Ensaio para o Rock in Rio une o sertanejo de várias gerações

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Foi uma surpresa quando o Rock in Rio, que completa 40 anos em 2024, anunciou, em abril, que a música sertaneja estaria pela primeira vez no maior festival do Brasil. Chitãozinho & Xororó, Ana Castela, Luan Santana, Simone Mendes e Junior se unirão à Orquestra Sinfônica de Heliópolis para o show Pra Sempre Sertanejo no Dia Brasil, dedicado a atrações e ritmos do País. A dupla ainda convidou o rapper Cabal para participação especial.

 

O Estadão acompanhou na terça, 3, Chitãozinho & Xororó no primeiro ensaio de Pra Sempre Sertanejo no "lar" da Orquestra Sinfônica: o Instituto Baccarelli, em São Paulo. Ana Castela, Luan Santana e Cabal também estavam presentes.

 

A reunião deu um gostinho do que deve ser a apresentação no Rock in Rio. A Orquestra e a dupla devem ficar o tempo todo no palco, enquanto os demais artistas vão entrar, um de cada vez, para cantar os seus maiores sucessos.

 

"Eu quis trazer uma proposta geracional", diz o cantor e compositor Zé Ricardo, curador que atua no Rock in Rio desde 2007 e, neste ano, ficou responsável pelo Dia Brasil. Segundo o artista, apenas dois repertórios da data não foram montados por ele: o do Pra Sempre Sertanejo, a cargo de Chitãozinho & Xororó, e do Pra Sempre Samba, feito por Zeca Pagodinho.

 

Raiz

 

A dupla escolheu iniciar o show com o "sertanejo raiz" e vai cantar Saudade de Minha Terra. Depois, entrará Ana Castela, a mais jovem entre os sertanejos. Em entrevista coletiva realizada no camarim da cantora no instituto, ela brinca que levará "a criançada" para o festival.

 

"Nem sei se pode ter criança no Rock in Rio, mas vai ter", brinca Ana, já chamada de "Xuxa da nova geração" por atrair o público infantil. "A criançada que gosta de mim vai voltar a ouvir 'modão'", celebra.

 

O ensaio também significou descobertas e emoção para a cantora. Ela conta ter visto uma orquestra "pela primeira vez na vida" lá, no Instituto Baccarelli. Ana apareceu visivelmente comovida ao ouvir os primeiros acordes da Orquestra Sinfônica de Heliópolis tocando dois de seus maiores hits, Nosso Quadro e Solteiro Forçado.

 

"Muita coisa passando na minha cabeça", diz. "Deixa a gente emocionada. Quero orquestra no meu show todo dia."

 

Entusiasmo

 

Foi com entusiasmo e certeza que Xororó recebeu o convite para cantar com o irmão no Rock in Rio. "(Na ligação com Zé Ricardo), eu disse: 'Vou falar pelo meu irmão já. Ele sempre achou que havia uma falha no Rock in Rio, porque não tinha sertanejo. Com certeza, ele vai topar, então está topado'", relata, também na entrevista, ao lado de Chitãozinho.

 

Para a dupla, "fazer um show bem bonito" pode significar mais espaço para o sertanejo no festival. "Pretendemos fazer lá o que já fazemos há muito tempo e pesar um pouquinho mais a mão nas guitarras", diz Xororó.

 

O peso das guitarras já pôde ser sentido no ensaio - mais especificamente quando Luan Santana cantou o sucesso que o apresentou para o Brasil, Meteoro. No festival, o artista vai mostrar seus maiores hits em um pot-pourri de várias músicas.

 

O cantor afirma ter uma relação com o rock e com o Rock in Rio, ao qual foi uma vez para assistir ao show de Elton John. "A primeira versão da Meteoro já fala que é um pop-rock sertanejo. Esse arranjo (do Pra Sempre Sertanejo) acentuou esse lance do rock. Mas eu sempre gostei de ouvir rock", afirma, também na entrevista.

 

Da mesma maneira, a apresentação é uma novidade para a Orquestra Sinfônica de Heliópolis, que já tocou com os Racionais MCs no The Town e quer continuar em grandes festivais para "quebrar paradigmas", conta o maestro Edilson Ventureli ao Estadão.

"Quando começamos a ensinar música clássica na favela, 27 anos atrás, ninguém acreditava que era possível", diz. "E hoje nós, de novo, vamos fazer história, nos apresentando no primeiro show de música sertaneja do Rock in Rio."

 

Com a participação em Pra Sempre Sertanejo, a orquestra e o maestro também querem mostrar "que a música clássica com uma orquestra sinfônica não é uma coisa 'careta'". "As pessoas ainda vivem muito no imaginário de que vão chegar a um teatro para assistir a um concerto e ver as pessoas de casaco e vestido longo, que é o que vemos nos filmes, nos programas de TV", afirma. "Isso não é real. A música clássica aqui é tão acessível quanto a música sertaneja. A plateia só tem de abrir o coração e ouvir", diz o maestro.

 

Atraso

 

O anúncio da inclusão dos sertanejos no festival provocou reações variadas. Há quem ache que ela veio até com certo atraso, mas outros avaliam que o evento deveria ser centrado no rock. "Já ouvi muito esse tipo de comentário, [de pessoas] falando que o Rock in Rio tem de ser só de rock, mas faz tempo que já não é assim", comenta Luan Santana.

 

Ana Castela, que quer assistir ao show de Katy Perry no festival, diz focar mais no significado da apresentação para a sua carreira e a história da música sertaneja. "Olha que legal, que bênção de Deus estar no Rock in Rio", comemora. "Tem muitas pessoas reclamando, mas elas não sabem o quanto isso é bom para os artistas sertanejos."

 

Segundo Zé Ricardo, a ideia de criar o Dia Brasil foi de Roberto Medina, criador do Rock in Rio, mas a proposta de incluir os sertanejos, porém, foi dele. "Depois de várias noites sem dormir, eu cheguei à conclusão de que a melhor coisa era homenagear os estilos mais importantes da música brasileira. E como fazer um Dia Brasil sem falar de sertanejo?"

 

Integrantes da história da música sertaneja, Chitãozinho & Xororó avaliam a participação do gênero no festival como a realização de um sonho. "Nós sentimos isso muito no começo[da carreira], que a gente não tinha o nosso trabalho reconhecido. Mas, com os anos e com tantas músicas que nós gravamos que se tornaram importantes na vida de tantas pessoas, fomos rompendo essa barreira", diz Chitãozinho.

 

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A Justiça de São Paulo negou o pedido de prisão preventiva do policial militar Guilherme Augusto Macedo, responsável pelo disparo que resultou na morte do estudante de Medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos. O jovem foi alvejado na barriga na madrugada do dia 20 de novembro na porta de um hotel em Vila Mariana, zona sul de São Paulo.

A decisão da juíza Luciana Menezes Scorza, da 4ª Vara Criminal do Júri da capital, foi assinada na segunda-feira, 13, e divulgada na tarde desta terça-feira, 14. Embora tenha negado a prisão preventiva, ela aceitou a denúncia do Ministério Público contra os dois policiais que participaram da ação e impôs medidas cautelares a serem cumpridas por Macedo.

Segundo a juíza, os elementos da investigação "não evidenciam periculosidade social do denunciado nem risco por seu atual estado de liberdade, a ensejar a medida extrema neste momento processual". O policial "encontra-se designado para funções administrativas, exercendo outras atividades diferentes da operacional, fiscalizado por seu comando, de modo que a garantia da ordem pública se encontra preservada e a possibilidade de reiteração criminosa, afastada", considerou Luciana.

"O denunciado possui residência fixa, é primário e portador de bons antecedentes, sem qualquer anotação também de cunho disciplinar perante a Justiça Militar", escreveu a juíza na decisão. "Em nenhum momento tentou prejudicar ou retardar as investigações, comparecendo a todos os atos da investigação desde a data do fato, de forma que ausentes fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida extrema", continuou. "As medidas cautelares diversas da prisão se mostram suficientes e adequadas ao menos por ora", decidiu a magistrada.

Ela determinou que ele cumpra cinco medidas cautelares - o policial está proibido de manter contato com familiares da vítima, deve se apresentar mensalmente em juízo, precisa manter seu endereço atualizado perante a Justiça, não pode se ausentar por mais de oito dias da comarca onde mora e está proibido de frequentar bares e festas.

A prisão preventiva havia sido pedida pela Polícia Civil após a conclusão do inquérito sobre o caso, encerrado em 3 de janeiro. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) indiciou por homicídio doloso (intencional) Macedo e o outro policial que participou da abordagem, Bruno Carvalho do Prado. O Ministério Público denunciou ambos e, na decisão agora divulgada, a juíza aceitou a denúncia - o processo começará a tramitar, portanto.

Os dois estavam fazendo ronda de rotina pela Vila Mariana (zona sul da capital), na madrugada do dia 20, quando Acosta passou caminhando sem camisa e deu um tapa no retrovisor da viatura. Os dois policiais saíram em perseguição a ele, que tentou entrar em um hotel onde estava hospedado com uma mulher. Mas, àquela hora, a porta do estabelecimento estava fechada e o estudante, desarmado, foi encurralado pelos policiais. Macedo atirou à queima-roupa, e Acosta morreu.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a dizer nesta terça-feira, 14, que programas sociais como o Pé-de-Meia não são gasto e que não se deve pagar "uma merreca" para professores. Ele deu as declarações no lançamento do programa Mais Professores para o Brasil, que incentivará pessoas a entrarem nessa carreira.

"Muita gente entendeu o Pé-de-Meia como gasto. Muita gente entendeu como gasto. Esse Lula só sabe gastar dinheiro com pobre. Não é gastar dinheiro com pobre, eu gostaria que ninguém fosse pobre, ninguém precisasse dessa ajuda. Mas como é que pode um presidente da República e um ministro da Educação ficarem passivos quando a gente vê que 500 mil crianças, meninos e meninos, são obrigadas a deixar a escola para ajudar no orçamento da família?", disse o presidente da República.

"A gente não quer que os professores sejam as pessoas mais desqualificadas na prova do Enem. A gente quer que sejam os melhores, e por isso é que temos que pensar muito nos salários dos professores. Porque a gente não pode elogiar professor e na época de pagar salário, pagar uma merreca", declarou Lula.

O presidente afirmou que as escolas têm de ser atrativas e que o governo está dando incentivos para qualificar melhor os professores. Lula também criticou quem diz que a população se conforma em receber benefícios como o Bolsa Família. Além disso, ele elogiou o ministro da Educação, Camilo Santana, e afirmou que o governo precisa enfrentar "outra revolução da mentira", por isso a restrição ao uso de celulares nas escolas.

Operação deflagrada nesta terça-feira, 14, pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e a Polícia Civil indicou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) tem uma espécie de plano de saúde informal para prestar atendimento a integrantes da alta cúpula da organização criminosa presos em diferentes unidades, como a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau.

A investigação aponta que médicos e dentistas são contratados pela "Sintonia dos Gravatas", que reúne advogados ligados ao PCC, para realizar diferentes tipos de procedimentos em faccionados presos. Os serviços incluem até procedimentos estéticos, como clareamento dental e botox. Entre os pacientes, estão nomes como Marco William Herbas Camacho, o Marcola.

Ao todo, oito pessoas que estavam nas ruas foram presas na operação desta terça. Entre elas, estão três advogados investigados por elo com o PCC, além de integrantes de uma organização não governamental (ONG) que seria usada para fazer denúncias falsas de abusos no sistema prisional. Os outros quatro alvos de mandados de prisão são detentos do sistema carcerário.

"O que a investigação aponta é que esse plano de saúde, entre aspas, que nós identificamos, embora funcione no âmbito da organização criminosa, não está disponível para todos", afirmou o delegado Edmar Caparroz, do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter) 8, de Presidente Prudente. "Ele somente é acessível a uma fatia privilegiada da organização criminosa", acrescentou.

A apuração indicou que os médicos e dentistas seriam contratados por advogados que representam o PCC. Os profissionais de saúde, porém, não estariam diretamente envolvidos com a facção.

"Não digo que os médicos e dentistas foram cooptados, porque estão prestando um serviço e são remunerados por isso", disse o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP-SP. Segundo ele, se houver indícios de que houve envolvimento direto, os profissionais também serão implicados na investigações.

Entre os que já foram beneficiados nessa espécie de "tratamento vip", estão nomes como Paulo César Souza Nascimento Júnior, o Paulinho Neblina; Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho; e Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, assassinado em 2018.

Marcola também figura na lista dos que já foram contemplados pelo esquema, embora uma reivindicação feita por ele há um tempo tenha sido indeferida.

Como mostrou o Estadão anteriormente, investigações do MP e da Polícia Civil descobriram que o número 1 da facção criminosa pediu autorização duas vezes para colocar botox, no segundo semestre de 2015, para cuidar de sua aparência, mas teve as solicitações negadas pela Justiça. A reportagem indica ainda que Marcola tinha um dermatologista particular que o atendia na Penitenciária de Presidente Venceslau 2 antes de ele ser transferido para o sistema federal.

Como funciona esquema

A contratação dos médicos e dentistas é feita por advogados que integram a "Sintonia dos Gravatas", em esquema que dura há pelo menos uma década e oferece aos profissionais da saúde valores bem acima do mercado. A Polícia Civil indicou ainda que os pagamentos eram feitos por meio de depósitos em nome de pessoas não identificadas previamente e até mesmo fracionados.

"Não é um setor (dos gravatas) que atende a todos os integrantes do PCC. Ele atende alguns integrantes que foram elencados pela Sintonia Final", disse Gakiya. "Via de regra, aqueles que são atendidos foram presos em missão do PCC, seja por tráfico de drogas e armas, seja por envolvimento em atentados contra agentes públicos. Esses indivíduos têm direito, vamos dizer, ao atendimento VIP."

Gakiya salienta que, conforma os termos da Lei de Execução Penal, se o preso tem direito a algum atendimento que o Estado não pode prover, é direito dele reivindicar atendimento médico. "É possível que ele (preso) use um atendimento médico específico para que faça isso, desde que tenha um pedido que é feito ao juiz corregedor para determinar intervenção médica", disse o promotor de Justiça. "Mas evidentemente não seria o caso de um atendimento estético."

Como investigação começou

Como mostrou o Estadão, as investigações da Operação Scream Fake (Falso Grito, em tradução) começaram em 2021, quando um visitante da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau tentou entrar na unidade com um pacote com drogas K (maconha sintética) e cartões de memória escondidos nas roupas. Ela foi presa em flagrante na época.

"Nos cartões, havia diversos arquivos contendo pastas dos setores de saúde da facção, rol de médicos e dentistas, advogados com codinomes, além de um material da ONG, em que ela prestava conta à cúpula da facção", disse o delegado Edmar Caparroz.

Conforme o delegado, a análise dos cartões de memória foi central para o avanço inicial das investigações. Os dados coletadas ganharam ainda mais sentido com a apreensão de novos manuscritos em unidades prisionais nos anos seguintes, incluindo em 2023.

"Ali (no ano passado) foi onde nos causou bastante preocupação: neste novo manuscrito, o contexto trazia um orquestramento de manifestações, que deveriam ocorrer em todo o País, e, no âmbito dessas manifestações, esse manuscrito sugeria que os presos simulassem tortura no ambiente prisional e inclusive sugeria a morte de três agentes públicos", afirmou Caparroz. As autoridades disseram que não foram identificados quais agentes seriam esses.

Foram cumpridos 12 mandados de prisão preventiva e 14 de busca e apreensão contra advogados e integrantes de uma ONG nas cidades de São Paulo, Guarulhos, Presidente Prudente, Flórida Paulista, Irapuru, Presidente Venceslau e Ribeirão Preto, além de Londrina, no Paraná.

A Ong Pacto Social & Carcerário São Paulo, alvo da operação, teria sido criada sob demanda do PCC, passando a promover protestos e falsas denúncias a mando da facção, aponta a investigação. O esquema seria comandado por advogados ligados à facção.

"Eles (gravatas) não só coordenavam a contratação desses profissionais de saúde, para atender determinados presos, como também (faziam) a coordenação dessa ONG, que teoricamente era ligada aos direitos humanos e direitos dos presos", disse Gakiya. "Ela absolutamente foi mantida e gerida pelo PCC para criar factoides, para criar denúncias falsas."

Procurada, a seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) disse acompanhar a investigação e ressaltou "seu compromisso com a ética e a legalidade". Já os responsáveis pela ONG, que tem sede em São Bernardo do Campo, foram contatados pelas redes sociais e não deram retorno até a última atualização desta reportagem.