CPI contra o padre Júlio Lancellotti deve ter votação apertada no plenário da Câmara de SP

Política
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O novo requerimento de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal de São Paulo para investigar o padre católico Júlio Lancellotti deve enfrentar resistência para ser aprovado em plenário. Sem apoio direto do governo e das bancadas, mas com o incentivo do presidente da Casa, Milton Leite, o autor da CPI, Rubinho Nunes (União Brasil), tem rodado os gabinetes atrás de apoio.

 

O parlamentar mudou o escopo da CPI, que antes tinha como objetivo analisar a atuação de organizações não governamentais (ONGs) que atuam na Cracolândia, no centro da capital. O novo requerimento, protocolado nesta quarta-feira, 13, mira mais diretamente o padre Júlio, que coordena a Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo e não recebe recursos da Prefeitura de São Paulo.

 

Segundo o documento, a comissão tem a finalidade de "apurar violações à dignidade da pessoa humana, em especial crimes contra a liberdade sexual, assédio moral, sexual, psicológico e abusos congêneres cometidos contra pessoas em situação de rua, vulnerabilidade e drogadição". O vereador vem acusando há semanas o padre de crimes sexuais com base em supostos depoimentos de vítimas; Lancellotti nega. O pároco foi procurado para comentar a nova tentativa de CPI e ainda não se manifestou. Contudo, em manifestação publicadas em suas redes sociais, ele já tratou do assunto.

 

"As acusações estão imbricadas em uma rede de desinformação, que mascara eventuais interesses de setores do poder político e econômico em ceifar aquilo que é o sentido do meu sacerdócio: a luta pelos desamparados e pelo povo de rua", declarou o padre, em fevereiro, por meio de nota divulgada nas redes sociais.

 

O novo requerimento teve o apoio de 19 vereadores. A quantidade de assinaturas representa o mínimo necessário para o documento ser protocolado. Para ser instalada, a CPI precisa passar por duas votações distintas em plenário, uma para abrir uma nova CPI e outra para que a proposta seja efetivamente aprovada. Em ambas, precisa de maioria simples, ou seja, apoio de 28 dos 55 vereadores.

 

Apesar de já contar no papel com dois terços do número necessário, os nove votos faltantes não são tão simples de serem obtidos. O Estadão apurou com lideranças da Câmara que há receio entre os vereadores de se ter o nome vinculado a uma polêmica envolvendo um sacerdote da Igreja Católica e também questionamentos a respeito da prioridade dada a esta CPI frente aos outros pedidos que aguardam na fila.

 

"Temos 45 CPIs (aguardando deliberação) e todas receberam o mesmo apoio da CPI do vereador Rubinho. O exercício dele agora é buscar assinaturas para ter preferência. Acho que é mais difícil, até porque cada vereador vai defender a sua. Eu estou defendendo a minha, das pirâmides financeiras, e já falei para ele, porque acho importante para a cidade", afirma o líder do governo, Fábio Riva (PSDB).

 

Riva garante ainda que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) não tem nenhuma ingerência na pauta e a decisão cabe exclusivamente aos vereadores. Em janeiro, o emedebista teve um encontro com o padre Júlio Lancellotti na sede da Prefeitura. Nunes também já declarou publicamente que, se fosse vereador, não seria a favor de uma CPI para investigá-lo. "Não me sentiria confortável em fazer qualquer tipo de investigação contra um sacerdote que a gente vê só fazer o bem para as pessoas, dedicar sua vida para poder ajudar o próximo."

 

Vereador tenta convencer colegas no 'corpo a corpo'

 

A primeira CPI proposta por Rubinho, sobre ONGs da Cracolândia, derreteu na Câmara depois que o vereador deixou claro nas redes sociais que a sua intenção era investigar o religioso. Dos nove nomes que anunciaram a retirada de apoio, apenas João Jorge (PSDB), que é vice-presidente da Casa e aliado de Milton Leite, mudou de ideia mais uma vez e aparece no novo requerimento de abertura da comissão.

 

Esse número, em tese, se soma aos 16 vereadores de PT, PSOL e PSB, partidos de oposição que são críticos ao requerimento e não concordaram com o andamento do pedido no colégio de líderes. Excluindo as 19 assinaturas recolhidas por Rubinho, sobra uma margem de 12 votos, incluindo três vereadores que apoiaram a CPI das ONGs e, mesmo que não tenham recuado depois, não integram o documento protocolado esta semana (veja abaixo).

 

O espaço de manobra de Rubinho envolve dois colegas do União Brasil e três do MDB, partido do prefeito Ricardo Nunes. Esse bloco é comandado por Milton Leite. O flanco mais produtivo, no entanto, está no PSDB, que havia sido o principal fiador da antiga proposta, além do bloco formado por PSD e Podemos. As duas bancadas, juntas, podem fornecer mais 12 votos, mas não devem fechar questão contra ou a favor, deixando o assunto a critério de cada parlamentar.

 

"Esse é um tipo de caso em que não há uma decisão por bancada. Tivemos uma reunião e não houve nenhum impedimento para assinar ou não", afirma Rodrigo Goulart (PSD), líder do bloco. Nenhum dos parlamentares do partido assinou o novo requerimento de Rubinho. No Podemos, a vereadora Ely Teruel (Podemos) firmou apoio.

 

Para o autor da CPI, a abertura do colegiado é apenas uma questão de tempo. "A dificuldade é que pelo período em que estamos, porque não se encontra, às vezes, os vereadores na Casa, e a assinatura é física, feita no papel (para receber prioridade na pauta). Acaba demorando um pouco por isso, mas acho que em uma ou duas semanas isso vai estar resolvido", planeja Rubinho.

 

O empenho estaria justamente em convencer parlamentares de PSDB, PSD e MDB, além de garantir a totalidade do apoio do Republicanos e dentro do seu partido, o União Brasil. A oposição, por outro lado, acredita que a CPI pode não vingar e reforça que não há garantia da presença de todos os parlamentares no plenário, o que coloca a aprovação sob risco em um cenário mais equilibrado.

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O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, deve se reunir com o rei Charles III nesta segunda-feira, 3, quando discutirá as ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de tornar o Canadá o 51º Estado de seu país.

O rei foi criticado no Canadá por ficar em silêncio sobre as ameaças de Trump de anexar o Canadá.

Trudeau disse em Londres neste domingo, 2, que discutirá assuntos importantes para os canadenses com o rei Charles e afirmou: "Nada parece mais importante para os canadenses agora do que defender nossa soberania e nossa independência como nação". Charles é o chefe de Estado do Canadá, que é um membro da Comunidade Britânica de ex-colônias.

No geral, o movimento antirrealeza no Canadá é pequeno, mas o silêncio do monarca sobre as ameaças de Trump tem estimulado conversas nos últimos dias.

O ex-primeiro-ministro de Alberta Jason Kenney disse que, "para os canadenses decepcionados que o rei Charles não comentou (sobre as ameaças de Trump), ele só pode agir seguindo o conselho do primeiro-ministro do Canadá". "O governo do Canadá deve pedir ao chefe de Estado para ressaltar a soberania canadense", escreveu Kenney no X.

O rei, que se encontrou neste domingo com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, convidou Trump para uma visita de Estado à Escócia.

O acadêmico Philippe Lagassé disse que o governo do Reino Unido provavelmente lutará contra possíveis conselhos de Trudeau para que o rei fale em nome do Canadá, mas Daniel Béland, professor de ciência política na Universidade McGill, em Montreal, disse que muitos canadenses gostariam de uma declaração pública do rei e que eles podem ficar bravos se isso não acontecer.

Béland disse que espera que Trudeau levante, primeiramente, essa questão com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer. "Este é um assunto diplomático altamente delicado e eles devem agir com muito cuidado, não apenas por causa do contexto internacional tenso e da potencial reação pública negativa do presidente Trump, mas também porque qualquer erro aqui pode prejudicar a imagem e a legitimidade política da monarquia", disse Béland.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky, afirmou neste domingo, 2, que o acordo sobre minerais está pronto para ser assinado, enquanto busca avançar as negociações além das disputas políticas nos Estados Unidos.

Em uma entrevista transmitida pela BBC, Zelensky destacou que não era apropriado manter tais conversas completamente abertas, pois "os inimigos podem tirar vantagem" de possíveis desentendimentos entre aliados. Ele evitou se aprofundar em conflitos políticos e enfatizou seu foco em promover discussões "construtivas" sobre o futuro.

"Se formos construtivos, o resultado positivo virá", declarou, segundo reportagem do The Guardian.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de retomar negociações com Donald Trump, Zelensky afirmou que viajou "12 horas de trem e depois mais 11 horas de avião porque o presidente dos Estados Unidos me convidou". Segundo ele, os EUA são um dos principais parceiros da Ucrânia. "Para mim, estar na Casa Branca quando sou convidado é um gesto de respeito."

Segundo o The Guardian, Zelensky reforçou que a intenção nunca foi "insultar" ninguém e que sempre buscou negociações bipartidárias com todas as forças políticas dos EUA. No entanto, ressaltou a importância de garantir que a posição da Ucrânia fosse devidamente ouvida, mantendo o foco no engajamento "construtivo" com os Estados Unidos.

Zelensky também enfatizou que a Rússia é a parte agressora no conflito e alertou contra qualquer tentativa de reescrever a narrativa da guerra, insinuando uma falsa equivalência entre as nações.

Curiosamente, o presidente ucraniano optou por falar por meio de um intérprete e recusou-se a se expressar em inglês.

Acordo de paz

Zelensky também rejeitou a sugestão de assinar um acordo de paz que envolvesse a entrega dos territórios ocupados pela Rússia, classificando essa possibilidade como "uma separação forçada de nossas terras" e "uma coerção" que poderia levar a novas hostilidades no futuro.

"Acredito que os países que nos apoiam, ou que talvez queiram atuar como mediadores nesta guerra, compreendem que, se o conflito terminar de forma injusta, será apenas uma questão de tempo até que as pessoas busquem essa justiça", afirmou.

"Não queremos nada que não nos pertença", enfatizou.

A França e a Grã-Bretanha propuseram um cessar-fogo de um mês na Ucrânia "no ar, nos mares e na infraestrutura energética", disse o presidente francês Emmanuel Macron ao jornal Le Figaro.

Macron não falou com repórteres ao sair da cúpula de líderes sobre a defesa da Ucrânia em Londres, mas falou com o Le Figaro a caminho da cúpula.

O presidente francês disse que ele e o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, elaboraram uma trégua que duraria um mês. Os soldados só seriam enviados ao solo em um estágio posterior.

"Não haverá tropas europeias em solo ucraniano nas próximas semanas", disse. "A questão é como usaremos esse tempo para tentar obter uma trégua acessível, com negociações que levarão várias semanas e, então, uma vez que a paz seja assinada, uma mobilização."

Questionado em uma entrevista coletiva se ele estava ciente do plano colocado na mesa por Macron e Starmer, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse, sem dar mais detalhes, de acordo com uma tradução da BBC: "Estou ciente de tudo".