Moraes decreta prisão de Carla Zambelli

Política
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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decretou nesta quarta-feira, 4, a prisão preventiva da deputada Carla Zambelli (PL-SP). A decisão atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). De acordo com Moraes, a parlamentar tentou "se furtar da aplicação da lei penal" ao deixar o Brasil 20 dias após ter sido condenada pelo STF. Segundo a assessoria da deputada, ela estava na Flórida (EUA).

 

"Após a sua condenação, com a fuga do distrito da culpa, a ré declarou que pretende insistir nas condutas criminosas, para tentar descredibilizar as instituições brasileiras e atacar o próprio estado democrático de direito, o que justifica, plenamente, a decretação de sua prisão preventiva", disse o ministro do STF.

 

Moraes mandou bloquear os passaportes de Zambelli, inclusive o documento diplomático que a deputada possui em razão do cargo, e incluir o nome dela na lista de difusão vermelha da Interpol - da qual fazem parte 196 países - para viabilizar uma extradição (mais informações nesta página).

 

Outra determinação do ministro é para que a Câmara suspenda o pagamento de "vencimentos e quaisquer outras verbas" destinados ao gabinete de Zambelli. A decisão prevê também o bloqueio de transferências, inclusive por meio de Pix, de veículos e de canais e perfis nas redes sociais. Antes de sair do Brasil, a deputada disse ter arrecadado pelo menos R$ 285 via Pix - as doações, afirmou, vieram de apoiadores.

 

A deputada anunciou nesta terça, 3, que está fora do Brasil e que pretende pedir licença do mandato para viver na Europa, onde vai denunciar o que considera abusos do Supremo. Não há registros da saída dela do País. Ontem, ela afirmou que há uma "escalada autoritária" no Brasil (mais informações nesta página).

 

'Intuito'

 

"Lamentavelmente, o intuito criminoso de Carla Zambelli permanece ativo e reiterado, insistindo a condenada - mesmo que de modo atabalhoado e confuso - na divulgação de notícias fraudulentas, no ataque à lisura das eleições e nas agressões ao Poder Judiciário", diz outro trecho da decisão de Moraes. O ministro fixou multa diária de R$ 50 mil por publicações que "reiterem as condutas criminosas".

 

Zambelli foi condenada pela Primeira Turma do STF a dez anos de prisão, em regime inicial fechado, e à perda do mandato parlamentar pela invasão hacker aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A pena imposta só não começou a ser cumprida porque há recursos pendentes.

 

A deputada do PL responde ainda a um processo criminal na Corte por perseguir, com uma pistola, um homem na véspera do segundo turno das eleições de 2022. Zambelli é ré por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo.

 

O líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), cobrou ontem que o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), se manifeste "com firmeza e urgência" sobre a ordem de prisão. Para ele, a decisão de Moraes é um "ataque frontal à Constituição".

 

"Qualquer omissão nesse sentido significará não apenas a conivência com mais um atropelo, mas a renúncia, por parte desta Casa, de sua própria autoridade e de suas prerrogativas institucionais", declarou Zucco, em nota.

 

Alegação

 

Como argumento para ter deixado o País, Zambelli alegou que sofre perseguição judicial por questões políticas. Para o doutor em Direito Constitucional e em Direito de Estado e Justiça Social Fernando Capano, o amplo acesso da deputada ao direito de se defender na Justiça enfraquece essa alegação.

 

"Carla Zambelli teve acesso ao processo, se defendeu, foi interrogada. Tivemos o amplo direito de defesa. Ainda que se possa alegar uma eventual perseguição, me parece que este argumento é fraco", afirmou Capano.

 

Pedido de inclusão em lista da Interpol será analisado na França

 

O pedido de prisão preventiva da deputada Carla Zambelli (PL-SP) determinado ontem pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), inclui também outras medidas impostas contra a agora foragida da Justiça brasileira.

 

Uma delas é que o nome de Zambelli seja incluído na lista de difusão vermelha da Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol. Essa lista auxilia a cooperação internacional para um foragido ser extraditado e responder por crimes aos quais já foi condenado ou para ser julgado pela Justiça daquele país.

 

O pedido para ter um nome incluído na lista deve ser feito pela Justiça do país interessado e é analisado na sede da organização, em Lyon, na França. A infração em questão deve ser um crime grave de direito comum e há condições que impedem a inclusão de nomes, como questões políticas, religiosas, culturais, militares ou raciais.

 

O sistema internacional de alerta foi criado em 1946 e funciona como um banco de dados, com nome, foto, nacionalidade, descrição das características físicas e crimes aos quais o foragido responde na Justiça. Ele serve para alertar as polícias de todos os países-membros. (COLABORARAM KARINA FERREIRA, PEPITA ORTEGA E VICTOR OHANA)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo neste domingo, 9. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso do presidente dos EUA, Donald Trump, para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. A fala distorcida de Trump foi exibida no programa Panorama de 3 de novembro de 2024, a uma semana das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Em sua rede social, a Truth Social, Donald Trump celebrou a demissão de quem chamou de "jornalistas corruptos". "Essas são pessoas muito desonestas que tentaram manipular as eleições presidenciais. Para piorar, vêm de um país estrangeiro, um que muitos consideram nosso principal aliado. Que terrível para a democracia!", postou.

A ministra britânica da Cultura, Lisa Nandy, havia classificado horas antes como "extremamente grave" a acusação contra a BBC por apresentar declarações de Trump de maneira enganosa.

"É um dia triste para a BBC. Tim foi um excelente diretor-geral durante os últimos cinco anos", afirmou o presidente da Corporação Britânica de Radiodifusão, Samir Shah, em comunicado. Ele acrescentou que Davie enfrentava "pressão constante (...) que o levou a tomar a decisão" de renunciar.

Colagem de trechos separados levou a versão distorcida do discurso

O caso, revelado na terça-feira, 4, baseia-se em um documentário exibido uma semana antes das eleições presidenciais dos EUA de 2024. A BBC é acusada de ter montado trechos separados de um discurso de Trump de 6 de janeiro de 2021 de forma que parece indicar que ele teria dito a seus apoiadores que marchariam com ele até o Capitólio para "lutar como demônios".

Na versão completa, o então presidente republicano - já derrotado nas urnas pelo democrata Joe Biden - diz: "Vamos marchar até o Capitólio e vamos incentivar nossos valentes senadores e representantes no Congresso."

A expressão "lutar como demônios" corresponde, na verdade, a outro momento do discurso.

Em carta enviada ao conselho da BBC e publicada no site, a CEO de notícias disse que a polêmica em torno do programa Panorama sobre o presidente Trump chegou a um ponto em que está prejudicando a BBC - uma instituição que ela adora.

Já Tim Davie, diretor-geral, disse que abdicou ao cargo após intensas exigências pessoais e profissionais de gerir o posto ao longo de muitos anos nestes "tempos turbulentos".

Um dia antes do início oficial da COP30 em Belém, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou em sua rede social, a Truth Social, nesta domingo, 9, uma mensagem dizendo que a Amazônia foi destruída para a construção de uma estrada.

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Junto com a mensagem, Trump postou um vídeo de quatro minutos da Fox News, com uma reportagem do enviado da emissora a Belém para cobrir a COP30.

Na reportagem, o editor Marc Morano diz, com uma imagem de Belém ao fundo, que mais de 100 mil árvores foram cortadas na Amazônia para construir a estrada e mostrar como o "governo brasileiro está cuidando da floresta tropical".

Ainda na reportagem postada por Trump, o jornalista destaca que pela primeira vez não há uma delegação oficial dos Estados Unidos em uma conferência das Nações Unidas sobre o clima desde 1992. Mesmo países europeus estão deixando esses compromissos de lado, ressalta o jornalista.

A reportagem fala ainda da queda das vendas de carros elétricos e de demissões em fábricas nos Estados Unidos.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse há pouco que a BBC alterou seu discurso de 6 de janeiro de 2021, dia da invasão ao Capitólio, e celebrou a demissão de "pessoas muito desonestas que tentaram influenciar uma eleição presidencial".

"As principais pessoas da BBC, incluindo TIM DAVIE, o CHEFE, estão todas se demitindo/DEMITIDAS, porque foram pegas 'alterando' meu excelente (PERFEITO!) discurso de 6 de janeiro. Além de tudo, eles são de um país estrangeiro, que muitos consideram nosso Aliado Número Um. Que coisa terrível para a Democracia!", escreveu o republicano na Truth Social.

A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo nesta trade. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso de Trump para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio.