Filme brasileiro 'O Último Azul' vai concorrer ao Urso de Ouro em Berlim

Variedades
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O longa O Último Azul, dirigido por Gabriel Mascaro, vai concorrer ao Urso de Ouro no Festival de Berlim 2025. O anúncio foi feito na manhã de terça-feira, 21, e marca o retorno do Brasil à competição principal do prêmio após 5 anos - em 2020, Todos os Mortos, de Caetano Gotardo e Marco Dutra, esteve na premiação.

 

O filme é protagonizado por Denise Weinberg e Rodrigo Santoro e conta a história de Tereza, uma mulher de 77 anos obrigada pelo governo a deixar sua vida antiga e se mudar para uma colônia habitacional compulsória onde idosos devem "desfrutar" de seus últimos anos. Antes do exílio forçado, ela parte em uma viagem pela Amazônia para realizar o seu último desejo em vida.

 

A estreia mundial da obra será no festival, que ocorre entre os dias 13 e 23 de fevereiro. Anteriormente, Mascaro já havia participado da premiação em 2019, com Divino Amor. "Só o fato de O Último Azul ter sido selecionado para a principal sessão da Berlinale já é uma grande vitória para o cinema brasileiro", afirmou o diretor. "Estou muito honrado em saber que nosso filme vai competir pelo Urso de Ouro, mas o prêmio maior já ganhamos, que é ver a cultura brasileira pujante novamente", completou o cineasta.

 

O ator Rodrigo Santoro considerou que a indicação valoriza as conquistas do cinema brasileiro. "Isso só reforça o quanto o Brasil é capaz de produzir um cinema forte, profundo e competitivo. É emocionante ver o cinema independente chegando tão longe, feito com garra e talento - e, muitas vezes, com muito pouco", afirmou o astro de Hollywood.

 

Prêmio

 

O Brasil já venceu o prêmio com Central do Brasil (1998), de Walter Salles, filme que rendeu ainda o Urso de Ouro de melhor atriz para Fernanda Montenegro; e Tropa de Elite (2008), de José Padilha.

 

O País também concorre em outras mostras do festival. Na quinta-feira, o longa A Melhor Mãe do Mundo, de Anna Muylaert, estrelado por Shirley Cruz e Seu Jorge, foi anunciado como um dos 21 filmes da mostra Berlim Special. A produção vai concorrer com filmes com Mickey 17, estrelado por Robert Pattinson e dirigidos por Bong Joon Ho, diretor do premiado Parasita; o thriller de vingança Pa-gwa, de Min Kyu-dong, conhecido por seu trabalho em All for Love; e The Thing with Feathers, de Dylan Southern, estrelado por Benedict Cumberbatch.

 

Outras oito produções brasileiras estarão em Berlim. Quatro delas concorrem nas categorias da mostra Generation, voltada para o público infantojuvenil. A Natureza das Coisas Invisíveis, de Rafaela Camelo, trata de duas meninas de 10 anos que se encontram em um hospital e formam um vínculo. O curta-metragem Arame Farpado, de Gustavo de Carvalho, acompanha um drama familiar com duas irmãs e um padrasto recém-chegado. Já a série De Menor, de Caru Alves de Souza, revela como o sistema de justiça no Brasil pode cometer injustiças contra jovens carentes. E o documentário Hora do Recreio, de Lúcia Murat, une debates com os alunos em sala de aula com performances ficcionais.

 

Cartas do Absurdo, de Gabraz Sanna, e Zizi, de Felipe M. Bragança, terão as suas estreias mundiais no Forum Expanded, que busca novas perspectivas sobre como o cinema pode se relacionar com o mundo atual. Encerrando a lista de brasileiros, Ato Noturno, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, participa do Panorama, mostra que reúne filmes queer, feministas e políticos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

A emboscada seguida da morte do ex-delegado-geral de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, não foi o primeiro crime do qual ele foi vítima. Em dezembro de 2023, Fontes sofreu um assalto, na Praia Grande, litoral paulista. Na época, ele já demonstrava preocupação com sua segurança e de familiares, após anos de atuação contra o Primeiro Comando da Capital (PCC).

"Eu combati esses caras durante tantos anos e agora os bandidos sabem onde moro. Minha família, agora, quer que eu deixe o emprego em Praia Grande e saia de São Paulo", disse ao Estadão após o episódio. Ele ainda apontava estar preocupado com a exposição do assalto nas mídias e que sua família se sentia ameaçada.

Ele e a mulher saíam de um restaurante e iam para casa quando foram abordados. Um dos criminosos apontou a arma para a cabeça do ex-policial. Foram roubados celulares, joias, cartões e a moto do casal. Os suspeitos foram presos em flagrante, e os bens, recuperados. Na época, Fontes atuava como secretário da Administração na prefeitura de Praia Grande.

Em maio de 2022, o ex-delegado-geral foi vítima de um assalto, mas na Avenida do Estado, zona sul da capital. Uma dupla em uma motocicleta o abordou, mas desistiu ao perceber que o veículo que Fontes dirigia era blindado.

Dois anos antes, em 2020, Fontes sofreu uma emboscada de assaltantes no Ipiranga. Ele reagiu e chegou a balear um dos criminosos, que conseguiu fugir. Já em 2012, o ex-chefe da Polícia Civil foi abordado por dois homens na Via Anchieta, no ABC.

Houve troca de tiros e um dos suspeitos morreu. Fontes estava junto de uma investigadora da Polícia Civil. Ela foi atingida no pescoço e ficou internada por 45 dias após passar por cirurgia.

Quando atuava à frente do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Fontes comandou parte das investigações sobre os atentados praticados pelo PCC no Estado.

Foi ele que indiciou alguns dos principais líderes da facção, como Marcos Willians Herbas Camacho, o "Marcola". Também foi responsável pelo indiciamento da mulher de "Marcola" por lavagem de dinheiro da organização criminosa.

A morte de Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado de São Paulo assassinado na Praia Grande, nesta segunda-feira, 15, reascendeu debates sobre a violência e atuação criminosa no litoral do Estado.

Nos últimos dias, quem já havia sinalizado a respeito do tema foi Guilherme Derrite, Secretário de Segurança Pública de São Paulo. Em palestra no Fórum O Otimista Brasil 2025, no dia 8 de setembro, o capitão e deputado federal deu detalhes sobre o "cenário de guerra" que encontrou na Baixada Santista durante as Operações Escudo e Verão, realizadas em 2023 e 2024 na região.

"[As operações] Foram amplamente divulgadas pela mídia; em alguns casos, criticadas por aqueles que não imaginavam o cenário de guerra que foi encontrado lá na Baixada Santista", iniciou Derrite. "Eu quero deixar claro que o confronto é a nossa última opção. Se tem alguém que não deseja o confronto entre a Polícia e criminosos sou eu, porque é o momento mais triste da vida dessa função que eu exerço aqui", ressaltou.

O secretário citou que foram desmobilizadas 27 barricadas, espécie de trincheiras improvisadas, na dimensão da Baixada Santista.

"Não é um cenário de paz e tranquilidade. O que estava se formando ali era a tentativa da criação de um território paralelo dentro do Estado de São Paulo. Nós já vimos esse filme acontecer em outros locais e tenho certeza de que é muito prejudicial", explicou.

Após a morte de Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral de São Paulo, assassinado na Praia Grande, no litoral sul, nesta segunda-feira, 15, a Polícia Civil e a Polícia Militar iniciaram uma verdadeira "caçada" em busca dos criminosos na Baixada Santista. Fontes foi baleado em uma emboscada enquanto saía da sede da Prefeitura de Praia Grande.

Mais de uma centena de policiais da capital foram enviados para a Baixada Santista. "Estamos mobilizando o DHPP e o Deic nessa investigação. É algo muito triste. O doutro Ruy era uma figura emblemática da Polícia Civil e muito atuante no combate ao crime organizado. Estava aposentado desde maio 2023. Vamos priorizar a investigação, mas já determinei a ida do (Batalhão de) Choque para a Baixada para tranquilizar a população", afirmou o secretário da Segurança Púbica, Guilherme Derrite.

Ruy Ferraz Fontes ficou conhecido por sua atuação contra a facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele chefiou a Polícia Civil paulista entre 2019 e 2022, após ser nomeado para o cargo de delegado-geral no então governo João Doria (na época no PSDB).

Imagens de câmeras de segurança mostram que Fontes estava em alta velocidade, provavelmente fugindo dos bandidos, quando entra no cruzamento e é atingido por um ônibus. O carro capota. Os bandidos descem da picape com fuzis e atiram no delegado, que reagiu.

Para promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo (Gaeco) ouvidos pelo Estadão, "tudo indica que foi um crime de máfia".

"Policiais militares atenderam rapidamente à ocorrência e localizaram o veículo utilizado pelos criminosos. A cena foi preservada para a realização da perícia, e o caso está sendo registrado na Polícia Civil. Equipes estão em campo, realizando diligências e utilizando ferramentas de inteligência para identificar, prender e responsabilizar os envolvidos", disse, em nota a Secretaria da Segurança Pública.

A Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol do Brasil) emitiu nota de pesar e chamou o morte de Fontes de "tragédia sem precedentes". "Trata-se de uma tragédia de proporções inenarráveis, que atinge não apenas a Polícia Civil, mas toda a sociedade brasileira, pois cala uma voz firme e comprometida com a lei, a justiça e a proteção da cidadania. Sua dedicação, coragem e os enormes prejuízos impostos às organizações criminosas fizeram dele alvo da violência que sempre combateu com bravura", diz a nota.

Histórico de atuação contra o PCC

Ruy ficou conhecido por sua atuação contra a facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele chefiou a Polícia Civil paulista entre 2019 e 2022, após ser nomeado para o cargo de delegado-geral no então governo João Dória (na época no PSDB).

Em 2006, ele foi o responsável por indiciar toda a cúpula do primeiro Comando da Capital (PCC), inclusive Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, antes de os bandidos serem isolados na penitenciária 2 de presidente Venceslau.