STF nega pedido de Bolsonaro em caso que poderia anular investigações sobre golpe e joias

Política
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A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia negou o pedido da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para anular a investigação sobre a inserção de dados falsos de vacinação contra a covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde. Caso a ministra aceitasse a argumentação, outros casos envolvendo o ex-chefe do Executivo poderiam ser impactados.

A apuração resultou na prisão preventiva do tenente-coronel Mauro Cid, em maio de 2023, e no indiciamento do próprio Bolsonaro. A decisão foi divulgada no sábado, 1º.

A defesa de Bolsonaro argumentou pela anulação da investigação em duas frentes. Primeiro, questionou a atuação do ministro Dias Toffoli, alegando que ele teria escolhido de forma irregular o ministro Alexandre de Moraes para a relatoria do inquérito das fake news, o que, segundo os advogados, permitiu a Moraes concentrar múltiplas investigações sob sua relatoria. Procurada, a defesa do ex-presidente não se manifestou até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.

Entre os inquéritos subsequentes ao das fake news, sob o comando de Moraes, está o das milícias digitais, que forneceu elementos para outras investigações, como o esquema de fraude no registro de cartões de vacinação contra a covid-19, formalmente designado como Petição 10.405, além da suposta trama golpista e do desvio das joias sauditas, revelado pelo Estadão - investigações nas quais Bolsonaro foi indiciado.

Todos esses casos ficaram sob a relatoria de Moraes com base na regra da conexão, segundo a qual, quando há vínculo entre os fatos investigados, a competência para julgar os processos deve permanecer com o mesmo magistrado. Dessa forma, a partir do inquérito das fake news, Moraes assumiu, por prevenção, a relatoria de outras investigações devido ao elo probatório entre os casos. Assim, não foi necessário sortear novos relatores quando esses processos chegaram ao STF, como ocorre normalmente. Para a defesa de Bolsonaro, essa condução representou uma manobra para evitar o sorteio e manter os casos sob a relatoria de Moraes, comprometendo a imparcialidade na condução dos processos.

Em outra frente, os advogados argumentaram que a Petição 10.405 foi instaurada de forma sigilosa e sem a devida manifestação do Ministério Público, como prevê o sistema processual penal, funcionando, na prática, como uma espécie de "inquérito paralelo" conduzido por Moraes. Isso porque, em regra, uma Petição (PET) no STF é um procedimento utilizado para formalizar pedidos administrativos ou processuais, como o encaminhamento de documentos, sem características investigativas. No entanto, a defesa alegou que a PET 10.405 foi usada para conduzir investigações próprias e sigilosas, com medidas típicas de um inquérito, como a produção de provas, violando o devido processo legal.

Foi justamente a partir das provas colhidas na investigação sobre a fraude no cartão de vacinação que, em maio de 2023, a Polícia Federal deflagrou a Operação Venire, resultando na prisão de Mauro Cid - ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro -, além de buscas e apreensões contra outros envolvidos, incluindo assessores e ex-membros do governo do ex-presidente. Na sequência, ainda preso, Cid fechou um acordo de delação premiada em setembro de 2023, posteriormente homologado pelo STF, o que deu origem a novas investigações e reforçou apurações já em andamento.

Apesar das alegações da defesa, a ministra entendeu que não há demonstração de ilegalidade nos atos praticados por Toffoli e Moraes, argumentando que a distribuição da relatoria e a condução das investigações seguiram os critérios adotados pelo STF, especialmente a regra de conexão entre os inquéritos.

Cármen Lúcia também apontou questões formais não cumpridas pela defesa, incluindo o uso inadequado do mandado de segurança, que não pode substituir um recurso contra decisões judiciais, como pretendiam os advogados de Bolsonaro. Além disso, mesmo que esse tipo de ação fosse cabível, a ministra ressaltou que o pedido foi apresentado fora do prazo legal de 120 dias, previsto para ações como o mandado de segurança, o que levou à rejeição do pedido.

Caso a ministra aceitasse a argumentação da defesa de Bolsonaro, isso poderia resultar não apenas na invalidação da investigação sobre a fraude nos cartões de vacinação, mas também comprometer outras apurações conexas, como a suposta trama golpista e o desvio das joias sauditas, todas pelas quais Bolsonaro é indiciado. Como essas investigações compartilham elementos de prova e foram conduzidas sob a regra da conexão, o reconhecimento de alguma irregularidade poderia abrir brechas para questionar a legalidade de outros processos.

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O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, disse neste domingo, 2, ao presidente do Panamá, José Raúl Mulino, que o país deve reduzir a presença chinesa na região do Canal do Panamá ou poderá enfrentar retaliações do governo de Donald Trump, segundo comunicado do Departamento de Estado americano.

A Casa Branca considera que a atuação de empresas chinesas nos portos que cercam o canal compromete a neutralidade da via, transferida ao Panamá em 1999. Durante a reunião em Cidade do Panamá, Rubio afirmou que o presidente dos EUA já fez uma "determinação preliminar" de que a influência chinesa viola o tratado que rege a administração do canal. "O secretário Rubio deixou claro que esse status quo é inaceitável e que, sem mudanças imediatas, os Estados Unidos terão de tomar medidas para proteger seus direitos sob o tratado", afirmou o Departamento de Estado.

O governo panamenho minimizou o risco de um impasse com Washington. "Não vejo uma ameaça real ao tratado e sua validade", disse Mulino, após o encontro. Ele reconheceu que a presença da China nos portos que dão acesso ao canal preocupa os EUA, mas destacou que a concessão da empresa Hutchison Ports, responsável pela operação, está sendo auditada e pode ser revisada. Mulino também anunciou que o Panamá não renovará sua adesão à Iniciativa do Cinturão e Rota da China, acordo que busca expandir a influência econômica de Pequim pelo mundo por meio de investimentos em infraestrutura.

A visita de Rubio ocorre em meio a uma escalada na política externa de Trump na América Latina, com aumento da pressão sobre aliados regionais. No sábado (1º), os EUA impuseram tarifas de 25% sobre importações do México e do Canadá e elevaram em 10% os impostos sobre produtos chineses, provocando retaliações imediatas.

Rubio também cobrou do Panamá maior cooperação no controle da imigração e no combate ao tráfico de drogas, agradecendo Mulino pelo compromisso de reforçar as deportações de migrantes. Segundo o Departamento de Estado, os EUA estudam rever a suspensão de programas de assistência externa na América Central, mas detalhes sobre eventuais exceções ainda não foram divulgados.

O encontro gerou protestos em Cidade do Panamá, onde cerca de 200 manifestantes carregaram bandeiras panamenhas e cartazes contra a presença de Rubio. Alguns participantes queimaram um banner com imagens do secretário de Estado e de Trump, antes de serem bloqueados por forças de segurança no caminho para o Palácio Presidencial. Rubio seguirá viagem para El Salvador, Costa Rica, Guatemala e República Dominicana nos próximos dias.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou neste domingo que o Canadá deveria se tornar o "precioso 51º Estado" de seu país.

Como argumento, Trump diz que os EUA pagam "centenas de bilhões de dólares para subsidiar o Canadá" e que, "sem esse subsídio massivo, o Canadá deixa de existir como um país viável".

O presidente disse ainda que os EUA não precisam de nada que o Canadá tenha. "Temos energia ilimitada, deveríamos fazer nossos próprios carros, e temos mais madeira do que jamais poderemos usar", afirmou, em rede Truth Social, neste domingo, 2.

"Portanto, o Canadá deveria se tornar nosso precioso 51º Estado. Muito menos impostos, e proteção militar muito melhor para o povo do Canadá - e sem tarifas!"

Tarifas

Os Estados Unidos anunciou tarifas de 25% sobre importações do Canadá a partir de terça-feira, 4, com exceção dos recursos energéticos (petróleo, gás natural e eletricidade), que terão tarifa de 10%.

O país também anunciou tarifa de 25% sobre produtos do México e uma tarifa adicional de 10% sobre produtos da China.

Em retaliação, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou taxas de 25% sobre até US$ 155 bilhões (R$ 903 bilhões) em importações dos EUA.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, afirmou neste domingo que o presidente russo, Vladimir Putin, "teme negociações diretas com a Ucrânia" e, por isso, "sinaliza desesperadamente que quer conversar - não conosco, mas com (o presidente dos EUA, Donald) Trump, com a América".

"Em sua mente, isso (negociar diretamente com a Ucrânia) significaria derrota e fraqueza. Em vez disso, ele insiste na velha narrativa de que esta é uma guerra entre o Ocidente e a Rússia - porque admitir que está perdendo para a Ucrânia é insuportável para ele", escreveu na rede social X.

Segundo Zelenski, conversas entre Rússia e Trump, sem a Ucrânia, "não levarão a resultados". O presidente ucraniano acrescenta que "se o presidente Trump e eu discutirmos etapas concretas para terminar esta guerra, e definirmos claramente o caminho a seguir - então, talvez depois disso, ele possa conversar com os russos".

Zelenski defende que "quaisquer conversas entre EUA e Rússia sobre a Ucrânia sem a Ucrânia são perigosas", argumentando que se o mundo fizer concessões a Putin e permanecer impune diante da guerra, uma mensagem perigosa seria enviada: a de que agressão funciona. "Outros líderes autoritários verão que ele destruiu a soberania da Ucrânia e saiu impune."