Lula decide exonerar o número 2 da Abin; PF intima general Heleno

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu ontem o diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alessandro Moretti. A dispensa ocorreu um dia após a operação da Polícia Federal que fez buscas em endereços do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho de Jair Bolsonaro. Moretti é muito ligado ao ex-presidente. Diligências da PF indicaram que tanto ele como outros integrantes da cúpula da Abin dificultaram as apurações e estariam agindo em conluio com servidores investigados.

 

O Estadão apurou que o novo diretor adjunto será Marco Cepik, diretor da Escola de Inteligência da Abin, responsável pela formação, capacitação e aperfeiçoamento dos profissionais da agência.

 

No relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal que serviu de base para a Operação Vigilância Aproximada, a PF diz que Moretti, ainda no governo Bolsonaro, se reuniu com servidores e afirmou que a investigação sobre "Abin paralela" tinha "fundo político e iria passar".

 

Com sua saída, é cada vez mais forte a pressão para que Lula demita toda a cúpula da Abin e reformule radicalmente a instituição. Nos bastidores, ministros do STF cobram do presidente a substituição do diretor da agência, Luiz Fernando Corrêa. Os magistrados dizem não ver explicação para o fato de Corrêa ter escalado Moretti, conhecido por suas ligações com Bolsonaro, para ser seu braço direito na Abin. Dois desses ministros fizeram chegar ao Palácio do Planalto a avaliação de que Corrêa tem "responsabilidade política".

 

Movimento semelhante ocorre também no Congresso. "É uma situação política grave", admitiu o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). "A Abin deve passar por uma profunda reformulação e deixar de ser polícia política, que fica bisbilhotando adversários. Do jeito que está, a agência virou um SNI secreto", emendou o deputado, numa referência ao Serviço Nacional de Informações, que funcionou na época da ditadura militar.

 

Heleno

 

Ontem, a PF intimou o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), para prestar depoimento no caso. A Abin fez parte da estrutura administrativa do GSI enquanto Heleno esteve no cargo. A agência passou para a Casa Civil em março de 2023, já no governo Lula. O Estadão entrou em contato com o general, que não se manifestou sobre a intimação.

 

Influência

 

A PF investiga se, mesmo fora da Abin, o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) tinha acesso aos sistemas da instituição e atendia a pedidos da família Bolsonaro. A apreensão com o parlamentar de um notebook e um celular da agência é vista como indício desse fluxo de informações.

 

Ramagem chefiou a Abin de julho de 2019 a março de 2022, quando deixou o cargo para se candidatar a deputado. A Abin disse ao Estadão que não deu falta dos equipamentos e que a responsabilidade de devolver o material era do então diretor. A agência alega que ele perdeu acesso aos sistemas quando se desligou. Ramagem disse em entrevista à GloboNews que os dispositivos não eram usados há mais de três anos.

 

Outro indício, de acordo com os investigadores, é o pedido feito por uma assessora de Carlos Bolsonaro para conseguir dados de inquéritos. A servidora diz a uma auxiliar de Ramagem que precisa "muito de uma ajuda", informa o número das investigações e acrescenta que elas envolveriam o "PR (presidente da República) e 3 filhos".

 

A conversa ocorreu em 11 de outubro de 2022, mais de seis meses após Ramagem deixar a Abin. Por isso, a PF busca descobrir se ele usou clandestinamente suas credenciais para acessar os sistemas de inteligência. Outra hipótese é de que ele tenha se valido de aliados na Abin para conseguir informações. Sete policiais federais que auxiliavam Ramagem no órgão foram afastados por determinação do STF.

 

Peça central das investigações, o programa espião First Mile foi usado 60.734 vezes no período alcançado pela apuração. O relatório do ministro do STF Alexandre de Moraes afirma que, em outubro de 2020, mês em que se realizaram eleições municipais, foram realizadas 30.344 consultas ao sistema, mais da metade do total.

 

Vídeo

 

Carlos Bolsonaro prestou depoimento ontem por uma hora na superintendência da PF no Rio. A audiência atendeu a pedido do diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues. O depoimento não teve relação com a "Abin paralela", mas com postagem que ele fez em agosto do ano passado com críticas à atuação da PF.

 

Também ontem, o vereador postou vídeo no X mostrando como ficou sua casa no Rio após as buscas e apreensão. Nas imagens, é possível ver móveis com portas e gavetas abertas e itens em cima do aparador e do sofá, como cabos e caixas de equipamentos eletrônicos. (COLABORARAM PEPITA ORTEGA, FAUSTO MACEDO, KARINA FERREIRA E RAYANDERSON GUERRA)

Em outra categoria

Mais de 10 pessoas morreram nesta terça-feira, 29, após confrontos em um subúrbio da capital da Síria entre combatentes drusos e grupos pró-governo, disseram um monitor de guerra e um grupo ativista. Os dados de vítimas, no entanto, ainda são imprecisos.

Homens armados drusos sírios entraram em confronto nas últimas semanas com forças de segurança do governo e homens armados pró-governo no subúrbio de Jaramana, no sul de Damasco.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, afirmou que pelo menos 10 pessoas foram mortas, quatro delas agressores e seis moradores de Jaramana. O coletivo de mídia ativista Suwayda24 afirmou que 11 pessoas foram mortas e 12 ficaram feridas. Outros relatos indicam até 14 mortos.

Os confrontos começaram por volta da meia-noite de segunda-feira, 28, depois que uma mensagem de áudio circulou nas redes sociais em que um homem estaria criticando o profeta Maomé.

O áudio foi atribuído ao clérigo druso Marwan Kiwan. Mas ele afirmou em um vídeo postado nas redes sociais que não era responsável pelo áudio, o que irritou muitos muçulmanos sunitas.

"Nego categoricamente que o áudio tenha sido feito por mim", disse Kiwan. "Eu não disse isso, e quem o fez é um homem perverso que quer incitar conflitos entre partes do povo sírio."

Na terça-feira à noite do horário local, representantes do governo e autoridades de Jaramana chegaram a um acordo para encerrar os conflitos, indenizar as famílias das vítimas e trabalhar para levar os perpetradores à justiça, de acordo com uma cópia do acordo que circulou em Jaramana e foi vista pela Associated Press.

Não ficou imediatamente claro se a trégua será mantida por muito tempo, já que acordos semelhantes no passado fracassaram posteriormente.

O Ministério do Interior afirmou em comunicado que estava investigando o áudio, acrescentando que a investigação inicial demonstrou que o clérigo não era responsável. O ministério pediu à população que cumpra a lei e não aja de forma a comprometer a segurança.

A liderança religiosa drusa em Jaramana condenou o áudio, mas criticou duramente o "ataque armado injustificado" no subúrbio. Instou o Estado a esclarecer publicamente o ocorrido.

"Por que isso continua acontecendo de tempos em tempos? É como se não houvesse um Estado ou governo no comando. Eles precisam estabelecer postos de controle de segurança, especialmente em áreas onde há tensões", disse Abu Tarek Zaaour, morador de Jaramana.

No final de fevereiro, um membro das forças de segurança entrou no subúrbio e começou a atirar para o alto, o que levou a uma troca de tiros com homens armados locais, resultando na sua morte. Um dia depois, homens armados vieram do subúrbio de Mleiha, em Damasco, para Jaramana, onde entraram em confronto com homens armados drusos, resultando na morte de um combatente druso e no ferimento de outras nove pessoas.

Em 1º de março, o Ministério da Defesa de Israel disse que os militares foram instruídos a se preparar para defender Jaramana, afirmando que a minoria que prometeu proteger estava "sob ataque" pelas forças sírias.

Os drusos são um grupo minoritário que surgiu como um desdobramento do ismaelismo, um ramo do islamismo xiita, no século X. Mais da metade dos cerca de 1 milhão de drusos em todo o mundo vive na Síria. A maioria dos outros drusos vive no Líbano e em Israel, incluindo as Colinas de Golã, que Israel conquistou da Síria na Guerra do Oriente Médio de 1967 e anexou em 1981.

Desde janeiro de 2025, o poder na Síria está nas mãos de um governo de transição liderado pelo presidente interino Ahmed al-Sharaa, líder da coalizão islamista que em janeiro derrubou o regime do presidente Bashar al-Assad, agora no exílio. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta terça-feira, 29, que seu governo está se preparando para conversas com os Estados Unidos sobre novas sanções à Rússia, afirmando que é importante continuar a exercer pressão sobre as redes de influência de Moscou, bem como sobre todas as suas operações de fabricação e comércio.

"Estamos identificando exatamente os pontos de pressão que empurrarão Moscou de forma mais eficaz para a diplomacia. Eles precisam tomar medidas claras para acabar com a guerra, e insistimos que um cessar-fogo incondicional e total deve ser o primeiro passo. A Rússia precisa dar esse passo", escreveu o canal oficial de Zelensky no Telegram.

Além disso, o líder ucraniano enfatizou que o país está se esforçando para sincronizar suas sanções da forma mais completa possível com todas as da Europa.

Divergências apresentadas pelo Egito e pela Etiópia à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas impediram a divulgação de um comunicado conjunto após a reunião de ministros das Relações Exteriores do Brics. Em vez disso, foi divulgada nesta terça-feira, 29, uma declaração da presidência do grupo de ministros, ocupada atualmente pelo Brasil. Houve consenso nos demais temas debatidos.

O texto diz que os ministros presentes à reunião, que ocorreu nesta segunda e terça-feira no Palácio do Itamaraty, na região central do Rio de Janeiro, "apoiaram uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e a aumentar a representação de países em desenvolvimento nos quadros de membros do Conselho".

As mudanças teriam como objetivo uma resposta adequada "aos desafios globais prevalecentes" e apoiar "as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo Brasil e Índia, de desempenhar um papel mais relevante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança".

"Reconheceram também as aspirações legítimas dos países africanos, refletidas no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte", acrescenta o texto, que trouxe uma observação mencionando ter havido objeções dos representantes do Egito e Etiópia ao comunicado.

Ambos os países se opõem à eleição da África do Sul como país representante do continente africano. Em coletiva de imprensa, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, negou que tenha havido desacordo ou discordância.

"Não houve nenhum desacordo entre os países com relação às questões do Conselho de Segurança. O que acontece é que cada país tem posições e compromissos assumidos", argumentou Vieira a jornalistas, quando questionado sobre o impacto das divergências regionais no documento final. "Não houve nenhuma discordância, apenas cada país e países membros de grupos regionais, alguns africanos no grupo, apenas declararam suas posições e nós estamos trabalhando para compatibilizar todas as necessidades de cada um desses grupos para a declaração dos chefes de Estado."