Pela primeira vez, um parlamentar é levado ao centro do caso Marielle

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Depois de seis anos de investigação, o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes levou, pela primeira vez, um parlamentar no exercício do mandato ao centro da apuração. O deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ), de acordo com a delação do ex-policial militar Ronnie Lessa - homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) -, está ligado ao crime.

 

A citação ao parlamentar foi o que motivou o deslocamento do caso do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para o STF, segundo relatou uma pessoa com acesso ao inquérito no tribunal. Chiquinho Brazão é irmão do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) Domingos Brazão. Procurado pela reportagem, o deputado federal apontou "falta de idoneidade" no relato de Lessa.

 

É a segunda delação aceita na investigação, desde que a Polícia Federal entrou na apuração, em 2023. Antes, fora conduzida pelo Ministério Público do Estado Rio. A primeira foi a do motorista Élcio Queiroz, que conduziu o carro usado no crime.

 

Sem defesa

 

Os advogados Bruno Castro e Fernando Santana, que atuavam em 12 processos contra Lessa e representaram o ex-PM por cinco anos, deixaram ontem a defesa, após a homologação da colaboração premiada. Eles afirmam que seu escritório não atua para delatores "por ideologia jurídica".

 

Há bancas que não costumam chancelar o instituto da delação. Os advogados dizem ter avisado a Lessa ser contra por "aversão ao instituto processual da delação premiada". Não explicaram, no entanto, por que a decisão de sair do caso se deu agora, visto que a negociação começou em janeiro.

 

"Nossa indisposição à delação é genérica e pouco importa o crime cometido, quem tenha cometido e/ou contra quem foi cometido", sustentaram os agora ex-advogados.

 

Denunciado como executor do crime, Lessa teria citado ao STJ Domingos Brazão como autor intelectual dos assassinatos, segundo o site The Intercept Brasil. A informação sobre a referência ao nome de Chiquinho Brazão foi divulgada inicialmente pelo colunista Guilherme Amado, do site Metrópoles, e confirmada depois pelo Estadão.

 

Segundo o gabinete do ministro Alexandre de Moraes, que homologou a colaboração, foram verificados requisitos de "regularidade, legalidade, adequação dos benefícios pactuados e dos resultados da colaboração à exigência legal". A homologação foi anunciada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, para quem a "elucidação do caso está próxima".

 

Viúva de Marielle, a vereadora carioca Monica Benício (PSOL) afirmou que a declaração de Lewandowski "em nada colabora" e "apenas faz aumentar as especulações e uma disputa de protagonismo político que não honram as duas pessoas assassinadas".

 

'Fofocas'

 

Em Brasília para discutir a renegociação da dívida do Estado do Rio, o governador Cláudio Castro (PL) disse ontem que espera um desfecho do caso Marielle e que os novos passos da investigação são "fofocas". "A gente espera o desfecho o mais rápido possível. Só o que tem agora é fofoca jurídica e política", afirmou o governador.

 

Cláudio Castro também reivindicou para o Estado o mérito de ter prendido Ronnie Lessa. "Sempre disse que não existe crime estadual, federal ou municipal. A gente espera é que a colaboração do Estado tenha sido decisiva", disse ele.

 

O assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes completou seis anos na quinta-feira passada. Embora os apontados como o autor dos disparos e o motorista que o conduziu naquela noite de 14 de março de 2018 no Rio estejam presos, ainda falta saber quem mandou matar a vereadora.

 

'Surpreendido'

 

Procurada pela reportagem, a assessoria do conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão informou que não se pronunciaria. Já Chiquinho Brazão reagiu dizendo que foi "surpreendido por especulações". Afirmou que seu convívio com a vereadora sempre foi amistoso e cordial, "sem espaço para desavenças". Chiquinho Brazão disse que "causa estranheza" que seu nome só tenha surgido após "muitos meses" da colaboração. Ele disse ainda que vai se colocar à disposição das autoridades e que aguarda "com serenidade e amparado pela verdade" o esclarecimento dos fatos. (COLABORARAM CAIO SPECHOTO, SOFIA AGUIAR E RAYANDERSON GUERRA)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, deve se reunir com o rei Charles III nesta segunda-feira, 3, quando discutirá as ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de tornar o Canadá o 51º Estado de seu país.

O rei foi criticado no Canadá por ficar em silêncio sobre as ameaças de Trump de anexar o Canadá.

Trudeau disse em Londres neste domingo, 2, que discutirá assuntos importantes para os canadenses com o rei Charles e afirmou: "Nada parece mais importante para os canadenses agora do que defender nossa soberania e nossa independência como nação". Charles é o chefe de Estado do Canadá, que é um membro da Comunidade Britânica de ex-colônias.

No geral, o movimento antirrealeza no Canadá é pequeno, mas o silêncio do monarca sobre as ameaças de Trump tem estimulado conversas nos últimos dias.

O ex-primeiro-ministro de Alberta Jason Kenney disse que, "para os canadenses decepcionados que o rei Charles não comentou (sobre as ameaças de Trump), ele só pode agir seguindo o conselho do primeiro-ministro do Canadá". "O governo do Canadá deve pedir ao chefe de Estado para ressaltar a soberania canadense", escreveu Kenney no X.

O rei, que se encontrou neste domingo com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, convidou Trump para uma visita de Estado à Escócia.

O acadêmico Philippe Lagassé disse que o governo do Reino Unido provavelmente lutará contra possíveis conselhos de Trudeau para que o rei fale em nome do Canadá, mas Daniel Béland, professor de ciência política na Universidade McGill, em Montreal, disse que muitos canadenses gostariam de uma declaração pública do rei e que eles podem ficar bravos se isso não acontecer.

Béland disse que espera que Trudeau levante, primeiramente, essa questão com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer. "Este é um assunto diplomático altamente delicado e eles devem agir com muito cuidado, não apenas por causa do contexto internacional tenso e da potencial reação pública negativa do presidente Trump, mas também porque qualquer erro aqui pode prejudicar a imagem e a legitimidade política da monarquia", disse Béland.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky, afirmou neste domingo, 2, que o acordo sobre minerais está pronto para ser assinado, enquanto busca avançar as negociações além das disputas políticas nos Estados Unidos.

Em uma entrevista transmitida pela BBC, Zelensky destacou que não era apropriado manter tais conversas completamente abertas, pois "os inimigos podem tirar vantagem" de possíveis desentendimentos entre aliados. Ele evitou se aprofundar em conflitos políticos e enfatizou seu foco em promover discussões "construtivas" sobre o futuro.

"Se formos construtivos, o resultado positivo virá", declarou, segundo reportagem do The Guardian.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de retomar negociações com Donald Trump, Zelensky afirmou que viajou "12 horas de trem e depois mais 11 horas de avião porque o presidente dos Estados Unidos me convidou". Segundo ele, os EUA são um dos principais parceiros da Ucrânia. "Para mim, estar na Casa Branca quando sou convidado é um gesto de respeito."

Segundo o The Guardian, Zelensky reforçou que a intenção nunca foi "insultar" ninguém e que sempre buscou negociações bipartidárias com todas as forças políticas dos EUA. No entanto, ressaltou a importância de garantir que a posição da Ucrânia fosse devidamente ouvida, mantendo o foco no engajamento "construtivo" com os Estados Unidos.

Zelensky também enfatizou que a Rússia é a parte agressora no conflito e alertou contra qualquer tentativa de reescrever a narrativa da guerra, insinuando uma falsa equivalência entre as nações.

Curiosamente, o presidente ucraniano optou por falar por meio de um intérprete e recusou-se a se expressar em inglês.

Acordo de paz

Zelensky também rejeitou a sugestão de assinar um acordo de paz que envolvesse a entrega dos territórios ocupados pela Rússia, classificando essa possibilidade como "uma separação forçada de nossas terras" e "uma coerção" que poderia levar a novas hostilidades no futuro.

"Acredito que os países que nos apoiam, ou que talvez queiram atuar como mediadores nesta guerra, compreendem que, se o conflito terminar de forma injusta, será apenas uma questão de tempo até que as pessoas busquem essa justiça", afirmou.

"Não queremos nada que não nos pertença", enfatizou.

A França e a Grã-Bretanha propuseram um cessar-fogo de um mês na Ucrânia "no ar, nos mares e na infraestrutura energética", disse o presidente francês Emmanuel Macron ao jornal Le Figaro.

Macron não falou com repórteres ao sair da cúpula de líderes sobre a defesa da Ucrânia em Londres, mas falou com o Le Figaro a caminho da cúpula.

O presidente francês disse que ele e o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, elaboraram uma trégua que duraria um mês. Os soldados só seriam enviados ao solo em um estágio posterior.

"Não haverá tropas europeias em solo ucraniano nas próximas semanas", disse. "A questão é como usaremos esse tempo para tentar obter uma trégua acessível, com negociações que levarão várias semanas e, então, uma vez que a paz seja assinada, uma mobilização."

Questionado em uma entrevista coletiva se ele estava ciente do plano colocado na mesa por Macron e Starmer, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse, sem dar mais detalhes, de acordo com uma tradução da BBC: "Estou ciente de tudo".