Alemanha: tribunal mantém condenação de ex-secretária nazista cúmplice de 10 mil mortes

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Um tribunal federal da Alemanha rejeitou o recurso de uma ex-secretária nazista de 99 anos e manteve a condenação contra ela por ter participação em mais de 10 mil assassinatos no período nazista. Irmgard Furchner era secretária do comandante da SS, a polícia nazista, que chefiava o campo de concentração de Stutthof durante a 2.ª Guerra.

Irmgard foi acusada de fazer parte do aparato de funcionamento do campo, localizado perto da atual cidade polonesa de Gdansk. Ao todo, a Justiça alemã reiterou nesta terça-feira, 20, a condenação dela pelo papel em 10.505 mortes e em cinco tentativas de assassinato.

Em um tribunal de Leipzig no mês passado, a defesa da ex-secretária levantou dúvidas sobre o conhecimento de Irmgard dos crimes cometidos no local e se ela era de fato cúmplice do que ocorria em Stutthof. Os juízes afirmaram que estavam convencidos de que a ex-secretária tinha conhecimento e "apoiou deliberadamente o fato de que 10.505 prisioneiros foram cruelmente mortos por gases e condições hostis do campo" através de seu trabalho no escritório do comandante.

A decisão afirma que a ex-secretária também auxiliou no transporte dos prisioneiros para o campo de extermínio de Auschwitz e nas "marchas da morte" no final da 2.ª Guerra.

O julgamento da ex-secretária pode ser o último de cumplicidade com o regime nazista, de acordo com os promotores que acusaram a alemã. Promotores federais em Ludwigsburg afirmam, no entanto, que há mais três casos semelhantes em outros tribunais do país. Com todos acusados em idade avançada, surgem cada vez mais questões sobre a aptidão deles para serem julgados.

O principal líder judeu da Alemanha, Josef Schuster, saudou a decisão. "Para os sobreviventes do Holocausto, é extremamente importante que uma forma tardia de justiça seja tentada", disse Schuster, chefe do Conselho Central dos Judeus.

"O sistema legal enviou uma mensagem importante hoje: mesmo quase 80 anos após o Holocausto, nenhuma linha pode ser traçada sob os crimes nazistas", acrescentou.

Julgamentos restantes

O caso de Irmgard Furchner é parte de uma série de processos que se basearam em um precedente de 2011 que condenou o alemão John Demjanjuk como cúmplice dos assassinatos enquanto era guarda do campo de extermínio de Sobibor. Demjanjuk, que negou as alegações, morreu antes que seu apelo pudesse ser ouvido.

Antes do julgamento do alemão, os tribunais alemães exigiam que os promotores justificassem as acusações apresentando evidências da participação de um ex-guarda em assassinatos específicos, tarefa descrita como praticamente impossível. O caso Demjanjuk inaugurou as condenações com base em funções exercidas nos campos de extermínio que tiveram assassinatos registrados.

Irmgard foi julgada em um tribunal juvenil porque tinha 18 e 19 anos na época dos crimes, e o tribunal não conseguiu estabelecer com certeza a "maturidade mental" que ela possuía na época.

Na decisão, a juíza Gabriele Cirener escreveu que o fato do campo de Stutthof não ter sido durante todo o tempo um campo que existiu com o único propósito de extermínio, como Auschwitz ou Sobibor, não era relevante para o julgamento. Ela disse que as "condições catastróficas de detenção" e o trabalho forçado ainda levaram à "matança cruel" de presos, mesmo que eles não tenham sido mortos imediatamente.

Inicialmente um ponto de coleta para judeus e poloneses não judeus removidos de Danzigue (atual Gdansk), Stutthof foi mais tarde usado como um "campo de educação para o trabalho", onde trabalhadores forçados, principalmente cidadãos poloneses e soviéticos, eram enviados para cumprir penas e muitas vezes morriam.

A partir de meados de 1944, dezenas de milhares de judeus do Báltico e de Auschwitz lotaram o campo com milhares de civis poloneses envolvidos na Revolta de Varsóvia, que tentou libertar a capital polonesa da ocupação alemã e foi brutalmente reprimida pelos nazistas.

Outros encarcerados incluíam prisioneiros políticos, criminosos acusados, pessoas LGBTs e Testemunhas de Jeová. Mais de 60 mil pessoas foram mortas no campo.

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O requerimento de urgência para a tramitação do projeto de lei que prevê anistia aos presos do 8 de Janeiro foi protocolado na Câmara dos Deputados nesta segunda-feira, 14. Foram 262 assinaturas, coletadas pelo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Quando aprovado, o pedido acelera a tramitação de uma proposta legislativa e traz a votação diretamente para o plenário, sem passar pelas comissões que analisam os projetos.

No entanto, a apresentação do requerimento de urgência não garante que o pedido vai ser analisado ou que a proposta em si entre na pauta da Casa.

Segundo o sistema da Câmara dos Deputados, 1.033 requerimentos calcados no mesmo artigo 155 do Regimento Interno da Casa e que já coletaram as assinaturas ainda se encontram em tramitação: 999 deles estão categorizados como "prontos para pauta", enquanto 34 "aguardam deliberação".

Durante sua campanha, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), prometeu a líderes que deixaria de votar requerimentos de urgência com frequência, como fazia seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL), de modo a valorizar o trabalho das comissões.

A proposta da anistia aguarda definição desde o ano passado. Quando estava prestes a ser votada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), presidida à época pela bolsonarista Caroline de Toni (PL-SC), Lira decretou a criação de uma comissão especial para debater o texto, o que desaceleraria o andamento do texto.

O PL tenta solucionar a demora com a votação da urgência, mas o caso esbarra agora na resistência de Motta. Além da fala sobre votar menos requerimentos de urgência, ele trabalha nos bastidores para construir um acordo para revisão das penas dos condenados pelo 8 de Janeiro, com o intuito de pacificar o País.

Conforme apurado pela Coluna do Estadão, Motta já mencionou o assunto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e com pelo menos cinco ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Requerimentos datam de 2007

Entre os quase mil requerimentos que são considerados prontos para pauta, há pedidos de 2007, como o sobre projeto que busca "deixar expressa a responsabilidade de quem ajuíza ação civil pública, popular e de improbidade com má-fé, manifesta intenção de promoção pessoal ou visando perseguição política". O projeto de lei é de autoria de Paulo Maluf.

Entre pedidos mais recentes, um de 2024 pede urgência a projeto de lei da deputada Renata Abreu (Pode-SP) que "confere o título de 'Capital Nacional do Basquete' à cidade de Franca, no Estado de São Paulo".

O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados, disse que, pessoalmente, é contra a cassação de Glauber Braga (PSOL-RJ). Na sua opinião, a punição já aprovada no Conselho de Ética é um exagero, e a retirada do mandato poderia ser substituída por uma suspensão.

"Pessoalmente, acredito que cassação deveria ser para casos graves como corrupção ou o da da Flordelis, por exemplo. Acredito que uma punição de seis meses de suspensão, no caso de Glauber Braga, estaria de bom tamanho", afirmou Sóstenes ao portal Metrópoles.

Apesar de achar que a Casa cometeria um erro ao cassar o mandato de Glauber, ele disse que acompanhará a posição da bancada do Partido Liberal. "Como líder do PL, não posso destoar da posição da bancada do partido, que se mostra favorável à cassação", declarou.

Na última quarta-feira, 9, o Conselho de Ética da Casa aprovou, por 13 votos a cinco, a cassação do parlamentar. Ainda cabe recurso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, caso o processo avance após a votação nesse colegiado, caberá ao plenário decidir.

Glauber Braga anunciou que não irá mais se alimentar ou deixar o Congresso Nacional até o fim da decisão, dormindo no chão do plenário 5 da Câmara, o mesmo onde teve o parecer da cassação aprovado. A greve de fome entrou no sexto dia nesta segunda-feira.

Desde então, ele recebeu visitas dos ministros Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Sidônio Palmeira (Comunicação Social) e Cida Gonçalves. Também o visitaram no Congresso o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), e o ator Marco Nanini.

Segundo a equipe do deputado, Glauber Braga só tem ingerido líquidos nos últimos dias, com acompanhamento médico, e perdeu dois quilos. Na sexta-feira, 11, o parlamentar assistiu a um episódio da série distópica Black Mirror.

Entenda o processo

O processo contra Glauber Braga foi aberto em 2024 e se deve a um episódio em que Glauber expulsou da Câmara o influenciador Gabriel Costenaro, integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), aos chutes. Costenaro havia feito insinuações sobre a ex-prefeita de Nova Friburgo (RJ), Saudade Braga, que estava doente e faleceu 22 dias após o ocorrido.

Glauber disse em diferentes sessões do Conselho de Ética que o relatório do caso foi "comprado" pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que exercia o cargo no ano passado. Glauber ainda chamou Lira em diferentes oportunidades de "bandido".

Na matéria divulgada anteriormente, havia uma incorreção no título. Segue abaixo o texto correto.

Apenas dois dos 92 deputados do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, não assinaram o requerimento que acelera a tramitação do projeto de lei que trata da anistia aos presos do 8 de Janeiro na Câmara dos Deputados: Antônio Carlos Rodrigues (SP) e Robinson Faria (RN).

Rodrigues é figura próxima do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e já fez elogios públicos a ele. Eles se conhecem há cerca de trinta anos, em São Paulo. Segundo correligionários, o deputado do PL é a ponte viável para diálogos da sigla com o ministro.

Já Robinson Faria (PL-RN) é pai de Fábio Faria, ex-ministro das Comunicações no governo Jair Bolsonaro (PL). Fábio Faria é próximo de alguns ministros da Corte. Como mostrou o Estadão, em 2022, o ministro Dias Toffoli passou o final de semana na casa de praia do ex-ministro.

Ao Placar do Estadão - que mapeia a opinião dos deputados sobre o projeto de lei - porém, Robinson disse que votaria pela anistia e optou por não responder qual modelo de anistia defende ou se Bolsonaro deveria ser incluído no benefício.

Procurados, os deputados não haviam respondido aos contatos da reportagem até o momento da publicação. O canal segue aberto.

Mesmo deputados do PL do Maranhão, conhecidos por costumeiramente votar com o governo e até em posar em fotos com ministros, assinaram o requerimento para acelerar a tramitação da anistia.

O PL protocolou, nesta segunda-feira, 14, o requerimento de urgência ao projeto de lei da anistia. A urgência é o procedimento parlamentar que acelera a tramitação de propostas legislativas. O partido anunciou que a lista tinha 264 assinaturas, mas duas delas foram rejeitadas pela Casa Legislativa.