Ministério da Justiça prioriza PEC da Segurança e mais 3 projetos na retomada legislativa

Política
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Com a volta do recesso no Congresso Nacional nesta terça-feira, 5, o Ministério da Justiça de Ricardo Lewandowski vai centrar esforços para aprovar quatro propostas na área da segurança pública até o fim do ano.

As atividades legislativas retomam depois de duas semanas de folga, e o semestre que se inicia é crucial para passar os projetos mais delicados, que costumam enfrentar dificuldades de tramitação em ano eleitoral. Em outubro de 2026 o País terá eleições para presidente da República, governos estaduais, Assembleias Legislativas estaduais, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, e o segundo semestre deve ficar parado nos parlamentos.

A prioridade de Lewandowski é a proposta de emenda à Constituição chamada de PEC da Segurança Pública, a principal aposta do governo Lula no combate à criminalidade, já aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. O projeto amplia as atribuições da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e inclui na Constituição o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e os fundos nacionais de financiamento do setor.

O texto também reforça a autonomia dos Estados no combate ao crime - ponto que havia criado celeuma com os governadores, que temem uma eventual invasão de competência das polícias estaduais -, e fortalece a Polícia Federal para investigar crimes ambientais e organizações criminosas a nível nacional, mirando sobretudo o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV). Também rebatiza a PRF como Polícia Viária Federal, que passaria a fazer o policiamento ostensivo em ferrovias e hidrovias federais, além das rodovias.

A PEC visa fortalecer o controle sobre a atividade policial. Está prevista a instituição de ouvidorias autônomas, nos três níveis da federação, "para receber representações, elogios e sugestões sobre a atividade desses profissionais". A ideia é que, com a constitucionalização desses órgãos, a sociedade civil possa ter instrumentos para pressionar as autoridades públicas a instituí-los.

No começo de julho, o relator da proposta na CCJ da Câmara, Mendonça Filho (União-PE), alterou o texto do governo ao retirar um trecho que daria competência exclusiva da União para ditar as normas gerais de segurança pública, defesa social e sistema penitenciário. A avaliação do ministério é que a modificação não impacta no cerne do projeto, e que ele deve ser aprovado apesar da ferrenha oposição dos bolsonaristas.

O secretário de Assuntos Legislativos do MJ, Marivaldo Pereira, avalia que a direita se divide na Câmara entre aqueles que gostariam de ver a PEC aprovada, ainda que com algumas modificações, e uma minoria crítica que tenta enterrar o projeto. Mesmo assim, o governo teria condições, na opinião dele, de aprovar a proposta até o fim do semestre.

"Aprovar a PEC da Segurança Pública neste semestre será fundamental para darmos uma resposta efetiva para a sociedade que clama pela melhoria da segurança pública. Aprovada a PEC, 2026 será o momento de avançar nas propostas que aprofundem a cooperação, integração e articulação dos entes federados para fazer frente ao crime organizado", diz Pereira.

Os outros projetos tratam de frentes diversas no combate à criminalidade. O "PL da cadeia do ouro" (3025/2023), por exemplo, regulamenta o controle de origem, compra, venda e transporte de ouro no território nacional, visando combater o garimpo ilegal. Ele foi proposto na esteira da crise ianomâmi, no começo do terceiro mandato de Lula.

Naquele semestre, o grupo de trabalho montado pelo governo havia se debruçado sobre a exploração ilegal de ouro em terras indígenas e unidades de conservação e detectado a inexistência de controle sobre a cadeia de compra e venda do ouro oriundo do regimes de Permissão de Lavra Garimpeira (PLG). Essas brechas na legislação permitem, no entendimento dos especialistas, o "esquentamento" do ouro extraído ilegalmente de territórios protegidos - atividade que causa devastação, conflitos socioambientais e contaminação dos ecossistemas.

Para viabilizar o monitoramento do comércio de ouro, o projeto de lei prevê que a primeira venda do ouro poderá ocorrer somente para instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional autorizadas pelo Banco Central e o responsável pela venda deverá ter autorização de lavra pela Agência Nacional de Mineração (ANM).

O governo também aposta em um projeto enviado em junho ao parlamento, que aumenta pena para furto e receptação de celulares (3073/2025), visando agir na cadeia que tem feito explodirem os crimes de estelionato. O roubo de smartphones vem se tornando peça-chave para organizações criminosas, que conseguem, em alguns casos, transferir grandes quantidades de dinheiro da conta das vítimas.

O projeto prevê uma nova hipótese de furto qualificado, aplicável ao crime cometido em benefício de um mandante, mediante pagamento ou como parte de uma atividade comercial (isto é, furtar o celular para vendê-lo). "Tal proposta visa coibir de maneira mais acentuada a

prática de crimes patrimoniais sob encomenda de organizações criminosas que exploram o mercado paralelo de produtos furtados", diz a justificativa do texto.

Por fim, o ministério quer aprovar o aumento de pena para quem incendiar florestas (4000/2024) - proposta prestes a completar um ano de sua concepção. Sua origem está na crise das queimadas florestais que assolaram o Brasil em setembro passado e levaram a uma força-tarefa para investigar e localizar os responsáveis.

O governo identificou haver crimes ambientais ainda considerados, do ponto de vista da legislação, como sendo de menor potencial ofensivo - cuja pena máxima prevista não ultrapassa 2 anos. A Polícia Federal avaliou que as penas baixas, sem agravantes ou qualificadoras, e a falta de tipificação penal de algumas condutas são as maiores dificuldades na persecução criminal dos crimes ambientais, o que lhes dá alta probabilidade de prescrição. Havia no fim de 2023, por exemplo, por volta de 370 pessoas presas no Brasil por crimes ambientais.

As apostas do governo Lula, no entanto, não refletem o mesmo entusiasmo na oposição. O deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP), presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, é crítico contumaz da PEC e ironiza as prioridades do Executivo.

"Os projetos 3025 (cadeia do ouro) e 3073 (receptação de celular) não foram nem despachados pelo presidente da Câmara. O 4000 (crimes ambientais) está aguardando parecer do relator na Comissão dos Povos Originários. Acredito que não são projetos tão importantes assim para o governo", diz ele.

A determinação da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes nesta segunda-feira, 4, pode representar um obstáculo adicional aos planos do governo. Isso porque os parlamentares bolsonaristas partiram para cima do Judiciário e afirmaram que vão obstruir os trabalhos nas duas Casas e travar votações se não for aprovado um "pacote da paz", que inclui anistia "ampla, geral e irrestrita" aos envolvidos no 8 de Janeiro, o impeachment do ministro de Moraes e a PEC do fim do foro privilegiado.

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Binyamin Netanyahu está travando um confronto cada vez mais aberto contra o chefe do exército, o general Eyal Zamir. O premiê defendeu nesta terça-feira, 5, a ocupação total de Gaza. O comando militar é contra. Os membros mais radicais da coalizão de governo pediram a renúncia de Zamir. O filho do primeiro-ministro, Yair Netanyahu, acusou o comandante de planejar um golpe contra o pai.

Netanyahu se reuniu ontem com membros do alto escalão do governo para discutir seus planos de guerra e defendeu o controle militar de toda a Faixa de Gaza, mesmo que a ocupação militar signifique que os reféns israelenses possam ser feridos ou executados pelo Hamas.

Segundo o gabinete do premiê, a reunião de ontem durou cerca de três horas. O objetivo era finalizar um plano para apresentar em uma sessão mais ampla do gabinete, no fim desta semana, de acordo com a imprensa de Israel.

Netanyahu já teria comunicado a seus ministros que buscará apoio para ocupar Gaza, apesar das objeções do exército. Zamir é contra, argumentando que a presença militar coloca em risco a vida dos reféns - estima-se que pelo menos 20 ainda estejam vivos.

O exército controla aproximadamente 75% da Faixa de Gaza, mas tem evitado operar em certas áreas onde os militares acreditam que os reféns estejam escondidos. O Hamas ameaça executar todos, caso soldados israelenses se aproximem dos cativeiros. Além disso, ninguém sabe o que fazer com os 2 milhões de palestinos que vivem no território.

Ontem, os membros de extrema direita da coalizão criticaram o general. Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança, exigiu que Zamir se comprometa publicamente a cumprir as ordens do governo civil. "Ele deve dizer que executará integralmente as ordens da liderança política", escreveu o ministro no X.

Golpe

O filho mais velho de Netanyahu também entrou na briga e usou as redes sociais para criticar Zamir. Yair, que vive em Miami, acusou o general de estar por trás de uma mensagem crítica postada por um jornalista no X. "Se quem ditou esse tuíte é quem pensamos (Zamir), então isso é uma rebelião, uma tentativa de golpe militar digna de uma república das bananas da América Central dos anos 70. Isso é criminoso", escreveu.

Até mesmo o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, que não é um radical extremista, criticou o chefe do exército. "Assim que a liderança política tomar as decisões necessárias, o alto comando militar, como tem feito em todas as frentes da guerra até agora, implementará profissionalmente a política que for determinada", disse Katz.

Netanyahu se pronunciou ontem durante uma cerimônia de recrutamento no centro de Israel. Ele reiterou os três objetivos da guerra, sem mencionar a perspectiva de ocupar Gaza por completo. O premiê disse às tropas que é preciso "derrotar o inimigo", "libertar os reféns" e "garantir que Gaza não seja mais uma ameaça para Israel".

Zamir recebeu apoio da oposição e do chanceler israelense, Gideon Sa'ar, o único membro do gabinete que saiu em sua defesa. "O comandante militar é obrigado a expressar sua opinião profissional de forma clara e inequívoca à cúpula política", disse Sa'ar. Yair Lapid, desafeto de Netanyahu, afirmou que esse tipo de divergência deveria ser resolvido "a portas fechadas". Benny Gantz criticou o premiê. "O problema está na liderança política, não no comando militar", disse.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Partido Republicano intensificou nesta terça-feira, 5, o cerco à oposição. O senador John Cornyn pediu que o FBI prenda os deputados democratas que travaram uma votação no Texas. Em outro ataque, o Departamento de Justiça começou a investigar membros do governo de Barack Obama. Por fim, uma comissão da Câmara, controlada pelo governo, intimou o ex-presidente Bill Clinton e sua mulher Hillary a depor sobre o Caso Epstein.

As três medidas deixaram os democratas em pé de guerra. O confronto no Texas é para determinar quem terá maioria na Câmara dos Deputados na eleição de 2026. Os republicanos querem redesenhar o mapa eleitoral e criar novos distritos, amealhando mais cinco cadeiras - a bancada texana passaria de 25 republicanos e 13 democratas para 30 republicanos e 8 democratas.

O redesenho precisa ser aprovado pela Câmara estadual, composta por 150 deputados (88 republicanos e 62 democratas). O quórum é de 100 parlamentares, mas 56 democratas travaram a manobra ao fugir para Illinois, Nova York e Massachusetts, Estados controlados pelo Partido Democrata.

O governador republicano do Texas, Greg Abbott, ameaçou destituir todos os deputados ausentes e ordenou uma investigação para determinar se os democratas cometeram algum crime ao impedir a manobra. Os deputados estaduais republicanos aprovaram mandados de prisão contra todos os 56 colegas da oposição.

Perseguição

O maior obstáculo é que a jurisdição dos republicanos, que controlam todos os ramos do governo texano, acaba na fronteira do Estado. Por isso, o senador Cornyn enviou ontem uma carta ao diretor do FBI, Kash Patel, pedindo ajuda para caçar e prender os deputados democratas - Patel não respondeu à solicitação.

Donald Trump, em entrevista à CNBC, reclamou dos democratas e disse que os republicanos do Texas "merecem" redefinir o mapa eleitoral. "Recebi a maior votação da história do Texas e temos direito a mais cinco cadeiras", afirmou.

Os democratas podem atrasar o redesenho, mas é improvável que impeçam a manobra, porque os republicanos podem continuar a convocar mais sessões especiais - e os deputados da oposição não podem viver indefinidamente no exílio. No entanto, o caso vem desatando uma guerra entre Estados, com Califórnia e Nova York prometendo medidas semelhantes para compensar as perdas no Texas, e o Missouri, controlado pelos republicanos, ameaçando fazer o mesmo.

As outras duas frentes de ataque do governo estão ligadas ao Caso Jeffrey Epstein, o bilionário pedófilo que morreu na prisão, em 2019. Com Trump cada vez mais envolvido no escândalo, os republicanos tentam retomar o controle do ciclo de notícias. Por isso, a Comissão de Supervisão da Câmara decidiu ontem convocar Bill e Hillary Clinton para depor - a lista de intimações inclui vários outros ex-funcionários dos governos de George W. Bush, Obama e Joe Biden.

Pelo mesmo motivo, a secretária de Justiça americana, Pam Bondi, determinou que promotores federais iniciem uma investigação sobre membros do governo Obama. O alvo principal é o ex-presidente, que teria promovido a "narrativa falsa" de que a Rússia interferiu nas eleições de 2016 para ajudar Trump, minando a legitimidade do republicano, segundo a Casa Branca.

Guerra

O presidente do Comitê Nacional Democrata, Ken Martin, reagiu ao cerco do governo e prometeu guerra. "Este não é o Partido Democrata do seu avô, que levava um lápis para uma briga de facas. Este é um novo Partido Democrata", disse. "Vamos combater fogo com fogo." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um incêndio florestal de rápida propagação em uma região mediterrânea da França, próximo da fronteira com a Espanha, deixou uma pessoa morta, várias feridas e ainda continuava se espalhando nesta quarta-feira, 6, após danificar uma faixa de terra do tamanho de Paris durante a noite, disseram autoridades.

Cerca de 1,5 mil bombeiros trabalharam durante a noite para conter o incêndio, que começou na tarde de terça-feira (5) na vila de Ribaute, na região de Aude. O incêndio permaneceu "muito ativo" na quarta-feira e as condições climáticas eram desfavoráveis, informou a administração local em um comunicado.

Uma pessoa morreu em casa e outras nove ficaram feridas, e pelo menos uma pessoa está desaparecida.

O relatório afirma que o fogo se espalhou por 12 horas por 11 mil hectares de terra, o que equivale aproximadamente ao tamanho da capital francesa. Com isso, este é o maior incêndio florestal na França até agora neste verão.

Cientistas alertam que as mudanças climáticas estão exacerbando a frequência e a intensidade do calor e da seca, tornando a região mais vulnerável a incêndios florestais.

A Europa é o continente que mais aquece no mundo, com temperaturas aumentando duas vezes mais rápido que a média global desde a década de 1980, de acordo com o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia.