Maioria dos militares exonerados pelo Planalto tem baixa patente

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

As exonerações promovidas por Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República atingiram, até agora, principalmente militares de baixa patente, sem posição na cadeia de comando da segurança institucional. Dos 157 militares dispensados pelo Palácio do Planalto, somente 21% são oficiais. Praças somam 79%.

O Estadão mapeou o total de dispensas e exonerações de praças e oficiais das Forças Armadas, a maioria da ativa, nos primeiros 20 dias de governo. Todos desempenhavam funções no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e na Secretaria-Geral da Presidência. As substituições vão continuar nos próximos dias.

Após a queda do comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda, por desgastes com Lula após os atos radicais do dia 8, o governo quer trocar o comando do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP). A unidade também foi criticada pelo presidente, que cobrou onde estavam os soldados que defendem o palácio durante a invasão do Planalto. O comandante será substituído nos próximos dias, conforme ministros palacianos. A escolha passa pelo novo comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, porque o batalhão é subordinado ao Comando Militar do Planalto.

O atual comandante da unidade, coronel Paulo Fernandes, trabalhou na reação à invasão do dia 8, mas há insatisfação generalizada no governo quanto ao desempenho dele e de seus comandados. Foi aberto um inquérito policial militar para apurar a ação do BGP na retomada do Planalto.

Trocas

A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, teve papel decisivo na ordem para trocas na residência oficial, conforme assessores. Teria partido dela o pedido ao ministro Gonçalves Dias, do GSI, para substituir a equipe de militares que servia à família Bolsonaro dentro do Palácio da Alvorada, em serviços domésticos e de apoio. A assessoria de Janja não se manifestou.

Segundo um integrante da cúpula da segurança presidencial, Janja não admite conviver com quem atendia o ex-presidente. Ela tem receio até dos militares que preparam a comida no Alvorada, os taifeiros.

Os militares que trabalhavam dentro do Alvorada são ligados à Secretaria de Administração da Presidência e respondem ao ministro Márcio Macêdo. Eram 45 na Diretoria de Apoio às Residências Oficiais. O último diretor era o coronel da reserva do Exército Anderson do Nascimento Demutti. Em seu mandato, segundo integrantes do GSI, Bolsonaro foi substituindo os civis que prestavam apoio no Alvorada, como secretários, cozinheiros e garçons, por militares.

Temporários

Integrantes do GSI dizem que parte das trocas, dos cargos de patente mais baixa, faz parte de um rodízio de rotina. O procedimento comum costuma ocorrer de tempos em tempos porque os servidores militares de baixa patente, como cabos e soldados, são temporários, e o contrato é renovado anualmente.

Embora de confiança, eles estavam em posições de quarto e quinto escalões. Nas proximidades das residências, atuam como segurança patrimonial, controle de cancela, sentinelas e nas entradas do Alvorada. A ampla maioria é de praças (sargentos, cabos e soldados) das três Forças.

Já os de patente mais alta saíram por decisão política. Desempenhavam funções de coordenação. Houve mudanças em dois cargos exercidos por generais do Exército, diretamente ligados ao comando da segurança presidencial. O número 2 do GSI, general Carlos Penteado, foi substituído pelo general Ricardo Nigri. O general Marcius Cardoso Netto assumirá o lugar do general Carlos Feitosa na Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial.

Gabinete

Lula excluiu os militares do círculo mais próximo de sua segurança, o que reduziu o poder do GSI. A função agora é desempenhada por policiais federais, ao menos até o fim de junho, lotados na Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata do Presidente. O petista deixou o GSI nos cuidados apenas os escritórios, residências e palácios vinculados à Presidência.

De forma inédita, o presidente rechaçou ter uma equipe de ajudantes de ordens formada por militares da ativa, como é praxe, por suspeita de atuação partidária. O governo intensificou as trocas no GSI depois das evidências de falhas na proteção do Planalto durante os ataques do dia 8.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs nesta terça-feira, 4, um plano de 800 bilhões de euros, nomeado "REARM Europe", para fortalecer as defesas das nações da União Europeia (UE), visando diminuir o impacto de um possível "desengajamento" dos Estados Unidos e fornecer à Ucrânia força militar para negociar com a Rússia, após a pausa da ajuda americana aos ucranianos.

O pacote ainda será apresentado aos 27 líderes da união. Na quinta-feira, 6, os representantes europeus realizarão uma reunião de emergência em Bruxelas para tratar sobre o assunto. "Não preciso descrever a grave natureza das ameaças que enfrentamos", disse von der Leyen. Fonte: Associated Press.

O Ministério das Relações Exteriores, em nota divulgada nesta segunda-feira (3), lamentou a suspensão da entrada da ajuda humanitária na Faixa de Gaza por Israel. "O governo brasileiro deplora a decisão israelense de suspender a entrada de ajuda humanitária em Gaza, que exacerba a precária situação humanitária e fragiliza o cessar-fogo em vigor", diz o texto do Itamaraty.

Israel interrompeu a entrada de todos os bens e suprimentos na Faixa de Gaza no domingo (2) e advertiu sobre "consequências adicionais" caso o Hamas não aceite uma nova proposta para estender o cessar-fogo.

O Itamaraty diz que o Brasil pede a "imediata reversão da medida", recordando que "Israel tem obrigação - conforme reconhecido pela Corte Internacional de Justiça em suas medidas provisórias de 2024 - de garantir a prestação de serviços básicos essenciais e assistência humanitária à população de Gaza, sem impedimentos". A nota afirma ainda que a obstrução deliberada e o uso político da ajuda humanitária constituem grave violação do direito internacional humanitário.

O governo brasileiro defende que as partes promovam o estrito cumprimento dos termos do acordo de cessar-fogo e o engajamento nas negociações "a fim de garantir cessação permanente das hostilidades, retirada das forças israelenses de Gaza, libertação de todos os reféns e estabelecimento de mecanismos robustos para ingresso de assistência humanitária desimpedida, previsível e na necessária escala."

A discussão entre os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Ucrânia, Volodimir Zelenski, na última sexta-feira (28) na Casa Branca levou as relações entre os dois países a um conflito. Ele também causou sério dano a uma aliança no coração da ordem estabelecida depois da Segunda Guerra Mundial: a Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Trump adotou uma posição que muitos aliados europeus viam como se ele estivesse do lado do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao ignorar as preocupações de segurança de um país amigo que precisa de ajuda do Ocidente. Ele disse que o presidente ucraniano estava perdendo a guerra e "não tinha cartas".

A Otan é baseada na ideia de que os EUA podem usar seu poderio militar, incluindo o arsenal de armas nucleares, para defender qualquer aliado que for atacado. Esta premissa fundamental agora está sendo questionada.

"Eu estou preocupado que estamos nos últimos dias da Otan", disse o almirante aposentado James Stavridis, ex-comandante aliado supremo da Otan. Ele destacou que a aliança "pode não entrar prestes a entrar em colapso, mas eu posso certamente ouvir o ranger mais alto do que em outros tempos em minha longa carreira militar."

No último domingo, 2, Trump publicou uma mensagem na sua plataforma Truth Social: "Devemos dedicar menos tempo nos preocupando com Putin e mais tempo nos preocupando sobre as gangues de imigrantes que cometem estupros, traficantes, assassinos e pessoas que vieram de instituições (de saúde) mental entrando em nosso país - Para que não acabemos como a Europa." A Casa Branca não fez comentários sobre a política do governo dos EUA sobre a Otan.

A força do apoio de Trump à Otan, que foi criticada no passado, continua incerta. Na Casa Branca na última sexta-feira, ele disse "estamos comprometidos com a Otan" e elogiou um país membro, a Polônia, que faz muitos gastos com defesa.

No sábado, dia 1º, Elon Musk, um assessor de Trump que lidera o departamento de eficiência do governo, endossou uma mensagem na plataforma X que defendia a retirada dos EUA da Otan e das Nações Unidas.

Líderes europeus, que confiam na Otan para a segurança de seus países, têm evitado falar publicamente sobre as ameaças à aliança, mas alguns começam a comentar planos alternativos. "Queremos preservar a parceria transatlântica e a nossa força conjunta", comentou no sábado a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock. "Mas ontem vimos uma vez mais que os europeus não devem ser ingênuos", disse, referindo-se aos eventos ocorridos na Casa Branca na sexta-feira: "Temos que assumir a responsabilidade pelos nossos próprios interesses, nossos próprios valores e nossa própria segurança, pelo bem do nosso povo na Europa."