Brasil retrocede em ranking global que mede percepção da corrupção

Política
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O Brasil atingiu a segunda pior colocação da história no Índice de Percepção da Corrupção de 2023, produzido pela Transparência Internacional desde 1995. Na pesquisa divulgada nesta terça-feira, 30, o País figura na 104.ª posição entre as 180 nações avaliadas pela entidade. Quanto melhor a posição no ranking, menos corrupto é considerado o território.

 

No ano passado, o Brasil marcou 36 pontos, dois a menos que a nota de 2022. O índice obtido é igual ao de países como Argélia, Sérvia e Ucrânia. Quanto aos vizinhos na América do Sul e na América Central, o Brasil registrou uma avaliação pior do que a do Uruguai (76 pontos), Chile (66), Cuba (42) e Argentina (37).

 

O relatório atribui para cada país uma pontuação que varia do zero, equivalente a "altamente corrupto", a cem, que representa o "muito íntegro". A pior colocada no ranking de 2023 é a Somália, com 11 pontos; na outra ponta, a Dinamarca obteve a melhor avaliação, com 90 pontos. Na última década, a maior nota brasileira foi de 43 pontos, em 2014.

 

Emendas

 

No parecer da Transparência, são mencionados avanços e entraves observados em 2023 para o combate à corrupção no Brasil. Como destaques negativos, a entidade chama a atenção para "o fortalecimento do chamado 'Centrão', através da adaptação e manutenção do esquema do orçamento secreto e loteamento de espaços de poder".

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o orçamento secreto - esquema revelado pelo Estadão - durante a campanha eleitoral de 2022, mas manteve, neste terceiro mandato, o pagamento de emendas parlamentares sem transparência e sem fiscalização na articulação com o Congresso.

 

Supremo

 

A insegurança jurídica também foi citada como um entrave institucional para o combate à corrupção no País. O relatório elaborado pela Transparência Internacional destaca decisões monocráticas do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que, para a entidade, causaram um "imenso impacto sobre a impunidade de casos de corrupção".

 

No ano passado, Toffoli anulou todas as provas do acordo de leniência da Odebrecht e suspendeu multa bilionária aplicada ao grupo J&F. O despacho do ministro abriu caminho para uma possível revisão de acordos fechados por outras empresas que admitiram corrupção e se comprometeram a restituir o erário.

 

De 2012 a 2023, o País perdeu sete pontos na avaliação do combate à corrupção. Para o gerente do Centro de Conhecimento Anticorrupção da Transparência Internacional, Guilherme France, a queda é "significativa". "É um processo histórico que não está circunscrito a um ano apenas. Esse processo acontece a partir de investigações policiais em que ficam evidentes grandes esquemas de corrupção no Estado brasileiro", disse France. "Isso acaba gerando a percepção de que a corrupção aumentou, por ela estar mais evidente."

 

No entanto, segundo France, não foram empreendidos os esforços necessários para administrar essa percepção mais acentuada da corrupção. "O que não vimos acontecer desde 2013, de 2014, foram reformas no sentido de endereçar as causas sistêmicas da corrupção que esses esquemas evidenciaram. O Brasil não avançou em termos de reformas anticorrupção no período", afirmou o gerente da Transparência Internacional.

 

Reforma

 

Em 2023, por outro lado, também houve destaques positivos, conforme a Transparência. Um dos principais avanços do último ano foi a aprovação da reforma tributária, sobre a qual incide "potencial de impacto estrutural anticorrupção", registrou a entidade. A investigação da Polícia Federal que apura suspeita de uma estrutura paralela na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) também representa uma avanço institucional, na avaliação da organização.

 

Em nota divulgada ontem, a Controladoria-Geral da União (CGU), órgão cujas principais atribuições são a prevenção e o combate à corrupção no governo federal, afirma que "trabalha diariamente para identificar e corrigir riscos de corrupção em políticas públicas, contratações e outras ações do Estado".

 

'Complexo'

 

O relatório da Transparência Internacional, segundo a CGU, "reconhece importantes avanços no âmbito do controle social, da transparência e do acesso à informação". O órgão, porém, ressaltou que os resultados da pesquisa "devem ser vistos com cautela". "A corrupção é um fenômeno complexo e nenhum indicador consegue medir todos os seus aspectos." (COLABOROU ZECA FERREIRA)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Mais de 10 pessoas morreram nesta terça-feira, 29, após confrontos em um subúrbio da capital da Síria entre combatentes drusos e grupos pró-governo, disseram um monitor de guerra e um grupo ativista. Os dados de vítimas, no entanto, ainda são imprecisos.

Homens armados drusos sírios entraram em confronto nas últimas semanas com forças de segurança do governo e homens armados pró-governo no subúrbio de Jaramana, no sul de Damasco.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, afirmou que pelo menos 10 pessoas foram mortas, quatro delas agressores e seis moradores de Jaramana. O coletivo de mídia ativista Suwayda24 afirmou que 11 pessoas foram mortas e 12 ficaram feridas. Outros relatos indicam até 14 mortos.

Os confrontos começaram por volta da meia-noite de segunda-feira, 28, depois que uma mensagem de áudio circulou nas redes sociais em que um homem estaria criticando o profeta Maomé.

O áudio foi atribuído ao clérigo druso Marwan Kiwan. Mas ele afirmou em um vídeo postado nas redes sociais que não era responsável pelo áudio, o que irritou muitos muçulmanos sunitas.

"Nego categoricamente que o áudio tenha sido feito por mim", disse Kiwan. "Eu não disse isso, e quem o fez é um homem perverso que quer incitar conflitos entre partes do povo sírio."

Na terça-feira à noite do horário local, representantes do governo e autoridades de Jaramana chegaram a um acordo para encerrar os conflitos, indenizar as famílias das vítimas e trabalhar para levar os perpetradores à justiça, de acordo com uma cópia do acordo que circulou em Jaramana e foi vista pela Associated Press.

Não ficou imediatamente claro se a trégua será mantida por muito tempo, já que acordos semelhantes no passado fracassaram posteriormente.

O Ministério do Interior afirmou em comunicado que estava investigando o áudio, acrescentando que a investigação inicial demonstrou que o clérigo não era responsável. O ministério pediu à população que cumpra a lei e não aja de forma a comprometer a segurança.

A liderança religiosa drusa em Jaramana condenou o áudio, mas criticou duramente o "ataque armado injustificado" no subúrbio. Instou o Estado a esclarecer publicamente o ocorrido.

"Por que isso continua acontecendo de tempos em tempos? É como se não houvesse um Estado ou governo no comando. Eles precisam estabelecer postos de controle de segurança, especialmente em áreas onde há tensões", disse Abu Tarek Zaaour, morador de Jaramana.

No final de fevereiro, um membro das forças de segurança entrou no subúrbio e começou a atirar para o alto, o que levou a uma troca de tiros com homens armados locais, resultando na sua morte. Um dia depois, homens armados vieram do subúrbio de Mleiha, em Damasco, para Jaramana, onde entraram em confronto com homens armados drusos, resultando na morte de um combatente druso e no ferimento de outras nove pessoas.

Em 1º de março, o Ministério da Defesa de Israel disse que os militares foram instruídos a se preparar para defender Jaramana, afirmando que a minoria que prometeu proteger estava "sob ataque" pelas forças sírias.

Os drusos são um grupo minoritário que surgiu como um desdobramento do ismaelismo, um ramo do islamismo xiita, no século X. Mais da metade dos cerca de 1 milhão de drusos em todo o mundo vive na Síria. A maioria dos outros drusos vive no Líbano e em Israel, incluindo as Colinas de Golã, que Israel conquistou da Síria na Guerra do Oriente Médio de 1967 e anexou em 1981.

Desde janeiro de 2025, o poder na Síria está nas mãos de um governo de transição liderado pelo presidente interino Ahmed al-Sharaa, líder da coalizão islamista que em janeiro derrubou o regime do presidente Bashar al-Assad, agora no exílio. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta terça-feira, 29, que seu governo está se preparando para conversas com os Estados Unidos sobre novas sanções à Rússia, afirmando que é importante continuar a exercer pressão sobre as redes de influência de Moscou, bem como sobre todas as suas operações de fabricação e comércio.

"Estamos identificando exatamente os pontos de pressão que empurrarão Moscou de forma mais eficaz para a diplomacia. Eles precisam tomar medidas claras para acabar com a guerra, e insistimos que um cessar-fogo incondicional e total deve ser o primeiro passo. A Rússia precisa dar esse passo", escreveu o canal oficial de Zelensky no Telegram.

Além disso, o líder ucraniano enfatizou que o país está se esforçando para sincronizar suas sanções da forma mais completa possível com todas as da Europa.

Divergências apresentadas pelo Egito e pela Etiópia à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas impediram a divulgação de um comunicado conjunto após a reunião de ministros das Relações Exteriores do Brics. Em vez disso, foi divulgada nesta terça-feira, 29, uma declaração da presidência do grupo de ministros, ocupada atualmente pelo Brasil. Houve consenso nos demais temas debatidos.

O texto diz que os ministros presentes à reunião, que ocorreu nesta segunda e terça-feira no Palácio do Itamaraty, na região central do Rio de Janeiro, "apoiaram uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e a aumentar a representação de países em desenvolvimento nos quadros de membros do Conselho".

As mudanças teriam como objetivo uma resposta adequada "aos desafios globais prevalecentes" e apoiar "as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo Brasil e Índia, de desempenhar um papel mais relevante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança".

"Reconheceram também as aspirações legítimas dos países africanos, refletidas no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte", acrescenta o texto, que trouxe uma observação mencionando ter havido objeções dos representantes do Egito e Etiópia ao comunicado.

Ambos os países se opõem à eleição da África do Sul como país representante do continente africano. Em coletiva de imprensa, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, negou que tenha havido desacordo ou discordância.

"Não houve nenhum desacordo entre os países com relação às questões do Conselho de Segurança. O que acontece é que cada país tem posições e compromissos assumidos", argumentou Vieira a jornalistas, quando questionado sobre o impacto das divergências regionais no documento final. "Não houve nenhuma discordância, apenas cada país e países membros de grupos regionais, alguns africanos no grupo, apenas declararam suas posições e nós estamos trabalhando para compatibilizar todas as necessidades de cada um desses grupos para a declaração dos chefes de Estado."