Na fase emergencial, centro de SP esvaziado tem fila por almoço e passeata

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Enquanto o Estado vive o pior momento da pandemia da covid-19, com média de uma morte a cada cinco minutos e UTIs lotadas, o primeiro dia da fase emergencial parece ter exposto ainda mais a miséria da população da área mais central de São Paulo. Na manhã desta segunda-feira, 15, a maior parte do comércio estava fechada e respeitava as determinações do Governo do Estado. Mas centenas e centenas de pessoas em situação de rua mostravam que não há como existir "fique em casa" debaixo de marquises e em praças.

Antes mesmo das 11 horas da manhã, a distribuição de almoço já formava uma fila na Rua Tabatinguera na quadra de um sindicato. No local, cerca de 1.040 refeições são fornecidas diariamente desde março. "Venho aqui todo dia", conta Alquécio Albino, de 34 anos, que vive em situação de rua.

A alusão à fome e à necessidade de conseguir um prato de comida é frequente na região, seja entre quem pede uma doação, seja entre aqueles que são comerciantes ambulantes. "Hoje eu não tirei nem o do almoço ainda", disse um homem após a recusa de passantes, na região da Rua 25 de Março.

Por ali, com a maioria do comércio fechada, com exceção de óticas e uma grande loja de departamentos, os poucos compradores são disputados. Alguns comércios de eletrônicos driblam a situação com as portas fechadas, enquanto deixam vendedores a chamar interessados nas calçadas.

Desempregada, Adriana Guedes, de 40 anos, foi à região para resolver pendências e aproveitou para comprar alguns itens para casa. "Vazia desse jeito, só vi no começo da pandemia, no ano passado", comenta. Mesmo tendo perdido a maior parte da renda por causa da crise sanitária, ela apoia a determinação do fechamento diante do agravamento da situação. "É bom, precisa."

Vendedor ambulante há 20 anos de seus 55 anos, José Hilton Alves, tentava comercializar um produto que retira bolinhas de tecidos. "Não estou vendendo nada. Não tem quem compre. A gente vai viver de quê? Hoje piorou ainda mais. Semana passada dava pra (ganhar o suficiente) almoçar", desabafa.

Ele conta já ter sido ameaçado de despejo na pensão em que vive por estar com um mês de aluguel atrasado. Sem outra alternativa de renda e com o fim do auxílio emergencial federal, diz "viver só disso". "Vou continuar vindo. Não tem o que fazer, não tem outra opção."

No entorno, dezenas de vendedores de café, água mineral, capas de celular, máscaras e outros artigos repetiam relatos semelhantes. Em meio às portas fechadas, com avisos com números de WhatsApp para delivery, eles são a maioria das pessoas na região, junto à população de rua e alguns entregadores de aplicativo, e estão em número superior aos potenciais compradores.

A situação também motivou uma manifestação de algumas centenas de imigrantes majoritariamente bolivianos, além de paraguaios, equatorianos e de outras nacionalidades. Da região da Feirinha da Madrugada, vestidos de branco, saíram a pé até a Praça da República, onde encontraram outro grupo, que incluía brasileiros, este com um carro de som que tocava o hino nacional, rumo à Assembleia.

"A gente precisa pagar aluguel, água, luz, funcionário", lamenta Edgar Acarati, de 38 anos, que veio de La Paz há oito anos e tem uma oficina têxtil. "Prefiro morrer de covid do que deixar a minha família com fome", chegou a dizer.

São Paulo tem uma morte por covid-19 a cada 5 minutos

São Paulo vive o pior momento da pandemia, com aumento de casos, óbitos e internações, além de registrar fila de espera por internação. Na Grande São Paulo, a ocupação de UTI está na média de 90%. São 2.202.983 casos e 64.123 óbitos confirmados pela doença.

Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, São Paulo registrou, em média, uma morte por covid-19 a cada cinco minutos neste mês. Pela primeira vez, desde o início da pandemia, o número de internados na UTI ultrapassou a marca de 10 mil pessoas, enquanto aumentam os relatos de pacientes que morreram à espera de um leito.

Em outra categoria

Anora foi o grande vencedor do prêmio de Melhor Filme do Oscar 2025. Ainda Estou Aqui, longa brasileiro que concorria na categoria, não foi escolhido pelos votantes.

O longa custou US$ 6 milhões para ser produzido - um dos menores orçamentos da história da premiação - e, nas últimas estimativas, faturou cerca de US$ 38 milhões de bilheteria ao redor do mundo.

Indicações de 'Anora' ao Oscar 2025

Anora foi indicado em seis categorias no Oscar 2025: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Original e Melhor Edição.

Outros prêmios

Em maio de 2024, Anora venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes e se colocou como um sério concorrente ao Oscar. Ao longo da temporada, no entanto, viu os filmes rivais ganharem mais destaque e, apesar de ser bastante elogiado pela crítica, passou a ser tratado como um azarão.

A maré mudou nas últimas semanas. Surpreendentemente, o longa venceu o prêmio de Melhor Filme no Critics Choice Awards. Confirmando o bom momento, também foi vitorioso no Directors Guild Awards, no Producers Guild Awards e no Writers Guild of America Awards, três dos principais prêmios dos sindicatos de Hollywood.

Sobre o que é

Em Nova York, a jovem stripper Anora (Mikey Madison) conhece o filho de um oligarca russo e engata um improvável romance. Após um casamento impulsivo em Las Vegas, a família de Ivan Zakharov (Mark Eydelshteyn) planeja retornar para os Estados Unidos com um único objetivo - anular a união entre o casal. Descrito como um "conto de fadas às avessas", o longa subverte a história da Cinderela para falar sobre as falhas do Sonho Americano.

Elenco

Em Anora, Mikey Madison interpreta Ani, uma jovem stripper que se deslumbra com a vida de luxos que o dinheiro pode proporcionar. O papel rendeu a atriz uma indicação ao prêmio de Melhor Atriz. Já Mark Eydelshteyn é Ivan Zakharov, filho de um oligarca russo que contrata os serviços de Ani por tempo indeterminado.

Yura Borisov interpreta Igor, um capanga russo da família Zakharov. O papel rendeu ao ator uma indicação ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante. Completam o elenco Karren Karagulian e Vache Tovmasyan, que interpretam outros dois capangas da família Zakharov, e Aleksei Serebryakov e Darya Ekamasova, que vivem o pai e a mãe de Ivan, respectivamente.

Entrevistas

Em entrevista ao Estadão, Sean Baker e Mikey Madison discorreram sobre o que torna Anora um longa tão único. Em especial, falaram sobre a temática de trabalhadores sexuais - uma constante no trabalho de Baker - e sobre como o filme busca quebrar as expectativas do público.

"Sempre pensei em Anora como algo fora do 'mainstream' e um pouco divisivo por causa de seus temas, mas ele parece estar agradando às pessoas de maneira universal. E isso é maravilhoso", afirmou Sean Baker.

Críticas

O filme foi bastante elogiado pela crítica internacional. No site Rotten Tomatoes, que agrega análises de profissionais da indústria, o longa conta com 93% de aprovação. No New York Times, a obra de Sean Baker foi descrita como o "nascimento de uma estrela".

"Esse papel exige que ela [Mikey Madison] vá ao extremo, com elementos de pastelão, romance, comédia e tragédia, além de dançar com pouquíssima roupa e dar uns socos poderosos", escreveu a crítica Alissa Wilkinson. "E a cada momento Madison fica mais fascinante."

"Anora é uma fábula moderna e obscena, povoada por strippers e capangas. Como a maioria dos filmes de Baker, fala sobre os limites do sonho americano, sobre as muitas paredes invisíveis que se interpõem no caminho das fantasias de igualdade e oportunidade, sobre como se erguer pelas próprias pernas", finalizou.

Polêmicas

A principal polêmica de Anora decorreu da falta de um coordenador de intimidade no set de filmagem de Sean Baker. O cargo, que vem ganhando cada vez mais importância em Hollywood, é responsável por supervisionar cenas íntimas que envolvam sexo simulado e nudez.

Em uma era pós-Me Too, o trabalho do supervisor garante que todos os envolvidos se sintam seguros e possam se manifestar caso algo os deixe desconfortável. Em Anora, cenas de sexo e nudez compõem uma boa parte do filme. Baker e a equipe, no entanto, optaram por não utilizar um coordenador de intimidade durante as gravações do longa.

"Foi uma escolha que fiz. A produção me ofereceu, se eu quisesse, um coordenador de intimidade", afirmou Mikey Madison no quadro Actors on Actors, da Variety. A atriz explicou que a decisão foi tomada por ela e por Mark Eydelshteyn e que, apesar da polêmica, a experiência foi extremamente positiva para ela.

Onde assistir

Em cartaz, Anora estreou nos cinemas brasileiros em 23 de janeiro. Não há previsão, no momento, para exibição em plataformas de streaming.

Os indicados ao Oscar de Melhor Filme em 2025

Anora

O Brutalista

Um Completo Desconhecido

Conclave

Duna: Parte 2

Emilia Pérez

Ainda Estou Aqui

Nickel Boys

A Substância

Wicked

'O Brutalista' vence Oscar de melhor trilha sonora. O filme disputou categoria com Conclave, O Robô Selvagem, Wicked e Emilia Pérez. O longa venceu prêmio de melhor fotografia também.

Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional na noite deste domingo, 3. É o primeiro longa brasileiro a conquistar o feito. O diretor Walter Salles dedicou prêmio a Eunice Paiva. Ele também dedicou estatueta a Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. "É uma coisa extraordinária", disse sobre vitória.

A produção superou os concorrentes Emília Pérez (França), A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha), A Garota da Agulha (Dinamarca) e Flow (Letônia). O francês, que venceu o Prêmio do Júri em Cannes 2024 e foi indicado a 13 categorias do Oscar, incluindo a de melhor filme, foi considerado como o favorito nos primeiros momentos da disputa, mas acabou se envolvendo em diversas polêmicas.