Paulo Câmara: 'Não podemos admitir politização das nossas polícias'

Política
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O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), trata com cautela o assunto, mas reconhece que as polícias militares estão sob influência da radicalização política. Crítico da retórica do presidente Jair Bolsonaro, ele afirma que tentativas de politização da corporação são alvo da investigação da ação da PM pernambucana na violenta dispersão do ato contra o governo federal no dia 29 de maio, no Recife. Na ocasião, policiais militares dispararam balas de borracha contra os manifestantes. Duas pessoas que nem participavam do protesto foram atingidas no rosto e perderam a visão de um dos olhos. O episódio levou Câmara a mudar o comando da PM no Estado. "Não podemos ainda admitir qualquer tipo de politização das nossas polícias. Isso também é uma coisa que vem sendo verificada", afirmou o governador em entrevista ao Estadão.

Câmara avalia que o mais importante no momento é evitar aglomerações na pandemia e, por isso, seria melhor que não ocorressem novas manifestações de rua, "seja do campo progressista ou dos apoiadores do presidente". Mas diz que o Estado vai garantir o direito de protesto nos atos marcados para hoje. "Não necessariamente temos de ir para a passeata. Podemos fazer o protesto e mostrar a nossa indignação de outras formas."

Leia, a seguir, trechos de sua entrevista.

O PSB vai receber as filiações do deputado Marcelo Freixo e do governador do Maranhão, Flávio Dino, que anunciou sua saída do PCdoB. Como fica o cenário para 2022, já que com a volta de Lula há uma expectativa de que o partido tenha uma posição mais alinhada ao ex-presidente?

Queremos juntar o máximo possível de quadros que queiram nos acompanhar no desafio de 2022, que é muito claro: derrotar a iniciativa de reeleição do atual presidente e discutir alternativas para o Brasil voltar a crescer e gerar empregos com as instituições funcionando, sem ameaças e respeitando o estado democrático de direito, a democracia e a Constituição.

Para 2022, uma grande preocupação é em relação ao comportamento das polícias militares. O sr. substituiu o comando da corporação após o fato do dia 29 de maio. Tem receio de algum tipo de movimento de insubordinação em razão das eleições?

Os fatos que ocorreram no Recife no dia 29 de maio foram muito graves, fatos que estão sendo apurados. Já temos 16 policiais afastados. Houve a necessidade de substituição tanto do comandante da Polícia Militar quanto do secretário de Defesa Social. O enfoque que tem sido utilizado desde o início é que a gente não pode admitir o tipo de ato como o que foi feito, cenas como as que a gente viu não podem acontecer nunca mais em Pernambuco. Todo foco é ver o que realmente aconteceu e punir quem precisa ser punido e errou na abordagem e, principalmente, na reação ao que foi feito. Mesmo que haja algum tipo de justificativa para a ação da polícia, nada justifica a forma como ela atuou. É isso que a gente tem procurado com a investigação e com os processos. E não podemos ainda admitir qualquer tipo de politização das nossas polícias. Isso também é uma coisa que vem sendo verificada. São casos que podem ocorrer que não refletem o entendimento geral da tropa, mas existem, efetivamente, casos que a gente precisa dar o devido tratamento e impedir, pois sabemos muito bem: quando há algum tipo de politização, seja nas Forças Armadas ou nas polícias militares, isso é um fato grave com consequências ruins.

É possível acontecer no Brasil algo semelhante à invasão do Capitólio, que ocorreu nos EUA?

Em princípio, não, mas precisamos estar atentos a tudo. Infelizmente a gente vê muitas ameaças nos discursos oficiais. A cada dia sempre tem algum tipo de comentário, de discurso, de iniciativa que preocupa a democracia e o estado de direito. O próprio presidente dá exemplos muito ruins quando fala, seja em relação ao comportamento ou em relação à pandemia. A visão que ele tem de mundo é totalmente contrária ao que acredita que seja a resolução dos problemas brasileiros. A gente tem de estar sempre atento em buscar formas que não contaminem uma sociedade que, na realidade, precisa de oportunidades e mais educação, saúde, emprego e geração de renda.

Existe uma influência bolsonarista nas PMs, mais especificamente na PM de Pernambuco?

Evidente que a gente ouve muita coisa. O próprio comportamento do governo federal em alguns assuntos me preocupa, mas a gente também tem confiança no dever e na lealdade que as polícias militares - e no caso a de Pernambuco - têm com seu povo. É uma polícia que tem quase 200 anos, com serviços prestados importantes. Fatos como os que aconteceram no dia 29 de maio, evidentemente, nos preocupam, nos alertam, por isso essas investigações estão sendo feitas da forma mais transparente possível para não minimizar nem maximizar atuações que possam ter ocorrido de maneira incorreta. Justamente nesse olhar de que há por trás disso algumas tentativas (de politização da PM), mas que o desejo da grande maioria é não politizar essa atuação tão estratégica e necessária para a sociedade.

No sábado passado, tivemos em São Paulo a motociata do presidente. Hoje teremos novos atos de rua, desta vez, contra o governo federal. O sr. é a favor de manifestações nas ruas em meio a esta grave pandemia?

Nossa recomendação sempre foi evitar aglomerações. Nós estamos em um momento de pandemia difícil em Pernambuco. Os números melhoraram na última semana, mas ainda são muito preocupantes, apesar de todo o trabalho que foi feito, com a abertura de leitos, o vírus ainda está circulando e tem muitas pessoas internadas. Infelizmente, óbitos estão ocorrendo. Então, manifestações como essa, seja do campo progressista ou dos apoiadores do presidente, o interesse nosso é que não ocorressem. Agora, tivemos um exemplo importante no dia 29, que ela transcorreu com muita tranquilidade. Apesar de os fatos finais terem sido muito graves, a passeata respeitou o distanciamento social, as pessoas estavam protegidas com máscaras e tinha distribuição de álcool. Foi uma forma também de protestar que terminou se enquadrando dentro das normas sanitárias. A nossa recomendação era que se evitasse (nova manifestação). Mas vamos garantir efetivamente o direito de as pessoas protestarem.

O PSB, como partido, deve apoiar a participação nesses atos contra Bolsonaro?

Não necessariamente temos de ir para a passeata. Podemos fazer o protesto e mostrar a nossa indignação de outras formas. A gente tem trabalhado com nosso partido aqui e com outros da base aliada. Nós tivemos muitos partidos que no dia 29 recomendaram aos seus filiados que não participassem. Eu acredito que também pode acontecer neste sábado (hoje) o mesmo entendimento.

Como o governo está agindo para que o episódio com a PM não ocorra novamente?

Já estão definidos o roteiro, o que pode e o que não pode, os pontos de apoio, onde vai ter presença da polícia... Está tudo pactuado. Isso devia ter sido feito antes do dia 29, mas agora tem cinco secretarias estaduais envolvidas. Todos os organizadores dessas manifestações foram convidados. Temos um pré-acordo e a gente espera que seja respeitado, pois o que está sendo defendido é o direito de vir e de se manifestar das pessoas. E que se faça isso de maneira segura, respeitando as normas sanitárias.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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