MPES vê 'indícios veementes' de ligação de juiz com fraudes para pegar herança de mortos

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Preso na Operação Follow The Money, deflagrada na sexta, 9, o juiz Bruno Fritoli Almeida, do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, emitia sentenças em processos supostamente fraudados por uma associação criminosa e mandava liberar valores milionários de contas de pessoas já falecidas sem herdeiros. A suspeita é da Procuradoria-Geral de Justiça capixaba, que viu indícios "veementes" da ligação de Almeida com uma quadrilha após identificar que parte do valor de um alvará de R$ 1,7 milhão, expedido por ordem do magistrado, foi usada para quitar parcela de um rancho de 321 mil metros quadrados em Ecoporanga, município de 25 mil habitantes situado a cerca de 310 quilômetros de Vitória.

A reportagem do Estadão busca contato com a defesa de Fritoli. O espaço está aberto.

A Operação Follow The Money espreita pelo menos outros 15 investigados, além do juiz Bruno Fritoli Almeida. Um outro juiz está sob suspeita também, além de advogados. A ofensiva foi aberta pela Procuradoria-Geral de Justiça do Espírito Santo e mobilizou promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado com apoio da Polícia Militar.

A operação foi autorizada pelo desembargador Sérgio Ricardo de Souza, que decretou o afastamento de Almeida e também determinou a suspensão do porte de armas do magistrado que dispõe de um arsenal em seu nome: uma carabina, uma espingarda, uma pistola e um rifle.

O Ministério Público do Espírito Santo considera que a participação de Bruno Fritoli Almeida no esquema investigado na Follow The Money era de "suma importância".

A Procuradoria aponta "veementes indícios" de que o magistrado assinava despachos em processos que teriam sido fraudados. Em alguns casos, diz a investigação, ele expediu pessoalmente os alvarás para levantamento de valores em contas de pessoas já falecidas, sem acionar o cartório judicial.

Alguns alvarás só foram descobertos após atuação da Corregedoria do Tribunal de Justiça do Espírito Santo que identificou alvarás assinados pelo juiz sem juntada dos respectivos documentos aos autos de processos, "com o intuito claro de impedir a descoberta da fraude".

A investigação da Corregedoria sobre o juiz destacou o fato de os processos envolverem "falecidos, idosos, e em algumas das vezes, viúvos e sem herdeiros" e indicou que um servidor chegou a alertar Almeida sobre possíveis fraudes nos processos.

A avaliação da Procuradoria-Geral de Justiça é a de que os indícios de participação do juiz na associação criminosa sob suspeita foram corroborados pela comprovação da aquisição de um rancho com verbas supostamente oriundas das contas de uma das vítimas do grupo.

A Procuradoria rastreou o dinheiro de um alvará expedido em favor do advogado Veldir José Xavier - alvo de mandado de prisão na Operação Follow The Money - em 17 de janeiro de 2023, no valor total de R$ 1.764.974,25. O valor foi imediatamente transferido para o advogado Ricardo Nunes de Souza, suposto líder do grupo, segundo a investigação.

A Procuradoria diz que Ricardo Nunes de Souza repassou parte do valor, R$ 105 mil, para o pai do vendedor do rancho, quitando a primeira parcela do imóvel de R$ 210 mil. Segundo as investigações, o Rancho Texas contém "uma casa residencial, medindo 6x7 metros, um curral com barracão, área total: 321.203,4 m²"

Ao analisar o caso, o desembargador Sérgio Ricardo de Souza entendeu que o afastamento de Almeida é essencial para o aprofundamento das investigações, considerando a possibilidade de o juiz "eliminar provas físicas e eletrônicas" e a necessidade de se ouvir testemunhas que possuem relação profissional de subordinação e hierarquia com o magistrado.

Para evitar risco de influência em relação a outros investigados, a violação de provas e uma eventual intimidação de testemunhas, o desembargador decretou: "Ante a existência de indícios da prática de crimes pelo magistrado, no desempenho dos cargos e com abuso deles, causando mácula na reputação, credibilidade e imagem do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, estão presentes os requisitos mínimos para o seu afastamento cautelar das funções jurisdicionais."

Ao determinar a suspensão do porte de arma de Almeida, o desembargador citou a necessidade de impedir "qualquer forma de intimidação ou influência indevida sobre as testemunhas".

O desembargador destacou a posição de autoridade de Almeida, enquanto magistrado, apontando que essa condição pode ser "exacerbada pela posse de uma arma".

"É necessário garantir a segurança pessoal das testemunhas, que poderiam sentir-se ameaçadas pela possibilidade de o magistrado portar uma arma de fogo", assinala o desembargador.

Para ele, a suspensão do porte de arma do juiz sob suspeita assegura "um ambiente de maior tranquilidade e confiança, permitindo que as testemunhas contribuam com a verdade dos fatos sem medo de retaliações".

"Dessa forma, a medida cautelar imposta é fundamental para o equilíbrio e a justiça do processo, protegendo os direitos das partes envolvidas e garantindo a integridade das investigações", explicou Sérgio Ricardo de Souza.

COM A PALAVRA, A DEFESA

A reportagem do Estadão busca contato com a defesa do juiz Bruno Fritoli Almeida. O espaço está aberto para manifestação também de outros investigados na Operação Follow The Money, como os advogados Veldir José Xavier e Ricardo Nunes de Souza.

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O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, disse nesta quinta-feira (27) que as forças israelenses permanecerão no Corredor de Filadélfia, uma estreita faixa de deserto no lado de Gaza da fronteira com o Egito, para impedir o contrabando de armas para o Hamas. Em resposta pelo Telegram, o grupo disse que a permanência é "uma clara violação do acordo de cessar-fogo e uma tentativa de criar pretextos para o perturbar".

O Hamas pediu para que a comunidade internacional tome medidas "imediatas e sérias" para que os termos do acordo de paz sejam respeitados. "É preciso trabalhar para evitar que Netanyahu e seu governo criminoso o obstruam e frustrem", escreveu. *Com informações da Associated Press.

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, afirmou que os Estados-membros da União Europeia (UE) devem estar preparados para uma possível contribuição às garantias de segurança que serão necessárias para assegurar uma paz duradoura na Ucrânia. Em uma carta-convite que convoca os integrantes da região para um Conselho Europeu Especial, que acontecerá em 6 de março, ele menciona que a Europa deve se tornar "mais soberana, mais capaz e melhor equipada para lidar com os desafios imediatos e futuros à sua segurança".

"É importante que troquemos ideias sobre como apoiar ainda mais a Ucrânia e sobre os princípios que devem ser respeitados", enfatiza ao mencionar que os países-membros europeus estão prontos para assumir mais responsabilidade pela segurança da Europa.

Segundo Costa, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, foi convidado para a reunião que acontecerá em Bruxelas e será dedicada à defesa europeia e à Ucrânia.

Israel não deve se retirar de um corretor estratégico na Faixa de Gaza, conforme exigido pelo acordo de cessar-fogo, segundo uma autoridade israelense que conversou com a Associated Press (AP) nesta quinta-feira, 27. A recusa de Israel pode desencadear uma crise com o grupo terrorista Hamas e com o Egito, país que atua como um dos principais negociadores da trégua.

O responsável, que conversou sob condição de anonimato, disse que as forças israelenses precisavam permanecer no chamado corredor Filadélfia, uma faixa de terra entre a Faixa de Gaza e o Egito, para evitar o contrabando de armas.

A fonte mencionou a possibilidade horas depois de o Hamas ter libertado os restos mortais de quatro reféns israelenses em troca de mais de 600 prisioneiros palestinos, a última troca da primeira fase do cessar-fogo, que termina neste fim de semana. Conversas sobre a segunda fase da trégua ainda não começaram.

De acordo com o cessar-fogo, Israel deveria se retirar do corredor Filadélfia no próximo sábado, dia 1º, e completar a retirada em oito dias. A possibilidade de Tel-Aviv não se retirar do local ocorre antes de uma visita do enviado para o Oriente Médio do presidente dos Estados Unidos, Steve Witkoff, que foi um dos responsáveis pela primeira fase do acordo.

Corpos são identificados

Os restos mortais de quatro reféns israelenses foram confirmados nesta quinta-feira como sendo de Ohad Yahalomi, Itzhak Elgarat, Shlomo Mantzur e Tsachi Idan, de acordo com o Fórum de Reféns Desaparecidos, que representa as famílias dos sequestrados.

Mantzur, de 85 anos, foi morto no ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, e seu corpo foi levado para o enclave palestino. Israel disse que os outros três foram mortos no cativeiro, sem dar mais detalhes.

"Nossos corações doem ao receber essa notícia amarga", afirmou o presidente de Israel, Isaac Herzog. "Neste momento doloroso, há algum consolo em saber que eles serão sepultados com dignidade em Israel."

Hamas confirma libertação de prisioneiros

O grupo terrorista Hamas confirmou que mais de 600 prisioneiros palestinos foram libertados na quarta-feira, 26. A maioria deles eram de Gaza e retornaram ao enclave palestino. Israel havia atrasado a libertação dos prisioneiros no sábado passado, 22, por conta de uma cerimônia considerada macabra e humilhante do grupo terrorista para a devolução dos corpos de Shiri Bibas, Ariel Bibas, Kfir Bibas e Oded Lifshitz.

Após um acordo com os negociadores, o grupo terrorista entregou os quatro corpos à Cruz Vermelha em Gaza durante a noite, sem cerimônia pública.

Dentre os 600 prisioneiros, 445 eram homens, 21 eram adolescentes e havia uma mulher. Apenas 50 palestinos retornaram à Cisjordânia e dezenas de condenados à prisão perpétua foram exilados.

Trégua em perigo

Após a libertação de 33 reféns nesta primeira fase, em troca de quase 2 mil prisioneiros palestinos, a trégua está em perigo. Witkoff afirmou que gostaria que os dois lados iniciassem as negociações para a segunda fase do cessar-fogo, mas isso ainda não aconteceu.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, prometeu retornar todos os reféns para Israel e destruir as capacidades militares e de governo do Hamas. A administração Trump endossou ambos os objetivos.

O cessar-fogo, mediado pelos Estados Unidos, Egito e Catar, pôs fim a 15 meses de guerra na Faixa de Gaza, que eclodiu após os ataques terroristas do Hamas no dia 7 de outubro de 2023, que resultaram na morte de 1,2 mil pessoas e no sequestro de 250. Este foi o maior ataque terrorista da história de Israel e o maior contra judeus desde o Holocausto.

A ofensiva militar israelense em Gaza, que começou semanas depois do 7 de outubro, já deixou mais de 48 mil mortos, segundo o ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo Hamas e não diferencia civis de terroristas.