PT tenta barrar mudança da Ficha Limpa que poderia beneficiar Bolsonaro

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
O PT no Senado apresentou no plenário da Casa uma proposta para tentar evitar que o projeto de lei que altera a Lei da Ficha Limpa possa beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro. A votação estava marcada para esta terça-feira, 3, mas, diante da falta de consenso sobre o tema, foi adiada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

A atual redação do projeto diz que um candidato só pode se tornar inelegível em caso que implique em cassação de registro ou diploma, quando eleito. Segundo um dos idealizadores da Lei de Ficha Limpa, Márlon Reis, como Bolsonaro perdeu o pleito e não foi diplomado, ele poderia se beneficiar da brecha legal, recuperando sua elegibilidade.

O próprio Márlon diz que reuniu-se com senadores ligados ao governo para alertar sobre o que estava sendo votado. Essa proposta é criticada por movimentos da sociedade civil, que afirmam que trata-se de um "grave retrocesso".

"A Lei da Ficha Limpa adveio, primeiro, da vontade popular: é uma das raras leis de iniciativa popular que foram discutidas no Congresso Nacional, aprovadas nas duas Casas, que dialogou com o clamor da sociedade", discursou o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP).

Randolfe é o autor da emenda que contornaria a possível interpretação da retomada da elegibilidade de Bolsonaro com o processo. A emenda altera a redação do texto de modo que a punição atinja candidatos que cometam a prática de abuso de poder econômico ou político e tenham decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado.

O senador diz que, independente de Bolsonaro, a sigla é contra o projeto. "O PT é contra o projeto de qualquer forma", afirmou.

Segundo Randolfe, ele apresentou a emenda porque a redação deixava o texto muito subjetivo e abria a possibilidade de juízes interpretarem. "O dispositivo estava afrouxando a imunidade, deixava muito aberto", disse. "Dependeria da subjetividade do juiz para dizer o que se impunha uma inelegibilidade."

O líder confirmou que conversou com Márlon Reis sobre a proposição. Na votação de urgência, realizada na semana passada, apenas o senador Eduardo Girão (Novo-CE), posicionou-se contrariamente ao projeto, votado de forma simbólica.

O próprio relator afirmou que senadores começaram a questionar se Bolsonaro poderia ser afetado. "Aqui me foi perguntado se o projeto ia beneficiar 'a' ou 'b', se ia beneficiar o ex-presidente Bolsonaro, por exemplo", disse.

Petistas evitaram mencionar o nome de Bolsonaro durante a discussão do projeto. Oposicionistas debocharam disso. "Aliás, nos discursos que eu ouvi de dois senadores do PT e do líder Randolfe, só faltaram falar o nome de Jair Bolsonaro", afirmou Magno Malta (PL-ES).

O projeto de lei que estava na pauta do Senado nesta quarta-feira cria novas condições para o começo da contagem do prazo de inelegibilidade e, se aprovado, beneficiará mesmo candidatos que já foram condenados, encurtando o tempo de afastamento dos pleitos.

Na atual legislação, a contagem de oito anos de inelegibilidade pode começar no final do tempo de mandato, em caso de renúncia, ou após o cumprimento de uma pena de prisão, isto é, se o candidato cumpre uma pena de sete anos, ele ficará inelegível pelos oito anos seguintes, tornando o candidato incapaz de pleitear um cargo eleitoral por 15 anos.

O texto do projeto, de autoria da deputada federal Dani Cunha (União-RJ), cria três possíveis contagens para o prazo de oito anos de inelegibilidade. A primeira conta a partir da decisão judicial que decreta a perda do cargo. Ela vale para membros do Poder Executivo e Poder Legislativo em nível federal, estadual e municipal.

A segunda envolve o caso de abuso de poder econômico ou político. A contagem do prazo em caso de decisão transitada em julgada pela Justiça Eleitoral que envolverem o tema é iniciada no ano da eleição em que ocorreu o abuso. O candidato apenas se torna inelegível caso haja cassação do diploma, registro ou mandato, o que não é exigido atualmente.

A terceira é em caso de renúncia após representação de membros do Legislativo ou do Executivo que pode levar a abertura de processo por infringir a Constituição em vários níveis. Nesse caso, a data inelegibilidade começa a partir da renúncia.

Além disso, caso um candidato inelegível receba um novo impedimento, esse prazo não pode se acumular para mais de 12 anos.

Em outra categoria

A reunião de chanceleres dos países do Brics, no Rio de Janeiro, terminou sem uma declaração conjunta. Em vez disso, foi divulgada nesta terça-feira, 29, uma declaração da Presidência da Reunião de Ministros das Relações Exteriores/Relações Internacionais dos Países Membros do Brics, ocupada atualmente pelo Brasil.

Segundo o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, a opção por uma declaração da presidência em vez de um comunicado conjunto está dentro da normalidade e deixa o "caminho aberto" para negociações futuras que serão ainda costuradas para a declaração de chefes de Estado, que será divulgada na ocasião da cúpula dos líderes do Brics, em julho, também no Rio de Janeiro.

"Decidimos fazer uma declaração da presidência, como ocorre regularmente em muitas reuniões, justamente para deixar o caminho aberto para negociarmos com muito cuidado e com muita precisão uma declaração que acontecerá na ocasião do mês de julho, da reunião dos chefes de Estado. Nós teremos aqui perto de 20 chefes de Estado de todos os países membros e dos países parceiros. Estamos preparado o caminho e aplainando qualquer eventual divergência que haja em algumas das áreas", disse Vieira, a jornalistas, em entrevista após o encerramento das sessões ministeriais no Palácio do Itamaraty, na região central da capital fluminense. "Por isso fizemos uma declaração da presidência e deixamos então para ser trabalhado daqui até o mês de julho uma declaração final que terá um peso e a importância que esse grupo requer e pede, e que será um uma declaração importante para os dias que correm", afirmou o chanceler brasileiro.

O Governo e o Judiciário da Espanha anunciaram nesta terça-feira, 29, que irão investigar as causas do apagão massivo que afetou a Península Ibérica nesta segunda. Até o momento, as operadoras da rede elétsim rica de Espanha e Portugal descartam ataques cibernéticos, mas não apresentaram nenhuma hipótese.

Na terceira entrevista coletiva de imprensa nas últimas 24 horas, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez culpou os operadores de energia - formado por empresas privadas - e anunciou a criação de uma comissão liderada pelo Ministério da Transição Ecológica para apurar as causas do apagão. "Serão tomadas as medidas necessárias para que isso nunca mais aconteça", disse o espanhol.

"Os técnicos da rede elétrica continuam analisando o sistema. Esperamos receber os resultados preliminares nas próximas horas, senão dias", acrescentou. "Nenhuma hipótese será descartada até que tenhamos os resultados."

Em paralelo, a Audiência Nacional, jurisdição de Madri que trata de casos complexos, abriu uma investigação para apurar se houve "sabotagem informática", o que poderia constituir um "crime de terrorismo".

Horas antes, a operadora da rede elétrica na Espanha havia descartado a possibilidade de um ataque cibernético como causa do apagão, que começou pouco depois das 12h30 de segunda-feira (07h30 no horário de Brasília).

O governo de Portugal, a princípio, não descartou "nenhuma hipótese", mas disse que não havia indícios de ataque cibernético. "Ninguém pode dizer qual foi a origem, mas já há elementos suficientes para dizer que não há evidências de manipulação no ciberespaço", disse o primeiro-ministro, Luís Montenegro, na segunda-feira.

Sem precedentes

O apagão não tem precedentes na Europa. Na Espanha e em Portugal, voos foram cancelados, os sistemas de metrô pararam de funcionar, comunicações foram cortadas e caixas eletrônicos foram fechados. 6,4 milhões de pessoas ficaram sem energia.

O diretor de serviços de operação do sistema da operadora de energia elétrica da Espanha, Eduardo Pietro, afirmou que "dois eventos de desconexão" abruptos e consecutivos foram observados antes da energia cair. Nesta terça, ele afirmou que é necessário mais tempo de investigação para entender por que isso ocorreu.

A agência meteorológica da Espanha, AEMET, declarou que não detectou nenhum "fenômeno meteorológico ou atmosférico incomum", e nenhuma flutuação repentina de temperatura foi registrada em suas estações meteorológicas na segunda-feira.

A tese de um fenômeno atmosférico chegou a se espalhar ontem entre os europeus, em uma declaração que foi atribuída à operadora portuguesa REN. Nesta terça, no entanto, a empresa negou ter emitido o comunicado.

Uma outra hipótese que se espalhou é que a queda estaria atribuída à falta de energia nuclear - há dois meses, o governo espanhol fechou dois dos sete reatores nucleares em funcionamento no processo de transição energética e foi criticado pela extrema direita.

Pedro Sánchez, no entanto, descartou essa possibilidade nesta terça-feira. "Aqueles que estão vinculando o incidente à falta de energia nuclear estão mentindo ou demonstrando ignorância", disse o líder espanhol.

A União Europeia afirmou que vai "aprender as lições" do colapso. "Em estreita colaboração com os operadores da rede elétrica, Bruxelas analisará atentamente as razões, o grau de preparação e as lições a serem aprendidas", declarou a porta-voz da Comissão, Paula Pinho.

Retorno da energia

As redes elétricas de Espanha e Portugal estavam totalmente operacionais nesta terça-feira, disseram as autoridades.

Nas cidades espanholas, o retorno da energia foi acompanhado por gritos de alegria após um longo dia sem luz e, em muitos casos, sem internet ou celulares.

O retorno da eletricidade permitiu a retomada do tráfego ferroviário em várias rotas principais, incluindo as movimentadas rotas Madri-Barcelona e Madri-Sevilha, de acordo com a empresa ferroviária nacional Renfe.

Entretanto, os problemas continuaram em algumas linhas de trem, que voltaram a funcionar de maneira oscilante. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Prestes a completar 100 dias de governo com a aprovação em queda, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou novos decretos com foco na imigração e nas polícias nesta segunda-feira, 28. Uma das ordens do republicano mira nas "cidades santuário", status que limita a cooperação para prisões e deportações de imigrantes sem documentos.

O presidente ordenou que a procuradora-geral, Pam Bondi, e a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, publiquem uma lista com as "cidades santuário" e adotem "todas as medidas legais" contra aquelas que continuarem se opondo às políticas contra imigração. A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que essas cidades "obstruem" a aplicação da lei.

Em outro decreto assinado nesta segunda-feira, Trump determinou que o governo forneça apoio jurídico aos policiais acusados de irregularidades. Além de revisar as restrições para atuação das polícias e equipá-las com aparatos militares. Karoline Leavitt, disse que ordem deve "liberar as forças de segurança dos Estados Unidos para perseguir criminosos".

O terceiro decreto reforça as regras já existentes que exigem que os motoristas de caminhão profissionais tenham proficiência em inglês. A ordem de Trump afirma que esse "deve ser um requisito de segurança inegociável para motoristas profissionais."

Trump assinou os decretos um dia antes de completar 100 dias de governo. A Casa Branca programou uma série de eventos ao longo da semana para promover as ações do presidente, começando pela repressão contra imigração.

'Cidades santuário' na mira

À medida que tenta acelerar as deportações, a Casa Branca tem se mostrado cada mais irritada com as cidades que limitam ou bloqueiam a cooperação para a prisão de imigrantes sem documentos.

O governo já processou a cidade de Rochester, em Nova York, acusando as autoridades locais de obstruir ilegalmente a aplicação das leis sobre imigração.

O prefeito Malik Evans e o presidente da Câmara Municipal Miguel Meléndez, ambos democratas, criticaram a ação. "O que se vê na denúncia é mais teatro político do que prática jurídica", disseram em nota na sexta-feira. "A cidade de Rochester está comprometida em investir seus recursos na segurança pública para todos, e não em fazer o trabalho de fiscalização de imigração do governo federal."

O Departamento de Justiça também entrou com ação contra uma juíza de Milwaukee, detida na semana passada, acusada de obstruir a prisão de um imigrante.

Mesmo antes dos novos decretos, o Departamento de Segurança Interna já revisava bilhões de dólares em subsídios a cidades e estados, para garantir que estivessem em acordo com as prioridades do governo em matéria de imigração.

Um juiz federal de San Francisco bloqueou temporariamente a suspensão de verbas federais para cidades e condados que não cooperassem com as autoridades de imigração.

Assessores de Trump veem as "cidades santuário" como um dos principais obstáculos para a deportação em massa que o republicano prometeu em campanha.

Stephen Miller, vice-chefe de gabinete da Casa Branca, acusou governadores e prefeitos democratas de travarem uma "guerra" contra as autoridades federais. Segundo ele, democratas estariam permitindo que "imigrantes ilegais saíssem livres para estuprar e matar".

Tom Homan, o "czar da fronteira", disse mais cedo que o governo já realizou 139 mil deportações - abaixo do ritmo registro no último ano do governo Joe Biden. Ele disse que os números seriam mais altos, mas que havia menos pessoas para deportar porque as travessias na fronteira caíram significativamente.

"Estou satisfeito com o número? Ele é bom", disse. "Eu leio na mídia: 'Ah, as deportações do ICE estão atrás das do governo Biden.' Bem, por quê? Porque eles contavam também as remoções de fronteira."

Homan disse ainda que, a partir de terça-feira, o governo vai começar a exigir que imigrantes sem documentos a partir dos 14 anos se registrem e forneçam impressões digitais, sob pena de possível processo criminal. (Com agências internacionais).