'Passarinheiros' foram elo entre irmãos Brazão e matador de Marielle há 25 anos

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

A relação entre os irmãos Brazão, apontados como mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, e o autor do crime, o ex-PM Ronnie Lessa começou 20 anos antes dos homicídios, em 1999. Em delação, o assassino narrou que conheceu Chiquinho e Domingos "em um ambiente de passarinho, cavalo e mata", via Macalé, um miliciano próximo aos Brazão que era "passarinheiro nato", e Santiago, dono de um criadouro em Jacarepaguá.

 

Segundo Lessa, o primeiro encontro com os Brazão se deu nesse "criatório de passarinhos, com a reprodução de curiós e bicudos", na área da Chacrinha, na zona oeste do Rio. Lá morava "Santiago Gordo", dono do criadouro, que morava a cerca de 50 metros do haras dos Brazão. Lessa tinha uma relação de proximidade com Santiago. Macalé também frequentava o local - sendo que, 18 anos depois, intermediou a suposta encomenda, pelos Brazão, do assassinato de Marielle.

 

"Aquele ambiente ali de passarinho, cavalo e mata, porque é um lugar que se não tivesse favelizado era um lugar bonito, então aquele ambiente ali era uma coisa bacana até pra respirar, virou uma frequência. O Macalé, passarinheiro nato, eu me aventurava a ter um passarinho ou outro, mas meu negócio era mais beber cerveja e jogar sinuca e cerveja sempre gelada. Nesse ambiente eu conheci os Brazão, os irmãos, fui apresentado pelo Santiago nesse ambiente aí", narrou.

 

Lessa indicou ainda que os laços foram "estreitados" e eles passaram a jogar sinuca, mas "não periodicamente como fazia com Macalé e Santiago". "A gente frequentava o mesmo ambiente, em frente o haras deles, menos de cinquenta metros, e logo na curva era a casa do Carlinhos, que era funcionário deles do haras. Esse era o ambiente ali, em volta das áreas que iriam ser exploradas", indicou.

 

Segundo Lessa, Macalé era amigo dos Brazão, cavalgava com eles. "Macalé continuou nessa situação de passarinho desde sempre, e eu não, não tinha paciência para isso, eu não sabia nem limpar passarinho, as vezes ficava sujo", narrou o ex-PM.

 

A criação de passarinhos era um hobby compartilhado por Chiquinho e Macalé, segundo a Polícia Federal. A corporação destacou inclusive o vídeo que registrou o homicídio do miliciano, divulgado pelo Estadão. Na gravação, Macalé estava prestes a colocar em seu carro duas gaiolas de passarinho quando foi alvejado por tiros que culminaram em sua morte.

 

Com relação a Chiquinho, a PF destaca como o perfil do deputado nas redes sociais está vinculado a perfis de criatório de pássaros. Os investigadores citaram ainda um pronunciamento feito pelo deputado na Câmara em 2023, sobre a honra de receber o deputado estadual Marcelo Dino junto do presidente da Federação dos Ecos Passarinheiros.

 

Já quanto a Lessa e Domingos Brazão, a Polícia Federal não conseguiu provas os ligassem aos passarinhos, o que justificaria a baixa frequência do conselheiro do TCE do Rio nos eventos sobre o tema.

 

De outro lado, a PF assentou que, apesar de não ser fanático pela criação de passarinhos, Lessa frequentava a casa de Santiago, com menos regularidade que Macalé e Chiquinho Brazão, para beber e jogar sinuca, por conta de seu estreito vínculo de amizade com o dono da casa.

 

"A relação de proximidade com Santiago não se espelhava na relação de Ronnie com os Irmãos Brazão, sobretudo em razão de seus encontros na Comandante Luís Souto serem esporádicos. Entretanto, conforme reconhecido por Lessa, quem mantinha uma próxima relação com o Clã Brazão era Macalé, o que converge, inclusive, para a necessidade de sua intermediação do negócio entre os mandantes e o sicário", anotou a PF.

 

Santiago

 

Em seu depoimento, o ex-PM ainda sugeriu aos investigadores da Operação Murder Inc. que conversassem com Dona Rose, mulher de Santiago. A Polícia Federal entendeu que as declarações dela iam de encontro aos relatos de Lessa.

 

Ela confirmou que Chiquinho Brazão frequentava sua casa por gostar de passarinhos e que seu marido - já falecido - frequentava o haras da família Brazão. Segundo ela, Santiago e Chiquinho eram muito próximos por serem "passarinheiros".

 

Dona Rose narrou ainda que Macalé frequentava as reuniões de passarinho, e que sua rottweiller Jade não gostava dele. A mulher sustentou ainda que "não gostava das reuniões em razão dos assuntos que eram tratados, sempre com diversos palavrões etc.".

 

Sobre a relação entre Santiago e Lessa, Dona Rose narrou que seu marido e o ex-PM eram muito próximos, sendo que o primeiro convidou o hoje delator para sua festa de formatura no curso de Direito.

Em outra categoria

Mais de 10 pessoas morreram nesta terça-feira, 29, após confrontos em um subúrbio da capital da Síria entre combatentes drusos e grupos pró-governo, disseram um monitor de guerra e um grupo ativista. Os dados de vítimas, no entanto, ainda são imprecisos.

Homens armados drusos sírios entraram em confronto nas últimas semanas com forças de segurança do governo e homens armados pró-governo no subúrbio de Jaramana, no sul de Damasco.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, afirmou que pelo menos 10 pessoas foram mortas, quatro delas agressores e seis moradores de Jaramana. O coletivo de mídia ativista Suwayda24 afirmou que 11 pessoas foram mortas e 12 ficaram feridas. Outros relatos indicam até 14 mortos.

Os confrontos começaram por volta da meia-noite de segunda-feira, 28, depois que uma mensagem de áudio circulou nas redes sociais em que um homem estaria criticando o profeta Maomé.

O áudio foi atribuído ao clérigo druso Marwan Kiwan. Mas ele afirmou em um vídeo postado nas redes sociais que não era responsável pelo áudio, o que irritou muitos muçulmanos sunitas.

"Nego categoricamente que o áudio tenha sido feito por mim", disse Kiwan. "Eu não disse isso, e quem o fez é um homem perverso que quer incitar conflitos entre partes do povo sírio."

Na terça-feira à noite do horário local, representantes do governo e autoridades de Jaramana chegaram a um acordo para encerrar os conflitos, indenizar as famílias das vítimas e trabalhar para levar os perpetradores à justiça, de acordo com uma cópia do acordo que circulou em Jaramana e foi vista pela Associated Press.

Não ficou imediatamente claro se a trégua será mantida por muito tempo, já que acordos semelhantes no passado fracassaram posteriormente.

O Ministério do Interior afirmou em comunicado que estava investigando o áudio, acrescentando que a investigação inicial demonstrou que o clérigo não era responsável. O ministério pediu à população que cumpra a lei e não aja de forma a comprometer a segurança.

A liderança religiosa drusa em Jaramana condenou o áudio, mas criticou duramente o "ataque armado injustificado" no subúrbio. Instou o Estado a esclarecer publicamente o ocorrido.

"Por que isso continua acontecendo de tempos em tempos? É como se não houvesse um Estado ou governo no comando. Eles precisam estabelecer postos de controle de segurança, especialmente em áreas onde há tensões", disse Abu Tarek Zaaour, morador de Jaramana.

No final de fevereiro, um membro das forças de segurança entrou no subúrbio e começou a atirar para o alto, o que levou a uma troca de tiros com homens armados locais, resultando na sua morte. Um dia depois, homens armados vieram do subúrbio de Mleiha, em Damasco, para Jaramana, onde entraram em confronto com homens armados drusos, resultando na morte de um combatente druso e no ferimento de outras nove pessoas.

Em 1º de março, o Ministério da Defesa de Israel disse que os militares foram instruídos a se preparar para defender Jaramana, afirmando que a minoria que prometeu proteger estava "sob ataque" pelas forças sírias.

Os drusos são um grupo minoritário que surgiu como um desdobramento do ismaelismo, um ramo do islamismo xiita, no século X. Mais da metade dos cerca de 1 milhão de drusos em todo o mundo vive na Síria. A maioria dos outros drusos vive no Líbano e em Israel, incluindo as Colinas de Golã, que Israel conquistou da Síria na Guerra do Oriente Médio de 1967 e anexou em 1981.

Desde janeiro de 2025, o poder na Síria está nas mãos de um governo de transição liderado pelo presidente interino Ahmed al-Sharaa, líder da coalizão islamista que em janeiro derrubou o regime do presidente Bashar al-Assad, agora no exílio. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta terça-feira, 29, que seu governo está se preparando para conversas com os Estados Unidos sobre novas sanções à Rússia, afirmando que é importante continuar a exercer pressão sobre as redes de influência de Moscou, bem como sobre todas as suas operações de fabricação e comércio.

"Estamos identificando exatamente os pontos de pressão que empurrarão Moscou de forma mais eficaz para a diplomacia. Eles precisam tomar medidas claras para acabar com a guerra, e insistimos que um cessar-fogo incondicional e total deve ser o primeiro passo. A Rússia precisa dar esse passo", escreveu o canal oficial de Zelensky no Telegram.

Além disso, o líder ucraniano enfatizou que o país está se esforçando para sincronizar suas sanções da forma mais completa possível com todas as da Europa.

Divergências apresentadas pelo Egito e pela Etiópia à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas impediram a divulgação de um comunicado conjunto após a reunião de ministros das Relações Exteriores do Brics. Em vez disso, foi divulgada nesta terça-feira, 29, uma declaração da presidência do grupo de ministros, ocupada atualmente pelo Brasil. Houve consenso nos demais temas debatidos.

O texto diz que os ministros presentes à reunião, que ocorreu nesta segunda e terça-feira no Palácio do Itamaraty, na região central do Rio de Janeiro, "apoiaram uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e a aumentar a representação de países em desenvolvimento nos quadros de membros do Conselho".

As mudanças teriam como objetivo uma resposta adequada "aos desafios globais prevalecentes" e apoiar "as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo Brasil e Índia, de desempenhar um papel mais relevante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança".

"Reconheceram também as aspirações legítimas dos países africanos, refletidas no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte", acrescenta o texto, que trouxe uma observação mencionando ter havido objeções dos representantes do Egito e Etiópia ao comunicado.

Ambos os países se opõem à eleição da África do Sul como país representante do continente africano. Em coletiva de imprensa, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, negou que tenha havido desacordo ou discordância.

"Não houve nenhum desacordo entre os países com relação às questões do Conselho de Segurança. O que acontece é que cada país tem posições e compromissos assumidos", argumentou Vieira a jornalistas, quando questionado sobre o impacto das divergências regionais no documento final. "Não houve nenhuma discordância, apenas cada país e países membros de grupos regionais, alguns africanos no grupo, apenas declararam suas posições e nós estamos trabalhando para compatibilizar todas as necessidades de cada um desses grupos para a declaração dos chefes de Estado."