pela manhã, o governador viajou para Brasília, onde almoçou com Bolsonaro. Ambos publicaram um vídeo do encontro nas redes sociais.

 

Horas depois, o ex-presidente publicou uma nota na qual afirma que recebeu "com senso de responsabilidade" a decisão de Trump taxar o Brasil e disse que respeita e admira o governo dos Estados Unidos.

 

Bolsonaro afirmou que o Brasil caminha para o "isolamento" e a "vergonha internacional" e pediu que os Poderes "ajam com urgência apresentando medidas para resgatar a normalidade institucional". Uma das cobranças feitas por Eduardo Bolsonaro após a taxação é que o Congresso conceda "anistia ampla, geral e irrestrita", beneficiando o ex-presidente e os presos pelo ato golpista do 8 de Janeiro.

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O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, alertou que as consequências econômicas da prolongada paralisação do governo federal estão se intensificando, dizendo que a situação está ficando "cada vez pior", à medida que as interrupções se espalham por setores-chave e pressionam as finanças públicas.

"Vimos um impacto na economia desde o primeiro dia, mas está ficando cada vez pior. Tivemos uma economia fantástica sob o presidente Trump nos últimos dois trimestres, e agora há estimativas de que o crescimento econômico para este trimestre poderia ser reduzido pela metade se a paralisação continuar", disse ele em entrevista à ABC neste domingo.

De forma semelhante, o assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, pontuou hoje que o crescimento do quarto trimestre pode ser negativo se o shutdown se prolongar.

Hassett, falando ao programa "Face the Nation" da CBS, observou que a escassez de controladores de tráfego aéreo estava causando grandes atrasos nas viagens na preparação para o feriado de Ação de Graças. "Essa época é uma das mais movimentadas do ano para a economia... e se as pessoas não estiverem viajando nesse momento, então realmente poderíamos estar olhando para um trimestre negativo", acrescentou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 9, que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe", em um sinal indireto às ameaças promovidas pelo governo dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".

O governo de Donald Trump tem usado como pretexto para intensificar sua presença militar no Caribe o combate ao narcotráfico. Nos últimos meses, destruiu barcos que trafegavam pela região alegando que se tratava de embarcações de traficantes. Os tripulantes foram mortos.

O discurso de Lula foi feito na Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia. O presidente brasileiro disse que a América Latina é uma "região de paz" e pretende continuar assim.

"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

Segundo Lula, a "democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvaziam espaços públicos e destroem famílias e desestruturam negócios". O presidente brasileiro disse que garantir "segurança é dever do Estado e direito humano fundamental" e que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". O presidente defendeu "reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas".

Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

O petista também lamentou o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e manifestou suas condolências às vítimas da tragédia climática dos últimos dias.

Um forte terremoto atingiu o norte do Japão na noite de domingo, seguido por vários tremores secundários, segundo a Agência Meteorológica do Japão. Um alerta de tsunami chegou a ser emitido.

O terremoto, com magnitude revisada para 6,9 e profundidade de 16 quilômetros, ocorreu na costa da província de Iwate às 17h03, no horário local.

Não houve relatos imediatos de feridos ou danos, nem de anormalidades nas duas usinas nucleares da região.

Tsunami

A agência havia emitido um alerta para tsunami de até 1 metro ao longo da região costeira do norte e, em seguida, informou que a água poderia atingir até 3 metros em alguns pontos.

Um tsunami de cerca de 10 centímetros foi detectado nas cidades de Ofunato, na província de Iwate, e nos portos de Ominato, Miyako e Kamaishi, chegando depois a 20 centímetros na área costeira de Kuji. O tsunami que se seguiu em Ofunato também atingiu 20 centímetros, segundo a agência.

Ondas de tsunami que seguem terremotos podem continuar por algumas horas, atingindo repetidamente a costa e, às vezes, aumentando de intensidade com o tempo.

Enquanto o alerta estava em vigor, as autoridades pediram que a população se mantivesse afastada do mar e das áreas costeiras, e alertaram para a possibilidade de novos tremores na região.

O alerta de tsunami foi suspenso cerca de três horas após o tremor inicial, mas a agência meteorológica informou que a área continua em risco de terremotos fortes por cerca de uma semana - especialmente nos próximos dois ou três dias.

Efeitos

Novos tremores foram registrados na província de Iwate, e a principal ilha mais ao norte, Hokkaido, também foi atingida pela sequência de abalos.

O nordeste do Japão é propenso a terremotos, incluindo o triplo desastre - terremoto, tsunami e colapso nuclear em Fukushima - ocorrido em março de 2011, ao sul de Iwate, que matou quase 20 mil pessoas, em sua maioria vítimas do tsunami, e causou sérios danos à usina nuclear de Fukushima Daiichi.

Mais de uma década depois, ainda há pessoas deslocadas da zona de exclusão. Manifestações continuam a ser realizadas periodicamente - a mais recente no sábado - para protestar contra o que é visto como falta de reconhecimento, por parte das autoridades, dos graves riscos da energia nuclear.

Um funcionário da agência, em entrevista coletiva no fim da noite de domingo, disse que não há indícios de que o terremoto mais recente esteja diretamente relacionado ao de 2011, embora a região seja geralmente suscetível a grandes tremores, como outro registrado em 1992.

Os trens-bala da região foram temporariamente interrompidos, segundo a operadora ferroviária JR East. O Japão, situado no "anel de fogo" do Pacífico, é um dos países mais propensos a terremotos no mundo.