O plano de Donald Trump para o fim da guerra na Ucrânia pode dar certo? Entenda

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Antes de Donald Trump retornar para a Casa Branca, ele disse que poderia acabar com a guerra na Ucrânia em 24 horas após a sua posse. Dez meses depois, Trump não cumpriu sua promessa, mas também não desistiu dela. Após reviravoltas e mudanças de posições do republicano, Trump parece ter conseguido engajar russos, ucranianos e a União Europeia (UE) em volta da mesa de negociação para buscar um acordo.

O caminho ainda é longo e as conversas devem se arrastar pelos próximos meses, mas o presidente americano acredita que vai conseguir encerrar o conflito mais longo no continente europeu desde a 2ª Guerra Mundial.

Diferente do ex-presidente Joe Biden, que nunca buscou dialogar com os russos, Trump não escondeu sua afinidade com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, mesmo sob uma saraivada de críticas. Ele estendeu o tapete vermelho e chamou Putin para Anchorage, no Alasca, em um evento com pompas e visto em todo o mundo, em agosto.

A reunião acabou sem acordo, assim como as oito conversas por telefone entre os dois líderes e as cinco visitas do enviado especial Steve Witkoff a Moscou. Mas após intermediar a trégua entre Israel e o grupo terrorista Hamas, o republicano decidiu tentar acabar com a guerra na Ucrânia mais uma vez.

Ele permitiu que Witkoff e seu genro Jared Kushner formulassem um novo plano de 28 pontos após reuniões com Kirill Dmitriev, um enviado de Putin, em Miami, no final de outubro e Rustem Umerov, o principal conselheiro de segurança nacional do presidente ucraniano Volodmir Zelenski.

Apesar dos assessores americanos terem se reunido com emissários de Kiev, o plano formulado por eles foi considerado uma "total capitulação" para os ucranianos e atende às principais demandas de Putin. "Trump está pressionando a Ucrânia para conseguir a paz e isso pode dar certo, mas levará a problemas posteriores", aponta Angelo Segrillo, professor de História Contemporânea da USP e especialista em Rússia. "Ele está tentando usar suas táticas de negociação de oferecer um plano com posições maximalistas para depois reduzir as exigências e chegar em algo mais aceitável".

Negociações

O plano mais alinhado ao Kremlin daria garantias a Moscou de que Kiev não entraria na Otan, além de uma promessa de que a aliança militar não se expandiria para mais perto da fronteira russa. A fórmula de paz também limitaria o tamanho do Exército ucraniano e exigiria a cessão das regiões ucranianas de Donetsk e Luhansk, que Moscou não controla totalmente.

A fórmula foi criticada por aliados europeus e pela Ucrânia e até Putin não concordou com 100% dele, sinalizando que o plano poderia ser uma "base" para o acordo, mas sem definições, principalmente por conta da possibilidade do uso de fundos russos congelados para reconstruir a Ucrânia - a única demanda favorável a Kiev no plano.

Para Charles Kupchan, analista do Council on Foreign Relations e professor de relações internacionais da Universidade de Georgetown, Trump merece os créditos por seu esforço em engajar todas as partes para negociar o fim do conflito, mas seus métodos foram problemáticos. "Trump tem razão em exigir negociações, porque a Ucrânia não consegue vencer essa guerra, mas a forma como esse processo foi conduzido foi péssimo".

Além da oposição ucraniana, o plano de 28 pontos seria muito ruim para a União Europeia, que quer participar da negociação e não pode ser vista como fraca perante Washington e Moscou. "A Europa está preocupada em se manter relevante no mundo e não quer capitular frente a Trump novamente, como fez com o acordo comercial", avalia Vinicius Rodrigues Vieira, professor de relações internacionais da FGV-SP.

Depois de contatos com a equipe de Trump, oficiais do bloco europeu se reuniram com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, em Genebra e conseguiram mover o pêndulo da fórmula de paz para condições mais favoráveis a Kiev e Bruxelas.

A proposta foi encurtada de 28 para 19 pontos e agradou os ucranianos. A exigência de Trump de que a Ucrânia assinasse um acordo até o final de novembro também foi deixada de lado, mas pontos-chave, como as demandas territoriais russas, uma mudança constitucional que exclui a possibilidade de adesão ucraniana à Otan e a natureza exata da garantia de segurança dos Estados Unidos ainda precisam ser discutidos.

A única certeza é que a Rússia não aceitaria a versão do plano modificado pelos europeus e ucranianos e novas negociações devem acontecer. O enviado especial do governo Trump, Steve Witkoff, vai se reunir com Putin em Moscou na segunda-feira, 1º, e o secretário do Exército dos EUA, Daniel Driscoll, se reuniria com os ucranianos para consultas sobre o novo plano.

"É muito difícil encontrar uma paz que seja satisfatória para ambos os lados", avalia Segrillo. "Um caminho possível é um acordo similar à trégua entre Coreia do Sul e Coreia do Norte. É difícil ter uma paz duradoura, a menos que Trump obrigue Kiev a aceitar um acordo totalmente desfavorável".

Apesar de se dizer aberto a negociar com Trump, Putin também está preparado para continuar a guerra. Mesmo com elevadas perdas no campo de batalha e as dificuldades econômicas por conta das sanções, o líder russo acredita que pode continuar ganhando terreno com o objetivo de forçar Kiev a aceitar mais exigências antes de um acordo.

Analistas ucranianos que conversaram com a revista britânica The Economist apontam que Putin não estará pronto para negociar até o final do inverno no Hemisfério Norte, em fevereiro. Nessa data, o líder russo terá que decidir se irá lançar uma rodada mais ampla de recrutamento e a economia russa deve começar a sentir mais a queda das receitas de petróleo e o efeito das sanções.

Durante uma visita ao Quirguistão, o presidente russo afirmou que Moscou só interromperia a sua ofensiva se as forças ucranianas se retirassem de áreas não especificadas que estão sob o controle de Kiev. "Se as tropas ucranianas deixarem os territórios que ocupam, então pararemos de lutar," ele disse. "Se não, alcançaremos nossos objetivos militarmente."

Para o presidente russo, é necessário anexar totalmente as províncias de Luhansk, Donetsk, Zaporizhia e Kherson para vender uma imagem de vitória perante o seu público interno. "Putin quer sempre sair vitorioso e está sendo pressionado internamente para só parar a guerra quando conseguir a anexação total desses territórios", avalia Vieira, da FGV-SP.

Putin também deseja que Kiev faça parte da esfera de influência russa e deve ser totalmente contrário à entrada da Ucrânia na Otan. "Putin enxerga a Rússia como uma grande potência. Da mesma forma que os EUA não querem o México em uma aliança militar hostil, Moscou também quer ter o seu quintal e preservar sua influência nele", aponta Segrillo.

Momento político e militar expõe Kiev

O momento político e militar da Ucrânia permite que Putin não modere suas demandas. Kiev está perdendo território em um ritmo acelerado e tem pouco dinheiro e soldados. Além disso, diversos aliados de Zelenski estão enfrentando acusações de corrupção, entre eles seu braço direito Andrii Yermak, que renunciou ao cargo de chefe de gabinete do presidente na sexta-feira, 28, depois que unidades anticorrupção realizaram buscas em sua casa.

Em meio ao fraco desempenho militar, a Ucrânia não deve conseguir recuperar território para negociar uma melhor posição com Moscou. A intenção de Zelenski era congelar as linhas atuais no campo de batalha em um eventual acordo de paz, sem ter que se retirar de territórios.

Antes de sair do cargo, Yermak afirmou em entrevista à revista americana The Atlantic que o presidente ucraniano não iria assinar um acordo em que Kiev tivesse que desistir de territórios.

"Acredito que o único cenário em que a Ucrânia aceita um acordo de paz nas condições da Rússia é uma eventual mudança de governo", destaca Vieira. "Apenas um eventual sucessor de Zelenski poderia ter uma política de apaziguamento com os russos".

Já Kupchan, do Council on Foreign Relations, diz que uma solução negociada poderia incluir a retirada de Kiev dos territórios que Moscou quer controlar na região do Donbass em troca da permissão para entrar na Otan.

"A Ucrânia poderia fazer esse acordo se tivesse garantias de que pode ser um país totalmente soberano, independente e capaz de tomar suas próprias decisões sobre o futuro", aponta o professor de Georgetown.

Dúvidas sobre o acordo

Apesar dos esforços de Trump, questões significativas seguem distanciando as demandas russas e ucranianas e a própria equipe trumpista tem visões diferentes sobre como prosseguir. De um lado estão Witkoff e o vice-presidente americano JD Vance, que querem chegar a um acordo que favoreça mais a Rússia e priorize os interesses comerciais americanos, e do outro está o secretário de Estado Marcio Rubio, que tem uma visão mais profissional da diplomacia.

O tema se tornou mais delicado depois que a Bloomberg publicou na terça-feira, 25, gravações que mostram conversas telefônicas entre Witkoff e Yuri Ushakov, assessor de política externa do Kremlin. Nas conversas, o enviado especial americano parece ter instruído Ushakov sobre como Putin deveria abordar Trump durante as negociações.

Apesar de críticas do Congresso americano, o presidente dos EUA classificou o episódio como "normal". "Existe uma ala do governo Trump que está muito focada em acabar com a guerra para que Trump possa se voltar para questões internas e JD Vance é o líder dessa coalizão", aponta Kupchan, do Council on Foreign Relations. "A outra ala é liderada por Rubio, que é mais tradicional e internacionalista. Trump gosta desse mix de ideias diferentes, mas, no fim das contas, ele manda em todos eles e se alguém questioná-lo será demitido".

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A Fundação Perseu Abramo, entidade ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT), sugere, em uma cartilha com diretrizes sobre segurança pública, a criação de uma Guarda Nacional Permanente de Caráter Civil e um programa nacional de policiamento de proximidade, como o implementado no Rio de Janeiro durante as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), na gestão Sérgio Cabral.

Cerca de um mês após a operação mais letal da história do País, que deixou 121 mortes nos complexos da Penha e do Alemão, a fundação lançou no Rio de Janeiro uma série de propostas sobre segurança às vésperas de mais um ano eleitoral. Uma delas é a criação da Guarda Nacional ou Força Nacional de Caráter Civil para substituir "gradativamente" o emprego das Forças Armadas por meio das operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

"A criação da Guarda Nacional Permanente de Caráter Civil, uniformizada, portanto, ostensiva, deverá ser realizada com a apresentação de uma PEC que altere o art. 144 da CF. O resultado seria a ampliação dos órgãos que compõem a segurança pública, com a criação de uma nova instituição policial da União para atuar em todo território nacional, em especial nas Fronteiras e na Amazônia Legal. Com a Guarda Nacional Permanente de Caráter Civil, gradativamente não será mais necessário o emprego das Forças Armadas por meio das operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO)", diz a cartilha.

Recriação do Ministério da Justiça

A fundação sugere ainda a recriação do Ministério da Segurança Pública, extinto no início de 2019 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As atribuições da pasta foram incorporadas à pasta da Justiça.

"Com a criação do MSP, os seguintes órgãos deverão integrar a estrutura do futuro ministério: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícia Penal, Força Nacional e a Secretaria Nacional de Segurança Pública - Senasp", diz.

Dividida em seis eixos, a cartilha faz críticas às operações ostensivas "como as realizadas no Rio de Janeiro": "Precisam ir além da troca de tiros com criminosos", diz um trecho.

O presidente do PT, Edinho Silva, afirmou que o partido não vai incorporar o "discurso da maioria da sociedade", favorável às operações.

"A sociedade quer um programa de segurança pública. É um direito do trabalhador e da trabalhadora. A menina ou menino que parcela o celular em 36 vezes não pode ter o celular roubado. Se a segurança afeta de forma tão direta e tem incomodado a sociedade temos que enfrentar esse tema e termos propostas. Um partido como o nosso não pode ter medo e disputar a opinião pública. Não podemos ser um partido que se acovarda diante de temas centrais. Não podemos abrir mão daquilo que nós trouxe até aqui para fazer coro ao senso comum. Não podemos bater palma para 121 corpos negros estiradas no chão", disse.

Segundo ele, o Estado deve ter "vergonha" do que aconteceu no Rio. "Aqueles jovens e adolescentes estirados no chão mostra que o Estado falhou. Nós perdemos para o crime organizado e devemos ter vergonha do que aconteceu. Não podemos fazer coro", diz.

A cartilha com as diretrizes sobre segurança foi um pedido da ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais).

Modelo UPP em todos os Estados

A fundação retoma um conceito implementado pelo governador Sérgio Cabral (MDB), em 2008: o policiamento comunitário ou de proximidade, como as UPPs - tese defendida pelo ex-ministro da Justiça Tarso Genro (PT) - em todos os Estados do País.

"O governo federal deve induzir os Estados e o DF para que implementem Policiamento de Proximidade, na lógica da Política Nacional de Segurança Pública. Uma das alternativas de contrapartida para receber recursos do FNSP por exemplo , é propor aos estados a criação de Batalhões de Policiamento de Proximidade nas Polícias Militares. O Policiamento de Proximidade além de reduzir a letalidade policial, diminui os crimes relacionados à circulação de pessoas que criam sensação de insegurança como furto e roubo de celulares", diz a cartilha da fundação.

De acordo com Edinho Silva, as UPPs deram certo no início, mas se desvirtuaram com o passar do tempo.

"Foi uma experiência exitosa aqui no Rio de Janeiro. Depois ela (UPP) foi perdendo a sua força e foi perdendo a sua convicção inicial da sua criação. Eu não tenho nenhuma dúvida que não existe política de segurança pública eficaz se não tiver a ocupação do território. O território precisa ser ocupado. As comunidades precisam ser libertadas do da opressão do crime organizado. Então, precisa ter ocupação de território por meio de uma polícia preparada para isso e também por meio de programas sociais", disse.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que a reunião do colégio de líderes marcada para esta terça-feira, 2, discutirá a proposta de emenda à Constituição conhecida como "PEC da Segurança Pública", apresentada pelo governo para integrar as forças de segurança.

As declarações ocorreram nesta segunda-feira, 1º, durante a celebração do 134º aniversário do 1º Batalhão de Polícia de Choque "Tobias de Aguiar" (Rota), em São Paulo. Motta também afirmou que o relator da matéria, Mendonça Filho (União-PE), deve apresentar o seu parecer na comissão especial na quinta-feira, 4.

"Quero ainda esta semana poder começar a discutir o texto final da PEC da Segurança Pública. O texto deverá começar a ser discutido amanhã com colegas de líderes, na próxima quinta-feira apresentada na comissão especial", afirmou. Motta também disse querer aprovar a PEC da Segurança no plenário da Câmara antes do recesso legislativo.

Na ocasião, Motta voltou a defender o "PL Antifacção" e disse que o relator do projeto, Guilherme Derrite (PP-SP), "promoveu a resposta mais dura já dada ao crime organizado no País". O presidente da Câmara mencionou ainda a expectativa de que o Senado aprecie a matéria nesta semana.

O deputado citou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao falar da construção do texto. "O meu agradecimento ao governador Tarcísio e a todos que fazem a Polícia Militar do Estado de São Paulo, porque nós construímos juntos essa matéria. Sem dúvida alguma, deixará um grande legado para a segurança pública", disse. Na sequência, o parlamentar disse que a Câmara "permanece de portas abertas para dialogar e colaborar com o Estado de São Paulo no aprimoramento das políticas de segurança pública".

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), chegou no fim da manhã desta segunda-feira, 1, à celebração do 134º aniversário do 1º Batalhão de Polícia de Choque Tobias de Aguiar (Rota) na cidade de São Paulo. Seu nome está na lista de lideranças que devem ser homenageadas no evento.

Também estão presentes na cerimônia o governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos); o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL); o secretário de Segurança Pública paulista, Guilherme Derrite (PP); o presidente da Assembleia Legislativa, André do Prado (PL); e o vice-prefeito da capital, coronel Mello Araújo (PL). Trata-se do último evento de Derrite enquanto líder da pasta. Ele deve retornar à Câmara dos Deputados nos próximos dias e será substituído pelo delegado Osvaldo Nico Gonçalves, que fez carreira na Polícia Civil e é o atual número 2 da pasta.

O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), também está entre as autoridades que devem ser homenageadas.

O comparecimento de Motta ocorre em meio à escalada de tensão com o governo federal e o rompimento com o líder do PT na Casa, Lindbergh Farias. Também pesa o aumento na projeção da pauta de segurança pública no debate nacional após a megaoperação no Rio, capitalizada por governadores de direita. Tarcísio e Derrite também angariaram a aprovação do projeto de lei Antifacção, cuja relatoria foi concedida ao deputado licenciado por Motta.