Putin retoma cidade ocupada pela Ucrânia dentro da Rússia antes de discutir trégua com EUA

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A Rússia afirmou nesta quinta-feira, 13, que suas tropas retomaram o controle da maior cidade na região de fronteira de Kursk, que fica dentro do território russo. O avanço de Moscou ocorre em meio a conversas sobre a possibilidade de um cessar-fogo, após a Ucrânia aceitar uma proposta dos Estados Unidos de uma trégua de 30 dias.

 

O ministério da Defesa da Rússia afirmou em um comunicado que o país recapturou a cidade de Sudzha após um rápido avanço nos últimos dias. A alegação não foi verificada de forma independente e a Ucrânia ainda não se posicionou.

 

A retomada ressalta a vantagem das forças russas no campo de batalha. Em uma visita aos militares russos na quarta-feira, 12, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que espera que o Exército "liberte completamente a região de Kursk do inimigo em um futuro próximo".

 

O mandatário russo acrescentou que no futuro "é necessário pensar em criar uma zona de segurança ao longo da fronteira", em um sinal de que Moscou poderia tentar expandir seus ganhos territoriais capturando partes da região vizinha de Sumy, na Ucrânia.

 

A ousada incursão da Ucrânia em agosto passado levou à primeira ocupação por uma força estrangeira em solo russo desde a 2ª Guerra Mundial e envergonhou o Kremlin. A intenção de Kiev era usar o domínio da região como barganha em futuras negociações de paz.

 

Cessar-fogo

 

Ao sinalizar sua abertura a um cessar-fogo, a Ucrânia apresentou ao Kremlin um dilema em um momento em que os militares russos têm vantagem na guerra. Moscou também tem se aproximado da administração Trump, que pede o fim imediato do conflito.

 

Na terça-feira, 11, Washington retomou o envio de ajuda militar para Ucrânia após Kiev aceitar uma proposta de cessar-fogo de 30 dias. Na quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que "agora tudo depende da Rússia". O presidente dos EUA fez ameaças veladas de atingir a Rússia com novas sanções se o país não aceitar a trégua.

 

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse nesta quinta-feira que Trump despachou seu enviado especial para Oriente Médio, Steve Witkoff, para Moscou para conversar com Putin sobre o cessar-fogo. Apesar da função de Witkoff ser específica para o Oriente Médio, o enviado de Trump se reuniu com oficiais russos em fevereiro e garantiu a libertação do americano Marc Fogel, que estava preso na Rússia desde 2021.

 

"Antes do início das negociações, e elas ainda não começaram, seria errado falar sobre isso em público", afirmou Peskov. Autoridades americanas dizem que esperam ver a Rússia parar os ataques à Ucrânia nos próximos dias.

 

Mas Yuri Ushakov, conselheiro de política externa de Putin, afirmou durante uma entrevista para a televisão russa que um cessar-fogo apenas ofereceria uma "pausa temporária para os militares ucranianos".

 

Ushakov disse que Moscou quer um "acordo de longo prazo que leve em consideração os interesses e preocupações da Rússia". As declarações ocorreram um dia após um telefonema com o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Mike Waltz.

 

Os comentários de Ushakov ecoaram declarações de Putin, que repetidamente disse que um cessar-fogo temporário beneficiaria a Ucrânia e seus aliados ocidentais.

 

Os detalhes de um possível acordo ainda não foram divulgados, mas o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, afirmou que a trégua teria que dar garantias de segurança para a Ucrânia por terra, água e mar. Kiev também propôs uma troca de prisioneiros civis e militares e a devolução de crianças ucranianas que foram levadas para a Rússia. Os dois países já realizaram trocas do tipo em diversas oportunidades ao longo da guerra.

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Três dos quatro ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) votaram pelo recebimento da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Eduardo Tagliaferro, que foi assessor de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com isso, será aberta uma ação penal e ele será transformado em réu.

Ele foi acusado de agir contra a legitimidade do processo eleitoral e atuar para prejudicar as investigações de atos como os de 8 de janeiro de 2023. Tagliaferro está na Itália. O governo brasileiro já iniciou um processo de extradição contra ele.

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Após instaurada a ação penal, as investigações serão aprofundadas, com a produção de provas e o depoimento do acusado, de testemunhas de defesa e de testemunhas de acusação. Ao fim das apurações, a Primeira Turma vai realizar o julgamento final, que pode ser pela condenação ou absolvição do réu.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro disse no sábado, 8, que o Congresso Nacional está "de joelhos em frente ao Supremo Tribunal Federal" e que o Judiciário governa o País. Ela também defendeu o nome do marido, Jair Bolsonaro, como "única opção" para 2026, ignorando o fato de ele estar inelegível.

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Michelle está cotada para ser candidata a presidente da República em 2026, mas Bolsonaro ainda não bateu o martelo sobre quem será seu herdeiro político. Dentro da família, Michelle sofre a concorrência do senador Flávio Bolsonaro, um dos filhos do ex-presidente.

Com a disputa interna da direita indefinida, a ex-primeira-dama preferiu dizer que "a única opção para presidente da República da direita chama-se Jair Messias Bolsonaro". Ela disse que, se isso não acontecer, será "o verdadeiro golpe que o Judiciário está dando no povo de bem, no povo brasileiro".

No mesmo evento, Michelle disse que o marido "tem vivido dias muito difíceis". Segundo ela, Bolsonaro sofre de soluços desde que passou pela última cirurgia. "Ele chega a exaustão, ele tem vários problemas de saúde decorrente dessa última cirurgia, por ele não ter tido tempo para se recuperar, paz de espírito para se recuperar, um ambiente favorável", afirmou.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 9, que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe", em um sinal indireto às ameaças promovidas pelo governo dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".

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"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

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Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

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