O que é a World Central Kitchen e como ela ajudou as pessoas em Gaza?

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A instituição de caridade World Central Kitchen, ou Cozinha Central Mundial, fundada pelo famoso chef José Andrés, determinou a suspensão dos trabalhos na Faixa de Gaza depois que um ataque israelense matou sete de seus funcionários, a maioria estrangeiros.

 

O grupo, que afirmou que em breve tomará decisões sobre seus planos de longo prazo na região, vem levando alimentos desesperadamente necessários para a população de Gaza, que enfrenta fome generalizada, e esteve à frente da recente iniciativa de entregar ajuda humanitária por via marítima, saindo de Chipre. Sua ausência, mesmo temporária, provavelmente aprofundará a miséria no território devastado pela guerra, ao mesmo tempo em que a ONU alerta que a fome em massa é iminente.

 

Reunimos informações sobre o trabalho da organização em Gaza e o que sua ausência poderia significar:

 

O QUE É A WORLD CENTRAL KITCHEN?

 

Fundada em 2010, a World Central Kitchen entrega refeições preparadas na hora para pessoas em necessidade após desastres naturais, como furacões e terremotos, ou para aquelas em zonas de conflito. O grupo também já forneceu refeições aos migrantes que chegam pela fronteira sul dos EUA, e também às equipes dos hospitais que trabalharam sem descanso durante a pandemia do coronavírus.

 

A organização humanitária envia equipes em condições de preparar refeições que agradem ao paladar local, em grande escala e com rapidez.

 

"Quando se fala em água e comida, as pessoas não querem uma solução daqui a uma semana, daqui a um mês. A solução precisa ser agora", diz Andrés, de acordo com uma citação no site do grupo.

 

A World Central Kitchen já trabalhou em dezenas de áreas afetadas e atualmente tem equipes no Haiti, atende às necessidades dos ucranianos desalojados pela invasão russa, e fornece refeições às pessoas atingidas pela guerra em Gaza.

 

O QUE ELA FEZ DURANTE A GUERRA EM GAZA?

 

Equipes da organização se espalharam pela região desde que militantes liderados pelo Hamas atacaram o sul de Israel em 7 de outubro, e ao longo de toda a guerra que isso desencadeou. A organização alimentou israelenses desalojados pelo ataque e também ex-reféns, segundo seu próprio site, além das pessoas no Líbano desabrigadas pelo combate contra Israel. Mas o trabalho em Gaza tem sido o mais exigente.

 

Eles dizem já ter fornecido mais de 43 milhões de refeições aos palestinos em Gaza.

 

Foram montadas duas cozinhas principais, uma na cidade de Rafah, ao sul, e outra na cidade de Deir al-Balah, na região central. O grupo oferece suporte a 68 cozinhas comunitárias por todo o território, que servem mais de 170 mil refeições quentes por dia. O trabalho foi intensificado durante o Ramadã, o mês sagrado em que os muçulmanos tradicionalmente jejuam do nascer ao pôr do sol e depois fazem uma farta refeição, com a distribuição de 92 mil caixas de alimentos, ou cerca de 4,7 milhões de refeições.

 

A organização também forneceu refeições por lançamentos aéreos e organizou o envio de dois carregamentos marítimos levando centenas de toneladas de alimentos para o norte de Gaza, onde a emergência alimentar é mais aguda.

 

Em uma entrevista à Associated Press em fevereiro, Andrés atribuiu às entregas da organização o mérito por levarem os EUA a declarar que iriam construir uma doca flutuante para entrega de ajuda humanitária a Gaza por via marítima.

 

"Acho que isso foi uma conquista nossa", disse ele.

 

O QUE A AUSÊNCIA DA ORGANIZAÇÃO SIGNIFICA PARA A POPULAÇÃO DE GAZA?

 

Com a suspensão imediata do trabalho da World Central Kitchen, dezenas de milhares de refeições diárias deixarão de ser distribuídas.

 

Após o ataque letal, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Chipre informou que os navios de ajuda humanitária que chegaram a Gaza esta semana retornarão ao país insular do Mediterrâneo com cerca de 240 toneladas de ajuda não entregue. Cerca de 100 toneladas já foram descarregadas, segundo o porta-voz.

 

Outras organizações de ajuda humanitária ainda estão no local oferecendo assistência aos palestinos, incluindo a ONU. Mas os grupos dizem que os suprimentos não estão chegando com velocidade suficiente, e depois que entram em Gaza, a entrega é dificultada por problemas logísticos e pelos combates constantes. Israel nega que haja escassez de alimentos em Gaza, e culpa a ONU e outros grupos de ajuda humanitária por não conseguirem aumentar as entregas dentro do território.

 

A World Central Kitchen estava à frente dos dois carregamentos marítimos que chegaram a Gaza até agora. Não ficou claro de que forma o corredor marítimo continuaria sem a organização, mas o presidente de Chipre declarou na terça-feira que mais ajuda humanitária poderia ser enviada a Gaza saindo de Chipre "até o fim do mês", quando os EUA concluírem a construção de uma doca flutuante ao largo da costa do território palestino.

 

O presidente Nikos Christodoulides declarou que os envios de ajuda entre Chipre e Gaza "continuarão enquanto houver necessidades humanitárias".

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) a cumprir pena em prisão domiciliar. Segundo a defesa, o ex-presidente ficará em Maceió.

A decisão tomada nesta quinta-feira, 1º, levou em consideração a idade e os problemas de saúde do ex-presidente. "A necessidade de tratamento específico admitem a concessão de prisão domiciliar humanitária", escreveu Moraes.

Collor terá que usar tornozeleira eletrônica e só poderá receber visitas de advogados, de médicos e da família. Moraes determinou a suspensão do passaporte do ex-presidente.

A defesa pediu a prisão domiciliar humanitária alegando que Collor enfrenta comorbidades graves e depende de medicamentos de uso contínuo.

Ao ser ouvido na audiência de custódia - horas depois de ser preso na madrugada de sexta passada, 25 -, no entanto, o ex-presidente negou ter problemas de saúde ou tomar remédios.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi a favor da prisão domiciliar "excepcional". Em parecer enviado ao STF, Gonet afirmou que a defesa comprovou a "gravidade" do quadro de saúde de Collor.

Por exigência de Moraes, os advogados tiveram que apresentar histórico médico, prontuários, laudos e exames que atestassem os problemas de saúde do ex-presidente.

O ministro afirma na decisão que houve a "constatação real da presença progressiva de graves sintomas não motores e motores" da Doença de Parkinson, "inclusive histórico de quedas recentes".

"A compatibilização entre a Dignidade da Pessoa Humana, o Direito à Saúde e a efetividade da Justiça Penal indica a possibilidade de concessão da prisão domiciliar humanitária à Fernando Affonso Collor de Mello, pois está em tratamento da Doença de Parkinson - há, aproximadamente, 6 (seis) anos", diz a decisão.

Collor foi preso para cumprir a condenação de 8 anos e 6 meses em um processo da Operação Lava Jato. Collor foi considerado culpado pelo recebimento de R$ 20 milhões em propinas da UTC Engenharia em troca do direcionamento de contratos de BR Distribuidora. Ele está detido no Presídio Baldomero Cavalcanti de Oliveira, em Maceió.

A prisão foi decretada por Alexandre de Moraes e depois confirmada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal. O ministro considerou que não há mais recursos possíveis para reverter a condenação do ex-presidente e que os pedidos da defesa agora são apenas "protelatórios".

O líder do PDT na Câmara dos Deputados, Mário Heringer (MG) critica a condução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na crise que envolve o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o tratamento dado ao ministro da Previdência, Carlos Lupi. Segundo ele, a demissão do chefe da pasta também poderia levar à saída da bancada da base.

"Eu defendo essa posição (a saída). Minha bancada, até onde sei, todos defendem essa posição. É claro que não depende só exclusivamente de mim, mas essa é a posição que defenderei", afirmou.

Na avaliação dele, o governo vem adotando posição duvidosa na condução da crise. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, defendeu a permanência de Lupi no governo, mas afirmou que se houver algo no futuro, será afastado. Poucas horas após essa entrevista, Lula nomeou o procurador federal Gilberto Waller Junior como novo presidente do INSS, sem consultar Lupi.

"A entrevista da Gleisi foi salomônica. Ela fala que o governo vai manter o ministro e logo embaixo o ministro desqualifica o ministro fazendo a indicação do presidente do INSS sem ter conversado com Lupi antes. Se ele acreditasse na nossa posição, chamaria o Lupi junto e indicariam juntos", disse Heringer.

Para o líder do PDT na Câmara, o governo deveria assumir parte da responsabilidade, e não jogá-la apenas a Lupi.

"Na verdade, quem indica é o ministro, mas quem aprova é a Casa Civil. Lupi indicou, mas vocês assinaram embaixo". afirmou. "Essa responsabilidade é que o governo deveria entender que tem na indicação, e ter trabalhado junto conosco junto na defesa da posição do ministro. Isso é uma posição de extremo constrangimento."

Na semana passada, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram uma operação que identificou um esquema de cobranças irregulares que soma R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, segundo a PF.

No processo, 11 entidades associativas foram alvo de medidas judiciais. Em troca dos descontos mensais, elas afirmam que prestam serviços dos mais diversos tipos, como assistência funerária, consultas médicas e "maridos de aluguel" (reparos em residências). A operação levou à queda o ex-presidente do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanutto, indicado por Lupi.

Nesta quarta-feira, 31, a Justiça Federal decretou a quebra do sigilo das comunicações pessoais e corporativas de Stefanutto e mais seis ex-integrantes do alto escalão da autarquia sob suspeita de envolvimento com o esquema.

Na Câmara, a pressão sobre o governo e sobre Lupi crescem. Também na quarta-feira, a oposição protocolou um requerimento pedindo a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as fraudes. Cabe ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), abrir ou não a CPI.

Em audiência na Câmara nesta terça-feira, o ministro da Previdência, Carlos Lupi se defendeu e disse que não houve ações sobre as fraudes agora sob investigação em governos passados e afirmou que já está aparecendo quem são os mentores.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho (PT), disse nesta quinta-feira, 1.º, que a permanência do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), no cargo passa por uma avaliação das condições políticas do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resiste a demitir o aliado e quer mostrar que o centro da crise está no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

Lupi está acossado desde a semana passada pelo escândalo bilionário dos descontos indevidos nos benefícios recebidos por aposentados e pensionistas, que veio à tona após uma operação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU).

Marinho fez a declaração para a imprensa ao chegar ao ato de 1.º de Maio promovido pelas centrais sindicais na zona norte de São Paulo. Ao contrário de anos anteriores, Lula não participou do evento após o baixo comparecimento no ato de 2024.

De acordo com Marinho, quando há troca de ministro "não necessariamente" o motivo é o cometimento de alguma ilegalidade.

"A condição política pode determinar a continuidade ou não (do ministro do cargo). O que o governo está fazendo é dar instrumento ao ministro Lupi, primeiro, mostrar capacidade de resolver os problemas. Hoje, tem um novo presidente do INSS, que é a instituição principal para solucionar esses problemas. Então, o ministro tem em mãos todas as ferramentas para virar essa chave. Vai depender agora da funcionalidade, da velocidade dessas soluções", disse Marinho.

Como mostrou o Estadão, Lula determinou uma intervenção no INSS e escolheu na quarta-feira, 30, o procurador federal Gilberto Waller Júnior como novo presidente do órgão. Ele substitui Alessandro Stefanutto, indicado de Lupi que pediu demissão após ser afastado pela operação da PF.

Um dos objetivos da intervenção determinada por Lula é mostrar a origem do esquema, que, de acordo com a Polícia Federal, começou no governo de Jair Bolsonaro.

Este ponto foi reforçado por Luiz Marinho ao chegar ao evento das centrais sindicais. "Esse fato começou em 2019, no governo anterior. Houve ali a criação de uma quadrilha para prejudicar os aposentados e pensionistas. À medida que se descobriu, o governo determinou a apuração rigorosa. Doa a quem doer, nós vamos até o fim da apuração e quem dever tem que pagar", disse.

Macêdo diz que não há nada que 'desabone' conduta de Lupi

Ao discursar no ato em São Paulo, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, disse que quem tinha que ser preso, afastado ou demitido assim o foi. Em entrevista, Macêdo afirmou que "até o presente momento" não há nada que "desabone" a conduta de Lupi.

Uma das críticas ao ministro da Previdência Social é a demora em agir após ser informado em 2023 sobre o aumento de denúncias de descontos não autorizados nas aposentadorias e pensões - Lupi nega ter sido omisso e argumenta que ordenou uma apuração sobre o caso, concluída em 2024.

"Ele (Lupi) ou qualquer outro ministro se cometer algum ato que não seja correto está sujeito a ser demitido pelo presidente da República. Reafirmo o que já foi dito pelos autos: não tem nenhum envolvimento do ministro. Portanto, ele tem condição de conduzir sua pasta fazendo as investigações internas que têm que ser feitas", disse Macêdo.

Lula diz que seu governo descobriu fraude no INSS

No pronunciamento feito na quarta-feira em rede nacional de rádio e TV, para comemorar o Dia do Trabalhador, 1.º de Maio, Lula afirmou que foi seu governo quem descobriu a fraude no INSS."Determinei à Advocacia-Geral da União que as associações que praticaram cobranças ilegais sejam processadas e obrigadas a ressarcir as pessoas que foram lesadas", disse o presidente.

Mesmo assim, aliados do presidente defendem a demissão de Lupi, mas o presidente resiste a trocar o aliado para manter o discurso que a crise está concentrada no INSS e para não perder a aliança com o PDT.

A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), defendeu a permanência do pedetista no cargo e afirmou que não há nada contra ele no inquérito da Polícia Federal.

"O presidente (Lula) sempre é muito cauteloso em relação à presunção de inocência. Eu acho que ele (Lupi) está fazendo as explicações, se defendendo. E, obviamente, se tiver alguma coisa que no futuro venha a envolvê-lo, aí não só ele, como qualquer outro ministro, será afastado", disse Gleisi, em entrevista à GloboNews na quarta-feira.

Na tentativa de conter os danos, a pasta anunciou que parte do dinheiro desviado dos aposentados e pensionistas será devolvido na próxima folha de pagamento. A equipe de Lula ainda tenta encontrar, porém, um instrumento legal para ressarcimento de todo o montante. Pelos cálculos da Polícia Federal, os valores descontados irregularmente, de 2019 a 2024, chegam a R$ 6,3 bilhões.